São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2008

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The National apresenta seu rock desacelerado

Banda, que toca no Brasil em outubro, é comparada a Joy Division e Tom Waits

Com sonoridade melancólica e "dark", repleta de nuances, grupo tem disco incluído na lista de melhores do ano em diversas publicações


THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Uma banda como The National não se encaixa em tempos de iPod, YouTube e velocidade de informação. Suas músicas demandam tempo -não que sejam composições herméticas, mas são feitas de nuances que talvez não sejam descobertas na primeira audição. Um exemplo ocorreu com o disco mais recente, "Boxer". O álbum ganhou críticas boas no lançamento, em maio de 2007, mas só foi reconhecido quando figurou na lista de melhores do ano em diversas publicações.
Da mesma forma, "Boxer" não se tornou um hit comercial de início, mas conseguiu manter um nível de vendas constante durante o ano. O boca-a-boca favorável e os elogiosos shows contribuíram para manter a banda em evidência.
A Folha acompanhou dois concertos do National nos últimos dias: no domingo, no festival Lollapalooza, em Chicago, e anteontem, em Nova York. "Nossas canções não são tão imediatas como "Hey Ya" [hit do Outkast] ou "Crazy" [do Gnarls Barkley]", conta Matt Berninger, vocalista da banda, à Folha. "Até tentamos escrever canções como essas, hits de rádio, mas ficamos cansados delas. As músicas que acabam entrando nos discos são as que nos conquistam com o tempo.
Então faz sentido que demore para o ouvinte sentir alguma conexão com as canções."

Tristeza e alegria
Berninger é um dos vocalistas mais talentosos do rock atual. Sua voz de barítono fornece um tom melodramático e "dark" a canções como "Baby We'll Be Fine". E o faz ser comparado a Tom Waits e Nick Cave. A voz de Berninger e mais o uso econômico de guitarras e a bateria seca e marcante rendem comparações do National com o Joy Division.
"Entendo isso. Soamos mais como Joy Division do que como Sex Pistols. Ouvia "Love Will Tear Us Apart" nas rádios, mas não possuía nenhum disco do Joy Division. Só quando surgiram essas comparações comprei alguns discos deles."
Berninger é o principal compositor do grupo -ele é o responsável pelas letras que tocam em assuntos como relacionamentos se desintegrando e sobre o desespero de tentar começar tudo de novo. Ficar velho preocupa?
"É algo que passa pela cabeça... Algumas canções falam sobre conservar alguma irresponsabilidade, uma fantasia de continuar jovem, algo que obviamente não é possível."
Berninger não concorda quando reduzem a música da banda a adjetivos como "melancólica" e "dark". "Há alguns momentos "dark" e tristes nas canções, mas há outros sentimentos. Há otimismo, humor, felicidade. Mas, por alguma razão, os momentos "dark" são os mais lembrados. Talvez porque quando você está triste, tem consciência exata de que está triste, e quando está feliz não dá tanto valor para aquilo, não dá crédito àqueles momentos."

Shows no Brasil
Após o lançamento de "Boxer", o National entrou em turnê que só deve acabar no início do ano que vem. Antes, em outubro, a banda vem pela primeira vez ao Brasil, dentro do Tim Festival. Estar na estrada é algo que agrada (mais ou menos) a Berninger.
"Gosto de alguns aspectos [das turnês]. Gosto bastante dos shows. Quando você sente que fez um bom show, isso é um dos melhores sentimentos.
Mas não gosto de ficar longe de casa, de dormir em ônibus. É estranho viver com seis, sete pessoas em tão pouco espaço. A única oportunidade que tenho de ficar sozinho é quando vou tomar banho. É difícil passar por isso sendo um adulto."


O repórter THIAGO NEY viajou a convite do Tim Festival


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