São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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EVENTO

Cultura Inglesa começa hoje e apresenta produções de teatro, artes visuais, dança, cinema digital e música eletrônica

Festival dá tom nacional à arte britânica

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

De formato mutante ano a ano, o Cultura Inglesa Festival apresenta a partir de hoje a sua cara 2004, em cuja feição a comunidade britânica figurará como inspiração, e não como a outra ponta no intercâmbio que vinha sendo realizado até então com atrações locais.
Em processo iniciado no final do ano passado, o evento -que chega agora à sua oitava edição- selecionou um total de 15 projetos brasileiros, entre 197 inscritos, que utilizaram um total de R$ 300 mil para a realização de projetos nas áreas de teatro (R$ 28 mil), curta-metragem digital (R$ 24 mil), dança (R$ 24 mil), artes visuais (R$ 20 mil) e música eletrônica (R$ 5.000).
Há sempre um tema que perpassa as atrações do festival, exemplos do ano de 1999, centrado em espetáculos de rua britânicos e brasileiros, e de 2002, quando artistas australianos foram a tônica da programação.
O mote escolhido pela organização do Cultura Inglesa Festival para 2004 foi a produção contemporânea do Reino Unido -mais especificamente as artes desenvolvidas nas ilhas durante a segunda metade do século 20.
"Havia diversas idéias, inicialmente chegamos a pensar em ter [William] Shakespeare como ponto de referência para as produções, mas o eixo foi mudado para o contemporâneo por acreditarmos que havia necessidade de relacionar o festival com o período atual ou próximos dos dias de hoje", afirma Laerte Mello, coordenador do evento.
Para esta oitava edição, o conceito do Cultura Inglesa também explorou o cruzamento entre as áreas, de forma que os espetáculos de dança foram compostos com base nas artes plásticas (e foco no período recortado pela mostra "A Bigger Splash", apresentada há pouco tempo em São Paulo) e as obras visuais brasileiras, por sua vez, tiraram inspiração na poesia e no pensamento britânicos.
Entre os trabalhos que serão apresentados nesses dois campos, o coreógrafo e bailarino Sandro Borelli investigou em "Gárgulas" o conjunto pictórico de Lucian Freud, marcado pela interpretação das angústias existenciais do ser humano, e o artista Alberto Martins elaborou suas esculturas de madeira e ferro a partir do poema "The Ship of Death", de D.H. Lawrence (1885-1930), sobre a relação entre corpo e proximidade da morte.
O teatro, que teve a liberdade de permanecer dentro de seus domínios, sem avançar para outras áreas, apresentou produções com temáticas bastante variadas. "Um Número", dirigido por Bete Coelho e baseado em texto de Caryl Churchill, trata da clonagem humana sob a ótica do relacionamento entre pai e filho. Dirigido por Mario Bortolotto, "Garotas da Quadra", de Rebecca Prichard, narra o ambiente da periferia de Londres a partir de flashbacks de duas internas de um centro de reabilitação.
"Mal Secreto - A Vida Amorosa de Ofélia" é um exercício de imaginação do dramaturgo Steven Berkoff acerca de uma troca de cartas fictícia entre dois personagens shakespearianos. O espetáculo é dirigido por Beth Lopes e tem Clarissa Kiste no elenco.
No campo da música eletrônica, que serve como chamariz para o público mais jovem dentro do festival, os projetos tiveram como guia o drum'n'bass -talvez o ritmo que tem suas batidas mais associadas ao Reino Unido. O coordenador Laerte Mello destaca que o gênero tem entre suas variantes um intercâmbio por si só, dada a influência da música brasileira levada a Londres e a Bristol por DJs como Marky e Patife.
O cinema aparece pela primeira vez no festival, representado pelos curtas-metragens em formato digital. "Quero Ser Jack White" (Charly Braun), "Rê Rê Rêê Rê" (João Landi Guimarães) e "A Corrente" (Marcelo Toledo) utilizaram obras da ficção britânica para compor seus trabalhos.


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