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"MINHA MÃE GOSTA DE MULHER"
Comédia espanhola reforça um preconceito que quer combater
THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
É curioso ver como grande
parte do cinema espanhol
contemporâneo se pauta pelo sucesso internacional de Pedro Almodóvar. O sexo serve de tema
central ora de dramas intimistas
("Lúcia e o Sexo"), ora de policiais
regados a suspense ("Entre as
Pernas"), ora de comédias familiares como esta "Minha Mãe
Gosta de Mulher".
Almodóvar consegue misturar
todos esses gêneros com eficácia e
ainda deixar sua marca de autor.
Já as estreantes Inés París e Daniela Fejerman perdem a mão apostando numa missão quase impossível: construir uma comédia que
combata preconceitos sexuais em
vez de os reforçar.
No começo, é até possível apreciar o inusitado da mãe sexagenária, a pianista Sofía (Rosa Maria
Sardá, de "Tudo sobre Minha
Mãe"), apresentando uma inusitada namorada mais jovem às três
filhas, entre as quais a protagonista, a neurótica Elvira (Leonor Watling, a bailarina em coma de "Fale com Ela"). Aos 20 anos, a descoberta da "nova homossexualidade" da mãe a faz entrar em profunda crise de identidade sexual.
Mas logo as filhas vão fazer de
tudo para separar o casal, em situações cheias de piadas previsíveis envolvendo lésbicas, no melhor estilo "Zorra Total". É muito
barulho por nada, já que o filme
nunca deixa claro (pra não chocar
tanto) se a atração de Sofía pela
namorada é mesmo sexual ou puramente afetiva, se já sentia atração por mulheres ao se casar com
o marido mais de 20 anos antes
etc.
No meio dessa comédia de equívocos, um foco de interesse ainda
resiste no filme. A tal namorada
de Sofía, Eliska, é uma pianista
tcheca que precisa legalizar sua
relação para poder morar na Espanha. A partir daí, as diretoras
abordam um segundo tipo de
preconceito: aquele exercido contra o imigrante.
A questão anda tão em voga na
Europa que virou tema de muitas
produções recentes do continente, como "Código Desconhecido"
(França), "Coisas Belas e Sujas"
(Reino Unido) e "Queimando ao
Vento" (Itália).
E aí sim poderíamos dizer que o
filme contribui pelo menos um
pouco para que os espanhóis (e os
europeus em geral) aceitem com
mais tolerância uma realidade irreversível.
Minha Mãe Gosta de Mulher
A Mi Madre le Gustan las Mujeres
Produção: Espanha, 2001
Direção: Inés París e Daniela Fejerman
Com: Eleonor Watling, Rosa Maria Sardá,
María Pujalte
Quando: a partir de hoje, no Cinesesc
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