São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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CINEMA

Na abertura do evento, Caetano cantou seu amor pelo diretor, que retribuiu ao dizer que o brasileiro "mudou sua vida"

Cinemateca de Paris homenageia desejo de Almodóvar

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Quando Caetano Veloso subiu ao palco da Cinemateca Francesa, anteontem, para o show de abertura da homenagem a Pedro Almodóvar, estava visivelmente nervoso. Para exorcizar a emoção, cantou o amor numa canção de Vinicius de Moraes.
Pouco antes, foi um Pedro Almodóvar totalmente subjugado quem apresentou o compositor: disse que Caetano mudou sua vida. Entre os VIPs do evento, estavam Jeanne Moreau, Penélope Cruz e Renaud Donnedieu de Vabres, ministro da Cultura francês.
Na visita da exposição, que precedeu o show, podia-se esbarrar em Almodóvar ao lado de Penélope Cruz e Carmen Maura, seguidos de fotógrafos e cinegrafistas. Jeanne Moreau batia papo com Caetano Veloso, os dois quase anônimos na multidão.
A exposição dedicada a Almodóvar é um show de objetos kitsch, misturados com cenas de seus filmes e entrevistas.
Acompanhado do violão, Caetano cantou um repertório eclético, em que misturou canções em espanhol com "Ne me Quitte Pas", que Almodóvar usou em um filme na voz de Maysa. Mais descontraído, no meio do show, disse que três canções resumem o cinema de Almodóvar: "Tu te Laisses Aller", cantada num filme de Godard por Aznavour, uma de Doris Day e uma de um melodrama mexicano. Obviamente, previu "Cucurucucu Paloma" para o fim e voltou com "Coração Vagabundo".
A obra completa do cineasta do desejo, do barroco e da transgressão será exibida na Cinemateca até o próximo dia 30.
"A gente espera que ele nos surpreenda, nos sacuda, nos seduza, nos emocione e nos transporte a seu mundo à parte. Em suma, que seja cada vez mais Almodóvar", diz Frédéric Strauss, autor de um livro sobre o cineasta e um dos curadores da exposição.
Com filmes proibidos nos países islâmicos, não é de admirar que sua produtora se chame El Deseo (o desejo).
"O desejo é realmente o fundamento de seu cinema. É um cinema do desejo dele pelos atores, do desejo pelas histórias, do desejo que circula no interior dos filmes capazes de ir além de todos os tabus, de todas as transgressões: pode ser uma história de amor de um homem em cadeira de rodas, entre dois homens, entre duas mulheres, de um transexual, de uma filha e seu pai. Almodóvar nunca mostra os personagens em posição de vítima. Um personagem vítima de um estupro ou um incesto não se imobiliza, se esforça para se recriar", analisa o curador Matthieu Orléan.
Completam o "kit Almodóvar" dois debates e um catálogo com textos de Marisa Paredes, Antonio Tabucchi, Catherine Millet, Juan Gatti, Caetano Veloso, Pina Bausch, além de Matthieu Orléan e Frédéric Strauss.
Serge Toubiana, diretor da Cinemateca, deu carta branca ao cineasta para uma seleção dos filmes que o inspiraram. Entre eles, Almodóvar selecionou "A Malvada", de Joseph Mankiewicz, "A Besta Humana", de Jean Renoir, e "Rocco e Seus Irmãos", de Luchino Visconti. As 30 obras escolhidas passarão na Cinemateca simultaneamente a seus filmes.


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