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Encontro de Dylan e Stones vale o show
LUIZ ANTONIO RYFF
enviado especial a Buenos Aires
Quem foi ao estádio do River
Plate em Buenos Aires anteontem
à noite viu quatro shows internacionais além dos dois programados de Bob Dylan e Rolling Stones.
O mais inesquecível deles durou
apenas sete minutos e juntou o
cantor norte-americano aos roqueiros ingleses em apenas uma
música: "Like a Rolling Stone",
composta por um, gravada pelos
outros e ensaiada nos camarins do
estádio no intervalo entre as duas
apresentações.
Somando mais de um século de
rock'n'roll, Dylan, Mick Jagger e o
guitarrista Keith Richards levaram
os cerca de 50 mil portenhos (65
mil segundo a imprensa, embora
só 57 mil lugares estivessem disponíveis) ao delírio neste que foi o
quarto dos cinco shows dos Stones
em Buenos Aires e o primeiro com
Bob Dylan.
O encontro -que já tinha ocorrido em julho de 95, em Montpellier (França), e deve se repetir nos
shows do Rio (dia 11) e de São Paulo (dia 13)- valeu o espetáculo.
Tanto que, após o show, a platéia arrefeceu os ânimos. O que
poderia superá-lo?
O jogo começou ganho quando
Richards apareceu no telão de altíssima definição extraindo de sua
fender telecaster o riff de "Satisfaction".
Durante 2h15 de show, os Stones
suaram a camisa em 22 músicas
-apenas quatro eram do último
CD "Bridges To Babylon" ("Flip
The Switch", "You Don't Have to
Mean it", "Out of Control" e
"Saint of Me").
Mas um dos momentos mais
quentes foi o show dentro do
show, quando uma ponte de cerca
de 30 metros conduz o grupo por
cima da platéia a um minúsculo
palco de 20 metros quadrados no
meio do público.
Sem telão, sem luzes computadorizadas, sem o cenário kitsch
-que lembra os delírios de um
ambiente carnavalesco-, eles
voltam aos tempos de garagens em
que se espremiam em espaços diminutos tocando apenas
rock'n'roll.
Começam com um cover de
Chuck Berry, "Little Queenie", e
passam por "You Got Me Rocking" e "Respectable" antes de
voltar ao palco principal, ao megaespetáculo e aos megassucessos
("Jumpin' Jack Flash", "Start Me
Up", "Brown Sugar"...).
Dylan
Antes, o dono da festa foi Dylan.
Uma daquelas festas em que o anfitrião faz tudo certo, mas os convidados não ajudam.
Apesar da bagagem folk, Dylan
fez um show mais rock'n'roll, como na reconstrução sonora de
"Silvio".
Vestido com um terno escuro,
ele abriu sua apresentação com
"Maggie's Farm", emendou com
"Lay, Lady, Lay" e foi encadeando uma série de músicas antigas,
sem concessões a frases em "espanglês" ou camisas de times argentinos.
Só desacelerou o ritmo em seus
65 minutos no palco durante o
curto set acústico em que tocou
"Mr. Tambourine Man". E terminou com "I Shall Be Released",
mudando o andamento de rock
para blues no fim, levantando a
platéia.
Dylan, aliás, fez um espetáculo
exemplar para artistas brasileiros
que costumam se queixar do tratamento dispensado pelas estrelas
internacionais quando fazem
shows de abertura.
Não pôde usar o telão dos Stones, nem o jogo de luzes. O palco e
a potência do som foram menores.
Se foi assim com Dylan, por que
haveria de ser diferente com os
músicos tupiniquins?
O jornalista
Luiz Antônio Ryff viajou a convite
da gravadora Virgin
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