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CINEMA/ESTRÉIA
"HOUVE UMA VEZ DOIS
VERÕES"
Comédia de roteiro sólido expõe adolescência
Furtado recorre ao clássico e dirige longa com segurança
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Houve uma Vez Dois Verões" é, de início, uma comédia sobre adolescência e sua
preocupação principal, a iniciação sexual. Essa saga já rendeu do
melhor ao pior, do sublime ao vulgar. Na categoria de sublime
encontra-se "Houve uma Vez um Verão" (1971), de Robert Mulligan, e a referência ao título não parece gratuita.
Existem certas coincidências entre os dois filmes, como o papel
desempenhado pela temporada na praia e o encontro com uma
mulher mais velha. O essencial, contudo, repousa sobre a abordagem delicada desse momento da vida, comum a ambos os filmes.
No de Jorge Furtado, a iniciação sexual é quase imediata: Chico
(André Arteche) conhece Roza (Ana Maria Mainieri) num fliperama, saem, transam. O personagem que dialoga com Chico é Juca
(Pedro Furtado), que fica, naturalmente, com água na boca diante do êxito do amigo.
Começa aí um segundo estágio
na existência de Chico, pois Roza
some do mapa e só ressurge tempos depois, já em Porto Alegre
(sim, o filme é gaúcho), com a terrível revelação: está grávida.
Daí por diante, o roteiro apresentará uma série de reviravoltas,
todas elas tendo por centro a garota, cujas aparições e sumiços renovam cada vez o caráter ambíguo da personagem. Com isso, a
questão de iniciação sexual de
Chico, proposta no início, se
transforma numa espécie de educação sentimental, pontuada pelas dúvidas que a garota sugere.
Será Roza uma vigarista, uma
oportunista? Ela se apaixona por
ele ou apenas se aproveita da ingenuidade do rapaz? Deixemos de
lado o fato de que essa série de
questões capta com felicidade a
passagem da adolescência à idade
adulta (na medida em que a dúvida sobre quem é a pessoa amada e
seus sentimentos em relação a nós
em geral acompanha o sujeito pela vida afora).
O essencial nesta estréia em longa-metragem é que Furtado parece empenhado em baixar as expectativas criadas por seu trabalho anterior no curta: trabalha
apoiado em um roteiro sólido e
busca como referencial o cinema
clássico (o que o ajuda a criar boas
"gags" ao longo do filme).
Qual o sentido dessa opção? Antes de mais nada, o filme trabalha
como que em busca de um pouco
de ordem na baderna estética do
cinema brasileiro, onde se inventa
a roda com regularidade. O recurso ao clássico parece apontar nessa direção, como a evitar passo
maior que a perna.
O recurso ao clássico não se
confunde, aqui, com academismo: se o filme interessa ao espectador, é, essencialmente, porque
sabe trabalhar com frescor os personagens que cria, evitando se refugiar nas convenções sobre o que
são e como agem os adolescentes.
Dito isso, um tanto a mais de audácia na concepção dos planos
não teria feito mal ao filme.
Houve uma Vez Dois Verões
Produção: Brasil, 2001
Direção: Jorge Furtado
Com: André Arteche, Ana Maria Mainieri,
Pedro Furtado
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Internacional Guarulhos e circuito
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