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SHOW/CRÍTICA
Imprevisível, White Stripes elimina os padrões do rock
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Este é o último show desta
turnê, então se vocês não
se importam, gostaria de tocar
mais do que estava programado.
Talvez vocês não conheçam essas
canções, mas se quiserem podemos tocar "Seven Nation Army"
agora e acabar o show mais cedo...", brincou Jack White a certa
altura do show do White Stripes,
anteontem à noite, no Credicard
Hall, em São Paulo. Resume bem
a atmosfera e o que foi a apresentação da dupla norte-americana.
Foi um show estranho, de uma
turnê estranha. Jack e Meg White
tocaram, por exemplo, em ruínas
na Guatemala, no Panamá, na histórica Misiones, na Argentina, e,
na última quarta, no centenário
teatro Amazonas, em Manaus.
No sábado, o público de mais de
6.000 pessoas assistiu, por uma
hora e meia, uma inusitada mistura de rock, hard rock, country e
(muito) blues.
Visivelmente empolgado, animado, Jack White, de cartola, vestindo camiseta preta e casaco e
calças brancos, incorporou o espírito de algum blueseiro do Mississippi, mudando e estendendo o
andamento de várias canções. A
dupla toca "I Think I Smell a Rat".
Param. Meg vai ao microfone e
canta a doce "Passive Manipulation", de pouco mais de 30 segundos, com Jack ao piano. E voltam
com "I Think I Smell a Rat"...
Na verdade, o que aconteceu em
São Paulo foi uma grande jam session entre Jack e Meg White. Ela,
na bateria; ele, na guitarra, violão,
piano, marimba... Pode ser chato
para alguns a obsessão blueseira
da dupla, mas, mais importante, o
que impressiona nesta banda é a
imprevisibilidade, incomum aos
padrões atuais do rock.
Afinal, o White Stripes não é um
grupo independente qualquer,
sem nada a perder; eles venderam
4 milhões de cópias de seu penúltimo álbum, "Elephant" (2003),
acabaram de lançar o aguardado
"Get Behind Me Satan" e, no próximo dia 24, fecharão o palco
principal do gigantesco Glastonbury, festival inglês para mais de
100 mil pessoas. Era de esperar
que eles viessem com o show todo
programado, planejado. Mas não.
Que banda dispensaria três de
seus principais hits ("The Hardest
Button to Button", "Fell In Love
with a Girl" e "You're Pretty Good
Looking") em favor de desconhecidos covers de blues?
Um show do White Stripes nunca é igual ao outro. O de São Paulo
foi completamente diferente do
de Manaus (sem falar que é covardia comparar a acústica próxima
à perfeição do teatro Amazonas
com a do Credicard Hall...). A
banda não tem setlist, as músicas
vão aparecendo na hora, seguindo a vontade de Jack White. Em
vários momentos, ele sinaliza para Meg, indicando o que ela deve
fazer: se vai ao microfone cantar
"Passive Manipulation", se aumenta a potência de sua bateria...
"Dead Leaves and the Dirty
Ground" e "Black Math", pesadas, deram início rock ao show.
Uma imaginária "primeira parte"
da noite teve ainda o hit "Hotel
Yorba" e a nova "Blue Orchid".
A "segunda parte", do meio até
antes do bis, teve Jack White improvisando canções menos conhecidas da banda, como as novas "Red Rain" e "The Nurse"
-esta última com Jack na marimba e fazendo efeitos barulhentos-, e covers, como "I Just
Don't Know What to Do with
Myself" (de Burt Bacharach).
Para o bis, a "terceira parte",
apenas Jack retorna ao palco, para
cantar, com a ajuda do público,
"You've Got Her In Your Pocket".
Depois, já com Meg, ele empunhou um bandolim na sensacional "Little Ghost", um autêntico
country, que está no novo disco. E
teve também, claro, "Seven Nation Army", um dos mais poderosos riffs da história do rock.
Em Manaus, quando Jack e Meg
saíram do palco para tocar para
uma multidão do lado de fora do
teatro, nada daquilo havia sido
planejado. Em São Paulo, nem o
mais ferrenho fã poderia imaginar o que a banda faria, o que encontraríamos. E é isso que faz do
White Stripes uma banda única
no rock mundial.
Avaliação:
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