São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice ARTES PLÁSTICAS Julio Landman afirma que, na falta de patrocínio, cancelaria Van Gogh, mas não salas de arte contemporânea Bienal corre atrás do dinheiro
CELSO FIORAVANTE da Reportagem Local Do alto do 9º andar, na sala de reuniões de seu escritório na emergente rua Funchal, Julio Landman, o presidente da Bienal, olha pela janela e vê um prédio da Parmalat, um anúncio da Brahma e uma série de edifícios em construção. Olha para a mesa e vê as 22 salas do núcleo histórico da Bienal, todo o andar dedicado ao segmento Roteiros, as despesas com catálogos, montagem... O evento começa em 2 de outubro. Landman diz que o quadro é favorável e que, apesar de faltarem apenas quatro meses para o início da Bienal, os negócios vão bem. "Está melhor do que esperávamos, mas longe do resultado final. O patrocínio ainda está no começo. Na 23ª edição, os negócios foram fechados em agosto e setembro e, embora nem todos os possíveis patrocinadores fechem acordos, a rejeição tem sido muito pequena", disse. No papel, porém, a situação não está assim tão azul. De 26 salas disponíveis (site na Internet, segmento Roteiros e Núcleo Educação incluídos), 11 ainda buscam patrocínio, oito estão vendidas, duas estão em discussões adiantadas (sala Van Gogh e sala Séculos 16, 17 e 18) e outras cinco se mantêm sob a guarda da McCann-Erickson, a agência de publicidade da Bienal, que pretende repassá-las para seus clientes (veja quadro ao lado). Em troca do dinheiro, a Bienal oferece, principalmente, a possibilidade de dedução no Imposto de Renda e a vinculação da imagem da empresa à Bienal. O banco holandês ABN-Amro Bank foi o primeiro a se interessar por essa segunda possibilidade e publicou esta semana duas páginas em uma revista semanal em que anuncia o seu patrocínio à sala Albert Eckhout. É interessante observar que o patrocínio saiu por R$ 180 mil e suas páginas nessa revista custam R$ 135 mil (esse valor, obviamente, não é fixo e pode cair conforme o acordo que a empresa tem com a agência de publicidade, com a frequência com que anuncia, com o número de páginas que veicula em uma mesma edição). "Procuro separar o retorno tangível do intangível. A empresa ganha com a vinculação de sua imagem com um produto cultural e também no Imposto de Renda. Para quem investe mais de R$ 200 mil, oferecemos ainda o espaço da Bienal às segundas-feiras, dia em que ela não abre para o público, para um café da manhã ou coquetel e a nossa monitoria para os clientes, funcionários e amigos da empresa", disse Julio Landman. Segundo Landman, porém, o núcleo histórico não é a maior preocupação da Bienal, que deve estar voltada para a arte contemporânea. "Considero o segmento Roteiros o mais importante da Bienal. É mais provável cancelar salas do núcleo histórico que a parte dedicada à arte contemporânea. Cortaria Van Gogh antes." E é justamente o segmento Roteiros e as salas de arte contemporânea que ainda dependem de patrocínio, como as dedicadas a Oiticica, Lygia Clark, Francis Bacon e monocromos, entre outras. A sala dedicada à artista alemã radicada nos EUA Eva Hesse (1936-1970) é outra que corre riscos. Justamente Eva Hesse, uma das artistas mais emblemáticas da arte contemporânea e que mais influenciam a produção brasileira. "Eva Hesse deve estar seca, coitada, de tanto que já chuparam a coitada", observou recentemente um colecionador. O orçamento da Bienal este ano é de cerca de R$ 15 milhões. O Ministério da Cultura entra com R$ 3 milhões, a Prefeitura cede R$ 1 milhão, a venda de ingressos rende R$ 1 milhão, o aluguel do espaço da Bienal rende até R$ 3 milhões. Os patrocinadores devem comparecer com R$ 7 milhões. Landman garante que conseguiu mais de R$ 4 milhões, mas reclama do MinC, que, segundo ele, já deveria ter liberado a última parcela de R$ 1 milhão, mas principalmente da Prefeitura de Celso Pitta, que não liberou sua parte. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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