São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA

Carla Camurati lança amanhã filme baseado no espetáculo que ficou 11 anos em cartaz com Marco Nanini e Ney Latorraca

"Irma Vap" testa na tela sua fórmula teatral

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma enorme interrogação cerca a estréia, amanhã, de "Irma Vap - O Retorno", quarto longa-metragem de Carla Camurati.
O filme ocupará 107 cinemas brasileiros, dobrando uma aposta que João Falcão perdeu há duas semanas, quando lançou o longa "A Máquina" -a de repetir no cinema um grande sucesso teatral.
"A Máquina" chegou à segunda semana em cartaz com 40 mil espectadores. Em suma, fracassou.
"Irma Vap - O Retorno" tenta reprisar um sucesso mais estrondoso e mais longevo do que o obtido pela peça de Falcão em 2000.
Estreado em 86 sob direção de Marília Pêra, o texto "O Mistério de Irma Vap", de Charles Ludlam, levou Marco Nanini e Ney Latorraca ao livro "Guinness", dos recordes. É a montagem que ficou mais tempo em cartaz com o mesmo elenco: 11 anos.
Calcula-se em 2,5 milhões o número de espectadores que aplaudiram Nanini e Latorraca desdobrando-se no palco em oito personagens, para contar a história do homem que vive o segundo casamento assombrado pelo fantasma da primeira mulher, morta em circunstâncias obscuras.
As vertiginosas trocas de figurino dos atores eram o grande atrativo da montagem. Eles saíam por uma porta vestidos de um jeito e, 30 segundos depois, entravam por outro lado do palco, vestidos inteiramente diferente.
O equivalente cinematográfico que Camurati usou para esse entra-e-sai foi o truque de fazer Nanini e Latorraca contracenarem consigo mesmos em várias cenas.

Surpresa
"Aproveitando a possibilidade técnica que eu tenho com a imagem, a coisa mais surpreendente que eu podia fazer não era só multiplicar os dois, fazendo diferentes personagens, porque isso já foi feito, mas promover a interação deles -os personagens se tocam, se empurram e você fica pensando como isso aconteceu", diz.
O enredo de "Irma Vap - O Retorno" difere do da peça. No filme, o filho de um produtor teatral que morreu endividado depois de sucessivos fracassos tenta remontar "Irma Vap", que havia sido o grande sucesso de seu pai.
Camurati chegou a pensar em fazer um filme a partir da peça filmada, tal qual era. Desistiu quando pôs a idéia à prova. "Filmamos um trecho da peça com os dois [Nanini e Latorraca]. Quando vi o resultado, tive absoluta certeza de que aquela linguagem não funcionaria no cinema, por melhor que a gente conseguisse fazer", diz.
Thiago Fragoso e Fernando Caruso são os atores que, no filme, ensaiam a remontagem de "O Mistério de Irma Vap". Camurati diz que "policiou" Fragoso, habituado ao naturalismo da TV, "para evitar qualquer tipo de melodia adormecida, aveludada, falsinha, que a gente tem de usar [na TV], mas que joga fora no cinema".
Latorraca sentiu "ciúmes e inveja" ao ver os jovens atores lidando com os papéis que foram seus durante 11 anos. "Eu queria ser novo de novo. Queria ser jovem como eles, para começar tudo de novo."
O retorno ao universo de "Irma Vap" revirou também memórias de Nanini. "Essa peça tomou um espaço muito grande na minha vida. Comecei a fazê-la com 38 anos e passei com ela boa parte dos meus 40, que são uma época marcante, de grandes decisões."
Enquanto o espetáculo fazia sucesso, os atores e a diretora Marília Pêra desentenderam-se. "Normal", diz Latorraca. Ele afirma que a desavença foi superada e faz um paralelo entre Pêra e Camurati. "Tinha de ser de novo uma atriz e com talento [para dirigi-los]."
Nanini diz que "seria impossível" repetir "Irma Vap" no teatro, "até porque a idade não é a mesma, o momento não é o mesmo, a novidade não é a mesma". Mas diz que "deixar de alguma forma isso registrado no cinema era um apelo irresistível". Daí o retorno.


Texto Anterior: Cinema: Cinemateca de Paris homenageia desejo de Almodóvar
Próximo Texto: Longa ironiza patrocinadores com morte súbita
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.