São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Julio Landman afirma que, na falta de patrocínio, cancelaria Van Gogh, mas não salas de arte contemporânea
Bienal corre atrás do dinheiro


A quatro meses da 24ª edição do evento, salas mais conceituais ainda buscam patrocínio, com as de Francis Bacon, Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Clark e monocromos


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local


Do alto do 9º andar, na sala de reuniões de seu escritório na emergente rua Funchal, Julio Landman, o presidente da Bienal, olha pela janela e vê um prédio da Parmalat, um anúncio da Brahma e uma série de edifícios em construção.
Olha para a mesa e vê as 22 salas do núcleo histórico da Bienal, todo o andar dedicado ao segmento Roteiros, as despesas com catálogos, montagem... O evento começa em 2 de outubro.
Landman diz que o quadro é favorável e que, apesar de faltarem apenas quatro meses para o início da Bienal, os negócios vão bem.
"Está melhor do que esperávamos, mas longe do resultado final. O patrocínio ainda está no começo. Na 23ª edição, os negócios foram fechados em agosto e setembro e, embora nem todos os possíveis patrocinadores fechem acordos, a rejeição tem sido muito pequena", disse.
No papel, porém, a situação não está assim tão azul. De 26 salas disponíveis (site na Internet, segmento Roteiros e Núcleo Educação incluídos), 11 ainda buscam patrocínio, oito estão vendidas, duas estão em discussões adiantadas (sala Van Gogh e sala Séculos 16, 17 e 18) e outras cinco se mantêm sob a guarda da McCann-Erickson, a agência de publicidade da Bienal, que pretende repassá-las para seus clientes (veja quadro ao lado).
Em troca do dinheiro, a Bienal oferece, principalmente, a possibilidade de dedução no Imposto de Renda e a vinculação da imagem da empresa à Bienal.
O banco holandês ABN-Amro Bank foi o primeiro a se interessar por essa segunda possibilidade e publicou esta semana duas páginas em uma revista semanal em que anuncia o seu patrocínio à sala Albert Eckhout.
É interessante observar que o patrocínio saiu por R$ 180 mil e suas páginas nessa revista custam R$ 135 mil (esse valor, obviamente, não é fixo e pode cair conforme o acordo que a empresa tem com a agência de publicidade, com a frequência com que anuncia, com o número de páginas que veicula em uma mesma edição).
"Procuro separar o retorno tangível do intangível. A empresa ganha com a vinculação de sua imagem com um produto cultural e também no Imposto de Renda. Para quem investe mais de R$ 200 mil, oferecemos ainda o espaço da Bienal às segundas-feiras, dia em que ela não abre para o público, para um café da manhã ou coquetel e a nossa monitoria para os clientes, funcionários e amigos da empresa", disse Julio Landman.
Segundo Landman, porém, o núcleo histórico não é a maior preocupação da Bienal, que deve estar voltada para a arte contemporânea. "Considero o segmento Roteiros o mais importante da Bienal. É mais provável cancelar salas do núcleo histórico que a parte dedicada à arte contemporânea. Cortaria Van Gogh antes."
E é justamente o segmento Roteiros e as salas de arte contemporânea que ainda dependem de patrocínio, como as dedicadas a Oiticica, Lygia Clark, Francis Bacon e monocromos, entre outras.
A sala dedicada à artista alemã radicada nos EUA Eva Hesse (1936-1970) é outra que corre riscos. Justamente Eva Hesse, uma das artistas mais emblemáticas da arte contemporânea e que mais influenciam a produção brasileira. "Eva Hesse deve estar seca, coitada, de tanto que já chuparam a coitada", observou recentemente um colecionador.
O orçamento da Bienal este ano é de cerca de R$ 15 milhões. O Ministério da Cultura entra com R$ 3 milhões, a Prefeitura cede R$ 1 milhão, a venda de ingressos rende R$ 1 milhão, o aluguel do espaço da Bienal rende até R$ 3 milhões. Os patrocinadores devem comparecer com R$ 7 milhões.
Landman garante que conseguiu mais de R$ 4 milhões, mas reclama do MinC, que, segundo ele, já deveria ter liberado a última parcela de R$ 1 milhão, mas principalmente da Prefeitura de Celso Pitta, que não liberou sua parte.



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