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RELÂMPAGOS
Ele
JOÃO GILBERTO NOLL
Havia um rudimento qualquer puxando o seu ânimo,
algo entre poeira e, quem sabe, sal. Rua após rua. Tão extremada a sua situação, que
ele dependia agora só dessa
porção mínima, invisível
mesmo, que ia como que lhe
tangendo a difusa intenção de
prosseguir, até que encontrasse o que ainda não sabia
dizer. Talvez logo ali, ao atravessar a avenida e dar mais
cinco ou seis passadas decididas. Ou não, apenas esse
avanço granulado, cantarolante, para que ninguém notasse que ele era pura hesitação, suposição de nada, enfim, hospedeiro desse fruto
escuro cujo sumo saturado já
lhe escorria por todos os orifícios. Ali, naquela esquina
ventosa, quase irreal de tão
parelha com o seu estado submerso, aquém do mundo e de
todas as promessas que ele jamais conseguira ocupar...
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