São Paulo, segunda, 6 de julho de 1998

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Violência à Tarantino assusta mercado de filmes de São Paulo

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Uma sucessão de atos de violência digna de filmes de Quentin Tarantino está transformando o rico mercado publicitário e cinematográfico de São Paulo.
No centro do vendaval está o Estúdio Abertura, uma empresa especializada em finalizar filmes para publicidade e cinema. O mercado é restrito, com apenas mais duas concorrentes no país: a Casablanca, em SP, e a Mega, no Rio.
Devido aos atentados, o Estúdio está encerrando suas atividades nesta semana e dispensando seus setenta funcionários.
O primeiro atentado aconteceu em 17 de março, quando o dono do Abertura, Joaquim Clemente, 53, foi atingido por três tiros. Sem poder falar ou andar, Clemente se afastou do trabalho.
Quarenta dias depois, em 28 de abril, a polícia encontrou três quilos de cocaína em um dos banheiros do Estúdio. Há duas semanas, foi a vez de um grupo de homens armados invadir e colocar fogo no local (leia quadro ao lado).
"Não sabemos quem fez isso. Mas não estou fechando a empresa só por medo", diz Otávio Clemente, 22, filho de Joaquim. "É que não temos equipamentos depois do incêndio."
O Abertura possuía duas máquinas de telecinagem. O equipamento serve para transformar filme em vídeo. É usado por quase todos os comerciais de TV e por filmes de cinema. O preço de uma máquina varia entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões. O custo de uso é de R$ 1.000 por hora, negociáveis.
"Eles foram direto nos telecines", diz Otávio, que assumiu a empresa após o atentado a seu pai. Para Otávio, essa é a razão de a violência ter continuado. "Deixaram meu pai inválido, mas a empresa não acabou. Então plantaram a droga lá. Como nem isso resolveu, tocaram fogo." O prejuízo total é calculado em R$ 6 milhões.
Otávio apresenta argumentos para embasar sua teoria. O mercado se solidarizou com o Abertura assim que Joaquim Clemente foi baleado. "Entupiram a gente de trabalho. Tanto que tivemos nosso recorde de faturamento na segunda metade de março."
A outra empresa paulistana que oferece serviços de telecinagem, a Casablanca, possui quatro máquinas. Sua dona, Arlette Siaretta, se diz "chocada".
"Nunca ouvi falar de nada parecido. Parece a Chicago dos anos 30. Muitos estão com medo. Eu também ficaria amedrontada se estivesse ligada ao Abertura num momento desses", diz Arlette.
O mercado de filmes, principalmente o publicitário, já está encontrando meios de não depender unicamente da Casablanca. A produtora O2, por exemplo, mandou alguns filmes para serem telecinados na Mega, do Rio de Janeiro.
"Passamos para a Mega porque os coloristas do Abertura foram para lá. São os melhores do mercado", diz Fernando Meirelles, sócio da O2. O colorista é o profissional que mexe na cor do vídeo no momento da telecinagem.
"A situação está horrível. Não temos mais opção", diz Marily Raphul, da Academia de Filmes. "Em princípio, estamos finalizando na Casablanca."
Já a Zero Filmes resolveu dividir seu material. "Esta semana vou na Casablanca, mas já mandei meu finalizador para o Rio testar o equipamento da Mega", diz Sérgio Amon, sócio da produtora.
João Carlos Serres, sócio da Telefilm, preferiu uma quarta opção: "Estou trabalhando com finalizadoras na Argentina e nos EUA."




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