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CINEMA
Carla Camurati lança amanhã filme baseado no espetáculo que ficou 11 anos em cartaz com Marco Nanini e Ney Latorraca
"Irma Vap" testa na tela sua fórmula teatral
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma enorme interrogação cerca a estréia, amanhã, de "Irma
Vap - O Retorno", quarto longa-metragem de Carla Camurati.
O filme ocupará 107 cinemas
brasileiros, dobrando uma aposta
que João Falcão perdeu há duas
semanas, quando lançou o longa
"A Máquina" -a de repetir no cinema um grande sucesso teatral.
"A Máquina" chegou à segunda
semana em cartaz com 40 mil espectadores. Em suma, fracassou.
"Irma Vap - O Retorno" tenta
reprisar um sucesso mais estrondoso e mais longevo do que o obtido pela peça de Falcão em 2000.
Estreado em 86 sob direção de
Marília Pêra, o texto "O Mistério
de Irma Vap", de Charles Ludlam,
levou Marco Nanini e Ney Latorraca ao livro "Guinness", dos recordes. É a montagem que ficou
mais tempo em cartaz com o mesmo elenco: 11 anos.
Calcula-se em 2,5 milhões o número de espectadores que aplaudiram Nanini e Latorraca desdobrando-se no palco em oito personagens, para contar a história
do homem que vive o segundo casamento assombrado pelo fantasma da primeira mulher, morta
em circunstâncias obscuras.
As vertiginosas trocas de figurino dos atores eram o grande atrativo da montagem. Eles saíam por
uma porta vestidos de um jeito e,
30 segundos depois, entravam
por outro lado do palco, vestidos
inteiramente diferente.
O equivalente cinematográfico
que Camurati usou para esse entra-e-sai foi o truque de fazer Nanini e Latorraca contracenarem
consigo mesmos em várias cenas.
Surpresa
"Aproveitando a possibilidade
técnica que eu tenho com a imagem, a coisa mais surpreendente
que eu podia fazer não era só multiplicar os dois, fazendo diferentes
personagens, porque isso já foi
feito, mas promover a interação
deles -os personagens se tocam,
se empurram e você fica pensando como isso aconteceu", diz.
O enredo de "Irma Vap - O Retorno" difere do da peça. No filme, o filho de um produtor teatral
que morreu endividado depois de
sucessivos fracassos tenta remontar "Irma Vap", que havia sido o
grande sucesso de seu pai.
Camurati chegou a pensar em
fazer um filme a partir da peça filmada, tal qual era. Desistiu quando pôs a idéia à prova. "Filmamos
um trecho da peça com os dois
[Nanini e Latorraca]. Quando vi o
resultado, tive absoluta certeza de
que aquela linguagem não funcionaria no cinema, por melhor que
a gente conseguisse fazer", diz.
Thiago Fragoso e Fernando Caruso são os atores que, no filme,
ensaiam a remontagem de "O
Mistério de Irma Vap". Camurati
diz que "policiou" Fragoso, habituado ao naturalismo da TV, "para evitar qualquer tipo de melodia
adormecida, aveludada, falsinha,
que a gente tem de usar [na TV],
mas que joga fora no cinema".
Latorraca sentiu "ciúmes e inveja" ao ver os jovens atores lidando
com os papéis que foram seus durante 11 anos. "Eu queria ser novo
de novo. Queria ser jovem como
eles, para começar tudo de novo."
O retorno ao universo de "Irma
Vap" revirou também memórias
de Nanini. "Essa peça tomou um
espaço muito grande na minha vida. Comecei a fazê-la com 38 anos
e passei com ela boa parte dos
meus 40, que são uma época marcante, de grandes decisões."
Enquanto o espetáculo fazia sucesso, os atores e a diretora Marília Pêra desentenderam-se. "Normal", diz Latorraca. Ele afirma
que a desavença foi superada e faz
um paralelo entre Pêra e Camurati. "Tinha de ser de novo uma atriz
e com talento [para dirigi-los]."
Nanini diz que "seria impossível" repetir "Irma Vap" no teatro,
"até porque a idade não é a mesma, o momento não é o mesmo, a
novidade não é a mesma". Mas
diz que "deixar de alguma forma
isso registrado no cinema era um
apelo irresistível". Daí o retorno.
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