São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2005

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MÚSICA

Fellini, Mercenárias e Akira S & as Garotas que Erraram estão nos álbuns que saem na Alemanha e no Reino Unido

Selos europeus lançam discos de pós-punk brasileiro

RODRIGO CARNEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Duas décadas após ter passado desapercebido pelo grande público, o pós-punk brasileiro é tema de duas compilações internacionais: "Não Wave - Brazilian Post Punk 1982-1988", que acaba de ser lançada na Alemanha pelo selo Man Recordings, e "The Sexual Life of the Savages - Underground Post-Punk from Brazil", da gravadora inglesa Soul Jazz, que chega às lojas do Reino Unido no dia 9.
A gravadora preparou ainda uma edição limitada em vinil de sete polegadas com "Pânico", das Mercenárias, e "Rock Europeu", do Fellini. Em julho, as Mercenárias farão o show oficial de lançamento do álbum na Inglaterra.
"Fui correndo comprar o sete polegadas. Foi a realização de um sonho antigo, o de ter um disco lançado na Inglaterra", diz Thomas Pappon, 44, integrante do Fellini, do Voluntários da Pátria e do Smack, que vive em Londres desde meados da década de 90.
Os discos têm diferenças sutis entre si. "Não Wave", por exemplo, traz em seu repertório uma música inédita do Ira!, "Lá Fora Pode até Morrer"; o punk funk dos cariocas do Black Future; "Prince no Deserto Vermelho", da "superbanda underground" AKT, formada por integrantes dos grupos De Falla (Porto Alegre), R. Mutt (Belo Horizonte), Mercenárias e Bruhaha Babélico (SP); e "Agentss", do Agentss.
"The Sexual Life of the Savages" é mais paulistana e tem a dissonância dark do Smack; "Madame Oráculo do Nau", que revelou Vange Leonel; o groove inventivo do Gueto; dois momentos robustos da Patife Band; a new wave tropical da Gang 90 & Absurdettes; Cabine C, de Ciro Pessoa, um dissidente dos Titãs; e a eletrônica santista do Harry. Akira S & as Garotas que Erraram, Fellini, Mercenárias, Chance e Muzak são onipresentes nos dois registros.
"Selecionamos músicas de que gostamos. É lógico que muita coisa legal ficou de fora", diz Bruno Verner, 33, do Tetine, que assina, ao lado de Eliete Mejorado, a curadoria do projeto.
A idéia surgiu em 2004, depois de um especial das Mercenárias feito no programa de rádio Slum Dunk, que o Tetine mantém na Resonance FM de Londres. Segundo Verner, a gravadora adorou as composições, entrou em contato, e as conversas resultaram no álbum que tem como título uma das frases da canção "Nosso Louco Amor", de Júlio Barroso e Herman Torres.
"Escolhemos "The Sexual Life of the Savages" [a vida sexual dos selvagens] primeiro para homenagear o Júlio, pois o começo dessa história no Brasil se deve muito a ele e à Gang 90. Segundo, porque queríamos brincar com a imagem selvagem que o Brasil tem para o mundo com ironia e ao mesmo tempo celebratória", diz Verner.
O produtor inglês Andy Comming, 40, seis anos de Brasil, foi o responsável pela concepção de "Não Wave". Na seleção, teve o auxílio de dois importantes personagens da cena: o jornalista, músico e escritor Alex Antunes, do Akira S, e o guitarrista Miguel Barrella, do Agentss, Voluntários da Pátria e Gang 90. "Reunimos o material que foi masterizado em Berlim", diz Comming.
Segundo o produtor, o lançamento já está repercutindo. "DJs têm tocado as faixas, críticos como [o britânico] Simon Reynolds [autor do livro "Rip It Up And Start Again: Post-Punk 1978-1984'] ficaram surpresos, e a revista alemã De-Bug publicou uma resenha bem positiva."
Para Alex Antunes, 45, as revisões internacionais servem de alento psicológico aos envolvidos. "Achávamos que toda aquela intensidade iria se perpetuar, mas de certo modo o movimento se perdeu. Isso deixou uma sensação esquisita em muitos de nós. Os álbuns permitem que a cena, que foi enterrada viva, dê uma respirada", diz Antunes.


Não Wave
Artistas:
vários
Gravadora: Man Recordings
Quanto: 15,99 (R$ 51,55)
Onde encontrar: www.othermusic.com

The Sexual Life of the Savages
Artistas:
vários
Gravadora: Soul Jazz
Quanto: 11,99 libras (R$ 56,77) ;vinil: 13,99 libras (R$ 66, 24)
Onde encontrar: www.amazon.co.uk


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