São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO
Caso de amor da Globo pede um bom livro

TELMO MARTINO
Colunista da Folha A notícia nos dava conta de que a temporada começaria com a transmissão do "Sai de Baixo" ao vivo. Uma afirmação, no mínimo, duvidosa. Sempre uma comédia de erros, como localizar a verdade? Talvez porque a Cassandra da Aracy Balabanian precisou de uns curativos na cara para marcar sua presença? Nem tanto. Se não for como saco de pancadas, como usá-la até quando gravada?
O programa, não importa a forma, será, apesar das inevitáveis escalas, uma ego-trip do Miguel Falabella, dessa vez com direito a uma rápida visita a Robin Hood ou Hollywod, de acordo com a preferência do momento, para receber seu Oscar das mãos da Sharon Stone que o Tom Cavalcante (sempre numa invenção) entregou. De casaca (Falabella sempre na busca de luxo e riqueza de uma anti-Amélia), ele se mostrou muito feliz, sem um pensamento para a tristeza que a cena poderia provocar em toda a família Barreto. E no desperdício da Rita Lee tão exuberante ao seu lado.
Infinitamente muito mais atraente do que as possíveis celebridades que a Renata Ceribelli (alguém lá em cima gosta dela?) resolveu entrevistar nos intervalos: o monossilábico Casagrande, a funcionária Deborah Bloch, o Milton Nascimento de smoking (a rigor ou a serviço? Músico é sempre uma dúvida) e o Clodovil, que contribuiu com uma piada. "Quando o Tom me imita, estou na Globo. Quem não quer estar lá?" Ele mais do que ninguém.
A casaca era o traje que Caco Antibes usaria para jantar no Titanic. Magda seria um Kate Winslet de pés-de-pato de cores distantes e, alvíssaras, Tom Cavalcante seria o Ribamardo DiCaprio, com uma peruca loura e uma dentadura capaz de cintilar ao brilho da primeira estrela que iluminasse a proa do navio.
Tom Cavalcanti teria muitos traços em seu humor para enriquecer a caricatura. Mas o programa é um corre-corre de vaidades. Se possível mostrando as coxas, a Magda da Marisa Orth tem que anunciar a "idéia genital" que lhe ocorreu, traduzir "a hot day" por arrotei, trocar grinalda por granada e imitar a estrela Lassie após tomar um lexotan.
Vavá, o dono da casa, quer ganhar um dinheirinho filmando casamentos. Sua câmera acaba fotografando filmes pornô, com Aracy Balabanian tomando banho de chuveiro. Mesmo ao vivo, dava para exibir o vídeo. Caco Antibes quer dizer outra vez que odeia pobre. Pobre flutua. Rico afunda, afogado pelo peso do Rolex. E a srta. Ceribelli ainda quer entrevistar o Daniel. De quê?
Se é esse o caso de amor que a Globo propõe, alguém sabe de um bom livro?



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.