São Paulo, Quinta-feira, 06 de Maio de 1999
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TEATRO
"Partido", peça dirigida por Cacá Carvalho que estréia em BH, é baseada em novela do italiano Italo Calvino
Grupo Galpão parte atores pela metade

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O Grupo Galpão, sob direção de Cacá Carvalho, parte o ator ao meio em seu novo espetáculo, "Partido", que estréia hoje em Belo Horizonte.
Cada ator do grupo representa em "Partido" pelo menos dois personagens, mas não há trocas constantes de figurino como o espectador já se acostumou a ver em outros espetáculos de teatro.
Ao subir ao palco, os atores estarão vestidos e maquiados como um personagem em seu lado direito e, do outro lado, como outro personagem.
"O espetáculo é todo dividido. O figurino, o cenário e a maquiagem, tudo tem dois lados", explica Cacá.
"Partido" é uma adaptação livre da novela "O Visconde Partido ao Meio", do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985), e conta a fábula sobre o nobre Medardo de Terralba, que vai à guerra e é atingido por um tiro de canhão, sendo dividido ao meio.
Uma das metades volta a Terralba e começa a agir estranhamente, colocando o local em pânico. Quando a outra metade aparece, ela faz tudo ao contrário da primeira, de uma forma "insuportavelmente boa" para os moradores do local.
Para recriar a perspectiva de uma peça "normal", os atores "divididos ao meio" têm de interpretar de perfil para o espectador, entrando e saindo de cena sem se virar de frente ou de costas para a platéia.
A peça segue a estrutura narrativa do texto de Calvino até a cena final, quando, em vez do final feliz do livro, o ator principal desfaz a ilusão da história para se revelar por inteiro.
Paradoxalmente, os únicos atores que vestem um só figurino são os que interpretam as metades do Visconde, ambas representadas por Paulo André, e um menino, que é o narrador da história, interpretado por Antônio Édson.
"O Visconde aparece por inteiro, mas é uma pessoa que está dividida por dentro como todos nós, atores ou espectadores", explica Cacá. Nesse caso, são as expressões e as falas do ator Paulo André que indicam para os espectadores qual metade está no palco.
"Partido" não subverte apenas as regras de perspectiva do palco italiano, mas também as leis da matemática.
Segundo Cacá, o resultado da operação de divisão do ator não são duas metades, mas dois personagens inteiros.
Com isso, o elenco se multiplicou assim como o cenário e os personagens. "A divisão, na verdade, é uma multiplicação. De um, saem dois. O desafio foi fazer com que o ator dividido ao meio passasse uma emoção inteira para o espectador", explica Cacá.


O colunista José Simão está em férias.


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