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TEATRO
"Partido", peça dirigida por Cacá Carvalho que estréia em BH, é baseada em novela do italiano Italo Calvino
Grupo Galpão parte atores pela metade
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
O Grupo Galpão, sob direção de
Cacá Carvalho, parte o ator ao
meio em seu novo espetáculo,
"Partido", que estréia hoje em Belo
Horizonte.
Cada ator do grupo representa
em "Partido" pelo menos dois personagens, mas não há trocas constantes de figurino como o espectador já se acostumou a ver em outros espetáculos de teatro.
Ao subir ao palco, os atores estarão vestidos e maquiados como
um personagem em seu lado direito e, do outro lado, como outro
personagem.
"O espetáculo é todo dividido. O
figurino, o cenário e a maquiagem,
tudo tem dois lados", explica Cacá.
"Partido" é uma adaptação livre
da novela "O Visconde Partido ao
Meio", do escritor italiano Italo
Calvino (1923-1985), e conta a fábula sobre o nobre Medardo de
Terralba, que vai à guerra e é atingido por um tiro de canhão, sendo
dividido ao meio.
Uma das metades volta a Terralba e começa a agir estranhamente,
colocando o local em pânico.
Quando a outra metade aparece,
ela faz tudo ao contrário da primeira, de uma forma "insuportavelmente boa" para os moradores
do local.
Para recriar a perspectiva de uma
peça "normal", os atores "divididos ao meio" têm de interpretar de
perfil para o espectador, entrando
e saindo de cena sem se virar de
frente ou de costas para a platéia.
A peça segue a estrutura narrativa do texto de Calvino até a cena final, quando, em vez do final feliz
do livro, o ator principal desfaz a
ilusão da história para se revelar
por inteiro.
Paradoxalmente, os únicos atores que
vestem um só
figurino são os
que interpretam as metades
do Visconde,
ambas representadas por
Paulo André, e
um menino,
que é o narrador da história,
interpretado
por Antônio
Édson.
"O Visconde
aparece por inteiro, mas é
uma pessoa
que está dividida por dentro
como todos
nós, atores ou
espectadores",
explica Cacá. Nesse caso, são as expressões e as falas do ator Paulo
André que indicam para os espectadores qual metade está no palco.
"Partido" não subverte apenas as
regras de perspectiva do palco italiano, mas também as leis da matemática.
Segundo Cacá, o resultado da
operação de divisão do ator não
são duas metades, mas dois personagens inteiros.
Com isso, o elenco se multiplicou
assim como o cenário e os personagens. "A divisão, na verdade, é
uma multiplicação. De um, saem
dois. O desafio foi fazer com que o
ator dividido ao meio passasse
uma emoção inteira para o espectador", explica Cacá.
O colunista
José Simão está em férias.
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