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Violência à Tarantino assusta
mercado de filmes de São Paulo
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Uma sucessão de atos de violência digna de filmes de Quentin Tarantino está transformando o rico
mercado publicitário e cinematográfico de São Paulo.
No centro do vendaval está o Estúdio Abertura, uma empresa especializada em finalizar filmes para publicidade e cinema. O mercado é restrito, com apenas mais
duas concorrentes no país: a Casablanca, em SP, e a Mega, no Rio.
Devido aos atentados, o Estúdio
está encerrando suas atividades
nesta semana e dispensando seus
setenta funcionários.
O primeiro atentado aconteceu
em 17 de março, quando o dono
do Abertura, Joaquim Clemente,
53, foi atingido por três tiros. Sem
poder falar ou andar, Clemente se
afastou do trabalho.
Quarenta dias depois, em 28 de
abril, a polícia encontrou três quilos de cocaína em um dos banheiros do Estúdio. Há duas semanas,
foi a vez de um grupo de homens
armados invadir e colocar fogo no
local (leia quadro ao lado).
"Não sabemos quem fez isso.
Mas não estou fechando a empresa só por medo", diz Otávio Clemente, 22, filho de Joaquim. "É
que não temos equipamentos depois do incêndio."
O Abertura possuía duas máquinas de telecinagem. O equipamento serve para transformar filme em
vídeo. É usado por quase todos os
comerciais de TV e por filmes de
cinema. O preço de uma máquina
varia entre US$ 1 milhão e US$ 2
milhões. O custo de uso é de R$
1.000 por hora, negociáveis.
"Eles foram direto nos telecines", diz Otávio, que assumiu a
empresa após o atentado a seu pai.
Para Otávio, essa é a razão de a
violência ter continuado. "Deixaram meu pai inválido, mas a empresa não acabou. Então plantaram a droga lá. Como nem isso resolveu, tocaram fogo." O prejuízo
total é calculado em R$ 6 milhões.
Otávio apresenta argumentos
para embasar sua teoria. O mercado se solidarizou com o Abertura
assim que Joaquim Clemente foi
baleado. "Entupiram a gente de
trabalho. Tanto que tivemos nosso
recorde de faturamento na segunda metade de março."
A outra empresa paulistana que
oferece serviços de telecinagem, a
Casablanca, possui quatro máquinas. Sua dona, Arlette Siaretta, se
diz "chocada".
"Nunca ouvi falar de nada parecido. Parece a Chicago dos anos
30. Muitos estão com medo. Eu
também ficaria amedrontada se
estivesse ligada ao Abertura num
momento desses", diz Arlette.
O mercado de filmes, principalmente o publicitário, já está encontrando meios de não depender
unicamente da Casablanca. A produtora O2, por exemplo, mandou
alguns filmes para serem telecinados na Mega, do Rio de Janeiro.
"Passamos para a Mega porque
os coloristas do Abertura foram
para lá. São os melhores do mercado", diz Fernando Meirelles, sócio da O2. O colorista é o profissional que mexe na cor do vídeo
no momento da telecinagem.
"A situação está horrível. Não
temos mais opção", diz Marily
Raphul, da Academia de Filmes.
"Em princípio, estamos finalizando na Casablanca."
Já a Zero Filmes resolveu dividir
seu material. "Esta semana vou na
Casablanca, mas já mandei meu finalizador para o Rio testar o equipamento da Mega", diz Sérgio
Amon, sócio da produtora.
João Carlos Serres, sócio da Telefilm, preferiu uma quarta opção:
"Estou trabalhando com finalizadoras na Argentina e nos EUA."
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