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CINEMA
Na abertura do evento, Caetano cantou seu amor pelo diretor, que retribuiu ao dizer que o brasileiro "mudou sua vida"
Cinemateca de Paris homenageia desejo de Almodóvar
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Quando Caetano Veloso subiu
ao palco da Cinemateca Francesa,
anteontem, para o show de abertura da homenagem a Pedro Almodóvar, estava visivelmente
nervoso. Para exorcizar a emoção,
cantou o amor numa canção de
Vinicius de Moraes.
Pouco antes, foi um Pedro Almodóvar totalmente subjugado
quem apresentou o compositor:
disse que Caetano mudou sua vida. Entre os VIPs do evento, estavam Jeanne Moreau, Penélope
Cruz e Renaud Donnedieu de Vabres, ministro da Cultura francês.
Na visita da exposição, que precedeu o show, podia-se esbarrar
em Almodóvar ao lado de Penélope Cruz e Carmen Maura, seguidos de fotógrafos e cinegrafistas.
Jeanne Moreau batia papo com
Caetano Veloso, os dois quase
anônimos na multidão.
A exposição dedicada a Almodóvar é um show de objetos
kitsch, misturados com cenas de
seus filmes e entrevistas.
Acompanhado do violão, Caetano cantou um repertório eclético, em que misturou canções em
espanhol com "Ne me Quitte
Pas", que Almodóvar usou em
um filme na voz de Maysa. Mais
descontraído, no meio do show,
disse que três canções resumem o
cinema de Almodóvar: "Tu te
Laisses Aller", cantada num filme
de Godard por Aznavour, uma de
Doris Day e uma de um melodrama mexicano. Obviamente, previu "Cucurucucu Paloma" para o
fim e voltou com "Coração Vagabundo".
A obra completa do cineasta do
desejo, do barroco e da transgressão será exibida na Cinemateca
até o próximo dia 30.
"A gente espera que ele nos surpreenda, nos sacuda, nos seduza,
nos emocione e nos transporte a
seu mundo à parte. Em suma, que
seja cada vez mais Almodóvar",
diz Frédéric Strauss, autor de um
livro sobre o cineasta e um dos curadores da exposição.
Com filmes proibidos nos países islâmicos, não é de admirar
que sua produtora se chame El
Deseo (o desejo).
"O desejo é realmente o fundamento de seu cinema. É um cinema do desejo dele pelos atores, do
desejo pelas histórias, do desejo
que circula no interior dos filmes
capazes de ir além de todos os tabus, de todas as transgressões: pode ser uma história de amor de
um homem em cadeira de rodas,
entre dois homens, entre duas
mulheres, de um transexual, de
uma filha e seu pai. Almodóvar
nunca mostra os personagens em
posição de vítima. Um personagem vítima de um estupro ou um
incesto não se imobiliza, se esforça para se recriar", analisa o curador Matthieu Orléan.
Completam o "kit Almodóvar"
dois debates e um catálogo com
textos de Marisa Paredes, Antonio Tabucchi, Catherine Millet,
Juan Gatti, Caetano Veloso, Pina
Bausch, além de Matthieu Orléan
e Frédéric Strauss.
Serge Toubiana, diretor da Cinemateca, deu carta branca ao cineasta para uma seleção dos filmes que o inspiraram. Entre eles,
Almodóvar selecionou "A Malvada", de Joseph Mankiewicz, "A
Besta Humana", de Jean Renoir, e
"Rocco e Seus Irmãos", de Luchino Visconti. As 30 obras escolhidas passarão na Cinemateca simultaneamente a seus filmes.
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