São Paulo, sexta-feira, 06 de setembro de 2002

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VENEZA

Polêmico pavilhão brasileiro na 8ª Mostra de Arquitetura é inaugurado hoje na Itália

Favelas & controvérsias

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Imagem de loteamento clandestino no Jardim Vista Alegre, em São Paulo, que está presente na Mostra de Arquitetura de Veneza


ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Os comissários brasileiros na 8ª Mostra Internacional de Arquitetura, em Veneza, inauguram hoje o pavilhão do país, depois de enfrentarem uma forte oposição nos corredores diplomáticos ao tema que resolveram mostrar na Itália.
"Fugi de São Paulo. Deixei a polêmica para trás. Esperava-se que fosse mostrado aqui um Brasil moderníssimo, da alta tecnologia, que não existe tanto assim na verdade", afirma o arquiteto Carlos Bratke, ex-presidente da Bienal de São Paulo e comissário do Brasil em Veneza.
O país vai exibir suas favelas em fotos jornalísticas que estampam a degradação urbana e em painéis que mostram 25 projetos de melhorias nesses locais. A curadoria da exposição é das arquitetas Elisabeth França e Gloria Bayeux.
A Folha apurou que a principal oposição ao tema brasileiro partiu do embaixador brasileiro na Itália, Andrea Matarazzo. "Não sou contra nem acho que afeta a imagem do Brasil", diz. "Penso apenas que poderiam ter coisas mais importantes, que mostrassem o arrojo da arquitetura brasileira."
A preocupação com a mostra levou uma autoridade brasileira a pedir explicações sobre quanto espaço haveria para as fotos que estampam a miséria das favelas e quanto para os projetos com soluções. A proporção de 30% para as imagens e 70% para as soluções tranquilizou as autoridades.
A 8ª Mostra de Arquitetura, com 37 países, abre amanhã para o público e vai até 3 de novembro. O tema deste ano é o desenvolvimento urbanístico futuro. O arquiteto Ricardo Ohtake, vice-comissário, explica o elo entre o tema brasileiro e o objetivo geral da mostra: "A questão habitacional é a mais importante a ser resolvida no Brasil nos próximos anos. Temos um déficit de mais de 10 milhões de moradias".
Os comissários precisaram também recuperar, improvisadamente, o pavilhão brasileiro. Ele foi invadido e depredado. O Brasil é um dos 24 países que têm pavilhão fixo no Giardini di Castello.
Uma instalação de Ernesto Neto que ficara no local foi destruída. Os restos da obra foram postos dentro de um casebre de madeira, parte da exposição atual, que reproduz uma casa de favela. Segundo Bratke, a manutenção do local compete ao Itamaraty. Para Matarazzo, é a Bienal que cuida do prédio. A mostra diz que a preservação é tarefa da embaixada.

Colaborou Fabio Cypriano, da Reportagem Local

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