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CINEMA
Mostra, com início em maio, pede cópias de filmes nacionais para montar retrospectiva com Glauber Rocha e "Vidas Secas"
Festival de Cannes homenageia o Brasil
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
2004 não só marca o 40º aniversário do golpe militar, mas também os 40 anos da eclosão internacional do cinema novo. A participação do Brasil no Festival de
Cannes de 1964 foi histórica, com
a seleção de "Vidas Secas", de Nelson Pereira dos Santos, e "Deus e
o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, em competição, e de
"Ganga Zumba", estréia de Carlos
Diegues, na Semana da Crítica.
Era -e ainda hoje é- feito raro para as cinematografias periféricas emplacar três produções em
Cannes. A repercussão foi imensa
e, dizem, prêmios oficiais só não
vieram porque dois anos antes "O
Pagador de Promessas" havia recebido uma Palma de Ouro
"apressada" para o cinema novo.
Mas a própria organização de
Cannes quis celebrar o aniversário dessa participação fazendo do
cinema brasileiro um dos centros
do evento de 2004 (o outro será a
África do Sul, que festeja dez anos
da primeira eleição direta).
Além de "Vidas Secas" e de
"Deus e o Diabo", serão exibidos
"Terra em Transe", de Glauber,
"Dona Flor e Seus Dois Maridos",
de Bruno Barreto, "Bye Bye Brasil", de Carlos Diegues, e "Cinema
Falado", de Caetano Veloso. "Limite", de Mario Peixoto, cuja restauração ainda está em andamento, só não será exibido porque a
cópia não ficará pronta a tempo.
A homenagem a Glauber provavelmente se estenderá com a exibição de "Glauber, o Filme - Labirinto do Brasil", de Silvio Tendler.
"A idéia inicial era promover
um dia dedicado ao cinema brasileiro, mas, como são muitos filmes, o foco se espalhou pelos dias
14 e 18 de maio", explica o presidente da Riofilme, José Wilker,
que produz a participação nacional em Cannes. "É importante frisar que a iniciativa e a seleção dos
títulos partiram do festival. Estamos correndo atrás das cópias",
explica. Cannes começa em 12 de
maio, com a première internacional de "La Mala Educación", de
Pedro Almodóvar.
As projeções especiais levarão a
Cannes uma das maiores delegações brasileiras em anos. Nelson
Pereira dos Santos confirma presença, lembrando-se da viagem
de 40 anos atrás. "Fui obrigado a
assinar um termo de compromisso na polícia, garantindo que não
daria declarações que manchassem a imagem do Brasil." Carlos
Diegues voltará com "Bye Bye
Brasil", assim como os produtores do filme, Lucy e Luiz Carlos
Barreto, que também representarão "Dona Flor". José Wilker terá
participação dupla: como presidente da Riofilme e como ator
desses dois últimos filmes.
Entre os dias 14 e 18, haverá ainda uma festa organizada em parceria com o Grupo Novo e o Festival do Rio no hotel Majestic. Existem fortes chances de uma apresentação do ministro da Cultura,
Gilberto Gil. Segundo Wilker, essa presença maciça será um aquecimento para 2005, o ano da cultura brasileira na França, quando
Cannes abrigará um grande Pavilhão do Cinema Brasileiro.
Oficialmente, a organização somente divulgou o presidente do
júri (Quentin Tarantino) e os filmes de abertura e encerramento.
O festival terminará com uma homenagem aos 80 anos dos estúdios MGM, com a première mundial de um musical inspirado na
vida de Cole Porter, seguida de
um show ao ar livre.
A lista completa do festival só
sai no fim de abril, mas revistas
especializadas como "Variety" e
"Screen International" já deram
como certas as participações, em
competição, de "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, e "Assassinos de Velhinhas", refilmagem de "Quinteto da Morte" pelos irmãos Coen com Tom Hanks
no papel que foi de Alec Guiness.
Fora de competição, estão certas
as participações da superprodução "Tróia", com Brad Pitt,
"Shrek 2", "Bad Santa" e "Kill Bill
2", de Tarantino.
No terreno especulativo, é bem
provável que a competição conte
com os novos filmes de Mike
Leigh, Emir Kusturica, Jean-Luc
Godard, Wong Kar-wai, Michael
Moore e Hou Hsiao Hsien.
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