São Paulo, segunda, 6 de julho de 1998

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TELEVISÃO
Show na França virou um grande "Som Brasil"

TELMO MARTINO
Colunista da Folha "A Copa do Mundo é nossa..." cantam os brasileiros há tanto tempo que, pelo jeito, essa repetição ganhou um gostinho de verdade. Afinal, foi o brasileiro João Havelange que conseguiu dar à Copa do Mundo uma exuberância que as Olimpíadas não têm. Pelé, o rei brasileiro, passou a ser o atleta do século. E o Brasil, até agora, é o único tetracampeão.
Como a Copa do Mundo é mesmo nossa, nada mais natural que a Globo se sinta com o direito de chamar o Raí e, com o apoio do Paris Saint-Germain, organize um grande show no estádio Parc des Princes que, uma vez transformado em programa de TV, virou uma versão gigantesca de um "Som Brasil" comemorativo dos 500 anos de nossa descoberta.
Aquele povaréu naquele estádio será feito de estrangeiros fanáticos pela nossa música ou de brasileirinhos? Tudo começa com o mais francês de todos os brasileiros, o Santôs-Dumont. Porque, logo depois, é a Daniela Mercury e o rei Pelé entrando de sola. Ele aos berros de que o "Penta é nosso". "Qu'est-ce qui'il a dit?", devem ter perguntado. "Connard!" devem ter exclamado.
Os cantores brasileiros estavam também com um outro "roi" na barriga. Num excesso de baianice, a Ivete Sangalo entrou antes da Mercury sair. Cantou a sua música, voltou-se para o público e incitou "tout le monde". O "le monde" se mostrou silencioso.
O menino Vinicius de Oliveira, de "Central do Brasil", mostrou que guarda a naturalidade de sua simpatia. Depois dele, entraram dois meninos da rodoviária Novo Rio. Isto é, a Sandy e o Júnior. Os dois com roupinhas "trés sexy", muito adequadas para uma imaginária "gay Paree". Nada mais seria impossível.
A cantora Simone de cabelo curto, adequado para quem chegou a uma certa idade, estava "bien". Disse até "merci". Para lembrar que as glórias brasileiras não se limitam ao futebol, homenagearam Senna. Mas o Skank cantou e voltou-se ao "banal" (sotaque français, s'il vous plaît).
O Alexandre Pires entrou para abafar. Muito estrela. O Só pra Contrariar agora é só o que Bando da Lua foi para a Carmen Miranda. Primeiro Paris, depois o mundo? "Pourquoi pas?"
Gilberto Gil apareceu com uma roupinha que só pode ter sido comprada na última "Casa Cor". "Aquele abraço" para muitos. E da França, só o Pare? Nada disso... Michel Legrand apareceu cantando com Ivan Lins músicas dos bons tempos.
Emoção sertaneja no final. Os amigos abraçados no palco. "Obrigado, Brasil. Obrigado, Paris". A Marluce gostou e chorou? Ou só chorou?



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