São Paulo, sexta, 6 de junho de 1997.



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TEATRO
Grupo de nô que se apresenta no Parque da Independência foi fundado em 1417 e mantém coreografia original
Tradição medieval japonesa chega ao Brasil

Luiz Novaes/ Folha Imagem
Atores que estarão nas apresentações no Parque da Independência


DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

Obras medievais japonesas de teatro nô e kyôgen poderão ser vistas até o próximo domingo no Parque da Independência, em frente ao Museu do Ipiranga, em São Paulo.
Com performances ao ar livre iluminadas por tochas, a companhia Naohiko Umewaka e Cumas Hashiota tem séculos de tradição: começou a encenar em 1417.
A forma vem sendo mantida por várias gerações da família Umewaka -atualmente, Naohiko Umewaka, 40, é o diretor da companhia e, como manda a tradição, também é ator principal do grupo.
Ritual
Nô é o drama lírico, simbólico, estilizado e plástico, um ritual composto de dança e canto. O ator principal sempre usa máscara e os temas se referem a espíritos e deuses. O kyôgen é o entreato cômico de linguagem mais popular. "Um é menos explícito e mais sério, enquanto o outro é mais humor e expressões", disse o diretor.
Apesar de tradicionalmente ter apenas uma apresentação por temporada que faz no Japão, o grupo apresentará em São Paulo três espetáculos de nô -"Yorimasa", "Hagoromo" e "Yashima"- e dois de kyôgen -"Fukurô Yamabushi" e "Bôshibari".
Umewaka diz que o nô é o teatro mais velho do mundo. "Não em texto, mas em técnica. Existem 200 coreografias tradicionais em seu repertório, entre elas cerca de cem populares", afirmou. A técnica nô é originária do século 13.
Nas suas cenas estão a história do Japão e a história do movimento, segundo o diretor. "Um simples movimento deve ser carregado de significados a ponto de ser transformador ao público."
A história do nô começa, de acordo com Umewaka, quando grupos de atores eram designados a fazer apresentações à casta aristocrática e aos samurais.
As tradições foram passadas de pai para filho, e Umewaka as respeita à risca. "Sempre nos perguntamos se deveríamos inovar. Mas consideramos que a nossa originalidade vem de 600 anos."
Umewaka tem dois filhos que, como ele, começaram a fazer teatro nô aos três anos de idade. "Mas a tradição da família não é suficiente para manter uma companhia. É preciso desenvolver a técnica com esforço e disciplina e, acima de tudo, ter talento", disse o diretor.
Os temas do teatro nô referem-se quase sempre a guerras e monges conselheiros, sempre baseados na cultura japonesa e no budismo.
"Como o público de antigamente tinha muitos samurais, os espetáculos tinham questões como: 'Para onde vamos depois de morrer?"', afirma.
Mas, segundo ele, os espetáculos se aplicam aos dias de hoje. "Tratamos de questões universais", afirma Umewaka, que é professor de teatro nô na Universidade de Londres.

Espetáculos: Yorimasa, Fukurô Yamabushi e Hagoromo (hoje e domingo); Bôshibari e Yashima (amanhã) Quando: até domingo; 21h (hoje e amanhã) e 18h30 (domingo) Onde: Parque da Independência (em frente ao Museu do Ipiranga) Quanto: grátis (ingressos devem ser retirados nas unidades do Sesc Ipiranga, Pompéia, Consolação e na Galeria do Sesc Paulista)



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