VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Paz e amor, bicho", exclama o pai em mais uma "round" com o filho. O conflito de geração se dá como que ao avesso: rapaz, advogado recém-formado, cobra ordem e adequação de engenheiro "hippie", fiel à filosofia da juventude, à maconha e sobretudo à coleção dos bolachões dos Beatles.
"Yesterday" é a primeira incursão da jornalista Eliana Iglesias, 57, na dramaturgia, ela que teve experiências com a escrita teatral em grupo amador e, durante 12 anos, foi roteirista do infantil "Cocoricó", na TV Cultura.
A origem da peça está no curso de dramaturgia de ator que Iglesias freqüentou com o dramaturgo Chico de Assis, 70. Numa das aulas, Assis propôs o exercícios de uma "cena de crise" sobre uma discussão entre pai e filho motivada por uma coleção de discos. Os atores daquele exercício, Carlos Meceni e André Latorre, são os mesmos do espetáculo que entra em cartaz no teatro Ruth Escobar.
Em "Yesterday", Zeca (Meceni), o pai, e João (Latorre), o filho, se ressentem da ausência de Paula, respectivamente mulher e mãe que partiu há 25 anos. A peça flagra a pressão de João para que Zeca se volte para o presente e esqueça o passado. Está em jogo a aceitação das diferenças. O diálogo evolui para a clareza quanto ao papel de Paula em suas vida.
Chico de Assis optou justamente pelo espaço cênico circular. Quer imprimir um tom mais inimista ao drama.
Após escrever "Yesterday", Iglesias acrescentou origem e destino aos personagens na forma de uma trilogia, "Help" e "Eleanor Rigby", que pretende encenar.