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FESTIVAL
Subsídio do governo australiano a mostras impõe obras dos autóctones, que "o público não entende", diz gerente
Arte dos aborígenes é presença forçada
DO ENVIADO À AUSTRÁLIA
Os brasileiros estão prestes a fazer o primeiro contato com representantes de tribos de uma civilização milenar que habitava a
Austrália muito antes de o país ser
descoberto pelo explorador inglês
James Cook, em 1770.
Hoje, o governo australiano estima que vivam no país cerca de
352 mil descendentes de aborígenes (a Austrália tem 19,4 milhões
de habitantes). A cultura e a arte
desse povo, dizimado pela colonização européia, passou a ser prioridade governamental há pouco.
Em 95, foi criada uma política
específica de preservação cultural,
com facilidades de financiamento
a projetos que tentem traduzir para os descendentes de europeus
algo dos costumes dos nativos.
O 6º Cultura Inglesa Festival trará três atrações que se beneficiaram dessa política: a exposição
"Season of Kunwinjku", o espetáculo multimídia "Crying Baby" e
o musical "Alice", da descendente
de aborígenes Alice Haines.
"Crying Baby" é o que melhor
sintetiza o tema abordado pela
maioria dos espetáculos feitos por
grupos indígenas: os problemas
que o homem branco introduziu
na vida dos aborígenes.
A Folha assistiu a três atrações
do último Adelaide Festival, no
início de março deste ano: as peças "Love Land and Money" e
"The Career Highlights of the Mamu" e a coreografia "Skin", do
Bangarra Dance Theatre.
Nos três, o europeu (ou o australiano) é mostrado como o mal
("Mamu", por exemplo, significa
Diabo). Terras que foram tiradas
de nativos, problemas de compreensão cultural e novidades importadas pelo mundo dito civilizado (como a introdução do álcool a um povo despreparado e o
vício de inalar petróleo) conduziam os espetáculos.
Uma das principais dificuldades, segundo Rick Shapter, do
Australia Council for the Arts, órgão destinado às artes e ligado ao
governo, é despertar o interesse
dos australianos descendentes de
europeus para esses assuntos.
Como praticamente todos os
festivais de arte do país são, em
parte ou totalmente, patrocinados pelo governo, há uma cobrança para que neles sejam incluídas
atrações da cultura aborígene. É o
que explica Mary-Ellen King, gerente-geral do Melbourne Festival, um dos mais importantes da
Austrália.
"Quando o governo libera o patrocínio do festival, espera que,
entre as atrações, esteja algo da
cultura aborígene. O público não
entende os temas levantados pelo
espetáculo, a procura é pequena e
quem assiste à peça parece prestigiar apenas porque sente pena",
afirma King.
(LEANDRO FORTINO)
O jornalista Leandro Fortino viajou a
convite do Departamento de Relações
Exteriores e Comércio da Austrália
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