São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2005

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SHOW/CRÍTICA

Imprevisível, White Stripes elimina os padrões do rock

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

"Este é o último show desta turnê, então se vocês não se importam, gostaria de tocar mais do que estava programado. Talvez vocês não conheçam essas canções, mas se quiserem podemos tocar "Seven Nation Army" agora e acabar o show mais cedo...", brincou Jack White a certa altura do show do White Stripes, anteontem à noite, no Credicard Hall, em São Paulo. Resume bem a atmosfera e o que foi a apresentação da dupla norte-americana.
Foi um show estranho, de uma turnê estranha. Jack e Meg White tocaram, por exemplo, em ruínas na Guatemala, no Panamá, na histórica Misiones, na Argentina, e, na última quarta, no centenário teatro Amazonas, em Manaus.
No sábado, o público de mais de 6.000 pessoas assistiu, por uma hora e meia, uma inusitada mistura de rock, hard rock, country e (muito) blues.
Visivelmente empolgado, animado, Jack White, de cartola, vestindo camiseta preta e casaco e calças brancos, incorporou o espírito de algum blueseiro do Mississippi, mudando e estendendo o andamento de várias canções. A dupla toca "I Think I Smell a Rat". Param. Meg vai ao microfone e canta a doce "Passive Manipulation", de pouco mais de 30 segundos, com Jack ao piano. E voltam com "I Think I Smell a Rat"...
Na verdade, o que aconteceu em São Paulo foi uma grande jam session entre Jack e Meg White. Ela, na bateria; ele, na guitarra, violão, piano, marimba... Pode ser chato para alguns a obsessão blueseira da dupla, mas, mais importante, o que impressiona nesta banda é a imprevisibilidade, incomum aos padrões atuais do rock.
Afinal, o White Stripes não é um grupo independente qualquer, sem nada a perder; eles venderam 4 milhões de cópias de seu penúltimo álbum, "Elephant" (2003), acabaram de lançar o aguardado "Get Behind Me Satan" e, no próximo dia 24, fecharão o palco principal do gigantesco Glastonbury, festival inglês para mais de 100 mil pessoas. Era de esperar que eles viessem com o show todo programado, planejado. Mas não.
Que banda dispensaria três de seus principais hits ("The Hardest Button to Button", "Fell In Love with a Girl" e "You're Pretty Good Looking") em favor de desconhecidos covers de blues?
Um show do White Stripes nunca é igual ao outro. O de São Paulo foi completamente diferente do de Manaus (sem falar que é covardia comparar a acústica próxima à perfeição do teatro Amazonas com a do Credicard Hall...). A banda não tem setlist, as músicas vão aparecendo na hora, seguindo a vontade de Jack White. Em vários momentos, ele sinaliza para Meg, indicando o que ela deve fazer: se vai ao microfone cantar "Passive Manipulation", se aumenta a potência de sua bateria...
"Dead Leaves and the Dirty Ground" e "Black Math", pesadas, deram início rock ao show. Uma imaginária "primeira parte" da noite teve ainda o hit "Hotel Yorba" e a nova "Blue Orchid".
A "segunda parte", do meio até antes do bis, teve Jack White improvisando canções menos conhecidas da banda, como as novas "Red Rain" e "The Nurse" -esta última com Jack na marimba e fazendo efeitos barulhentos-, e covers, como "I Just Don't Know What to Do with Myself" (de Burt Bacharach).
Para o bis, a "terceira parte", apenas Jack retorna ao palco, para cantar, com a ajuda do público, "You've Got Her In Your Pocket". Depois, já com Meg, ele empunhou um bandolim na sensacional "Little Ghost", um autêntico country, que está no novo disco. E teve também, claro, "Seven Nation Army", um dos mais poderosos riffs da história do rock.
Em Manaus, quando Jack e Meg saíram do palco para tocar para uma multidão do lado de fora do teatro, nada daquilo havia sido planejado. Em São Paulo, nem o mais ferrenho fã poderia imaginar o que a banda faria, o que encontraríamos. E é isso que faz do White Stripes uma banda única no rock mundial.


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