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Tradicional cachimbo de mesa que contém fumos com sabores, narguilé vira chamariz de restaurantes e bares de São Paulo
Oriente próximo
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você achava que a onda de
orientalismo no Brasil ia se dissipar como fumaça assim que a
novela "O Clone" chegasse ao
fim, errou feio. Pelo contrário,
além da vistosa dança do ventre,
é cada vez maior o número de
restaurantes e bares em São Paulo que oferecem o narguilé.
Espécie de cachimbo de mesa,
com um vaso onde se coloca a
água que vai filtrar o fumo e um
cabo comprido para puxar a fumaça, o narguilé (ou arguile)
promete ser a sensação de jovens
descolados e velhos novidadeiros. O sucesso pode ser medido
pela inauguração de novas casas.
Só nos últimos meses, pelo menos dois bares (Malaysian e Alibabar) e um restaurante (Ammoul) que usam o narguilé como
chamariz foram abertos na cidade.
São duas as razões para tanta
gente querer experimentar a nova fumaça do Oriente. Em primeiro lugar, os fumos usados no
narguilé têm sabores: maçã, damasco, uva, tutti-fruti etc. E, como os cachimbos tradicionais, a
fumaça deixa o ambiente com o
cheiro do fumo perfumado.
Em segundo lugar, o narguilé
serve para ser dividido em grupos, como o chimarrão gaúcho ou
um cachimbo da paz. E é a desculpa certa para um momento de
confraternização e relaxamento.
Outra vantagem é que se pode tragar ou não o fumo.
"Tenho cinco arguiles e vou
comprar mais cinco para a clientela", diz a libanesa Icbal Yamout,
que inaugurou o Ammoul ("pequena esperança", em árabe) em
Moema há quatro meses. Segundo ela, o nome do aparelho em
árabe é arguile, e não narguilé, como foi difundido por aqui. "Acho
que o nome vem do barulho da
água quando se fuma", afirma.
"Há uns 20 anos, nos países do
Oriente, os jovens achavam feio
fumar com narguilé", conta Yamout. "Isso porque o fumo persa
é muito forte. Quando esse fumo
com sabores começou a ser vendido, virou febre. No Líbano, os
jovens saem de noite para fumar
nos cafés."
Já na zona norte de São Paulo, a
juventude vai mesmo ao Alibabar, aberto em setembro. Entre
drinques batizados como Bin Laden (com tequila e cerveja) e Saddam Hussein (à base de Jack Daniels), o bar de 240 lugares tem 24
narguilés à disposição do público.
"Muita gente já vem procurando o arguile", diz Fauzi Dahouk.
"Em finais de semana, chega a ter
fila de espera." Nesta semana, o
Alibabar começará a vender o objeto (preço entre R$ 160 e R$ 200).
Narguilés importados do Egito
e do Líbano -de cobre e vidro
colorido- também estão à venda
no Tanger, restaurante marroquino que funciona há três anos na
Vila Madalena e acaba de inaugurar um novo espaço lounge. No
Tanger, aliás, é grátis dar umas
tragadas. Cobra apenas se o cliente quiser incrementar seu fumo
misturando na água de filtragem
uma dose de arak (destilado de
uva e anis, a R$ 7). Dessa forma, o
líquido fica com aparência leitosa.
"Hoje, 60% da clientela que vem
ao Tanger quer fumar depois do
jantar. Alguns árabes fumam até
antes", diz a marroquina Dinah
Doctors, chef e proprietária do
restaurante. "O narguilé faz com
que as pessoas fiquem horas por
aqui. Alguns chegam às 20h e só
saem à 1h. Pode não ser muito
bom financeiramente, mas é assim que eu gosto. E os clientes
também."
A estudante Flávia Schikmann,
20, é uma dessas clientes. Não
gosta de cigarros, mas se amarrou
nos sabores de maçã, morango e
hortelã do fumo oriental: "Chamei 80 amigos para comemorar
meu aniversário no Tanger. Ficamos comendo, bebendo e, claro,
fumando. Todo mundo quis experimentar e adorou. A boca fica
com os sabores que você fumou, e
o de hortelã é superdigestivo."
Na região da Paulista há três
anos, o restaurante Arguile oferece fumos com uma dúzia de sabores. "Mas se não tiver o de maçã,
tem quem não queira saber de outro", diz Sérgio Andrade, revelando a preferência geral da clientela.
Além do de maçã, narguilés
com fumos de damasco, uva e
menta são os mais pedidos no bar
Malaysian, na Vila Olímpia. "A
procura é grande desde que abrimos, em outubro", diz o gerente,
Erasmo Trajano de Moraes.
Inicialmente, o bar não cobrava
pelo uso de seus 11 objetos, mas o
preço ficou alto demais após alguns meses. "Às vezes, as pessoas
não comem nem bebem. Vêm só
para fumar. E, em alguns finais de
semana, não tem jeito: só com fila
de espera."
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