São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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FOTOGRAFIA Panará são conduzidas pela antropóloga Valéria Parise para acampamento da Funai, em foto que integra o livro "Panará - A Volta dos Índios Gigantes"
Livro retoma saga de "índios gigantes"

EDER CHIODETTO
Editor-adjunto de Fotografia

De repente, um estrondo. Um agouro. Em seguida, uma falsa estrela cadente rasgou o céu sobre a aldeia dos índios Panarás, que rapidamente se armaram de arcos e flechas para combater o invasor. Não o atingiram. Nesse momento, sem saber, trocavam a condição de caçadores pela de caça.
O ano era 1967, e a falsa estrela, um avião A-19, de onde o sertanista Claudio Villas Bôas comandava uma expedição com a intenção de pacificar (?) os índios Panarás, ou Kranhacãrore, ou ainda índios gigantes, já que alguns tinham estatura superior a dois metros.
O local era a divisa entre os Estados do Pará e Mato Grosso, onde urgia a necessidade de construir uma estrada que ligasse o Brasil central ao rio Amazonas e ao mar, a rodovia Cuiabá-Santarém. Era preciso fazer contato com os Panarás e prepará-los para o encontro inevitável com o homem branco. Era o milagre econômico brasileiro se expandindo pelo mapa.
O livro "Panará - A Volta dos Índios Gigantes", que está sendo lançado hoje no Sesc Pompéia, em São Paulo, traz essa saga narrada pelos jornalistas Ricardo Arnt, Lúcio Flávio Pinto, Raimundo José Pinto e com fotografias de Pedro Martinelli, que acompanhou a expedição nos anos 70, quando foi realizado o primeiro contato com os índios, e voltou a encontrar os Panarás em 1995.
Desde a primeira visão que a expedição teve dos Panarás, naquele sobrevôo de 1967, até o primeiro contato, em 1973, a história da perseguição aguçou a curiosidade da imprensa mundial. Os Panarás bem que tentaram evitar esse primeiro contato, provavelmente porque tinham a percepção do que lhes aconteceria. Durante esses seis anos, mudaram inúmeras vezes a localização da aldeia.
Mas o destino estava selado. Dois anos após o fatídico dia em que os Panarás permitiram a aproximação, seduzidos pelos presentes deixados pelo caminho, a tribo, estimada em 600 índios, já havia se reduzido a 79.
Vitimados pela gripe, diarréia e brigas internas, esses poucos que restaram foram transferidos para o Parque Indígena do Xingu. Apenas 25 anos mais tarde, após conhecerem prostituição, doenças, fome e mendicância, conseguiriam retornar para sua terra original. A falsa estrela cadente, de fato, era um péssimo presságio.



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