São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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Encontro de Dylan e Stones vale o show

LUIZ ANTONIO RYFF
enviado especial a Buenos Aires

Quem foi ao estádio do River Plate em Buenos Aires anteontem à noite viu quatro shows internacionais além dos dois programados de Bob Dylan e Rolling Stones.
O mais inesquecível deles durou apenas sete minutos e juntou o cantor norte-americano aos roqueiros ingleses em apenas uma música: "Like a Rolling Stone", composta por um, gravada pelos outros e ensaiada nos camarins do estádio no intervalo entre as duas apresentações.
Somando mais de um século de rock'n'roll, Dylan, Mick Jagger e o guitarrista Keith Richards levaram os cerca de 50 mil portenhos (65 mil segundo a imprensa, embora só 57 mil lugares estivessem disponíveis) ao delírio neste que foi o quarto dos cinco shows dos Stones em Buenos Aires e o primeiro com Bob Dylan.
O encontro -que já tinha ocorrido em julho de 95, em Montpellier (França), e deve se repetir nos shows do Rio (dia 11) e de São Paulo (dia 13)- valeu o espetáculo.
Tanto que, após o show, a platéia arrefeceu os ânimos. O que poderia superá-lo?
O jogo começou ganho quando Richards apareceu no telão de altíssima definição extraindo de sua fender telecaster o riff de "Satisfaction".
Durante 2h15 de show, os Stones suaram a camisa em 22 músicas -apenas quatro eram do último CD "Bridges To Babylon" ("Flip The Switch", "You Don't Have to Mean it", "Out of Control" e "Saint of Me").
Mas um dos momentos mais quentes foi o show dentro do show, quando uma ponte de cerca de 30 metros conduz o grupo por cima da platéia a um minúsculo palco de 20 metros quadrados no meio do público.
Sem telão, sem luzes computadorizadas, sem o cenário kitsch -que lembra os delírios de um ambiente carnavalesco-, eles voltam aos tempos de garagens em que se espremiam em espaços diminutos tocando apenas rock'n'roll.
Começam com um cover de Chuck Berry, "Little Queenie", e passam por "You Got Me Rocking" e "Respectable" antes de voltar ao palco principal, ao megaespetáculo e aos megassucessos ("Jumpin' Jack Flash", "Start Me Up", "Brown Sugar"...).

Dylan
Antes, o dono da festa foi Dylan. Uma daquelas festas em que o anfitrião faz tudo certo, mas os convidados não ajudam.
Apesar da bagagem folk, Dylan fez um show mais rock'n'roll, como na reconstrução sonora de "Silvio".
Vestido com um terno escuro, ele abriu sua apresentação com "Maggie's Farm", emendou com "Lay, Lady, Lay" e foi encadeando uma série de músicas antigas, sem concessões a frases em "espanglês" ou camisas de times argentinos.
Só desacelerou o ritmo em seus 65 minutos no palco durante o curto set acústico em que tocou "Mr. Tambourine Man". E terminou com "I Shall Be Released", mudando o andamento de rock para blues no fim, levantando a platéia.
Dylan, aliás, fez um espetáculo exemplar para artistas brasileiros que costumam se queixar do tratamento dispensado pelas estrelas internacionais quando fazem shows de abertura.
Não pôde usar o telão dos Stones, nem o jogo de luzes. O palco e a potência do som foram menores. Se foi assim com Dylan, por que haveria de ser diferente com os músicos tupiniquins?


O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite da gravadora Virgin


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