DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO

Um vendedor de antiguidades amargo, um ralo entupido e um traseiro hipnótico. Eis os pilares do triângulo amoroso nada convencional construído pelo quadrinista Lourenço Mutarelli, 38, como a sua porta de entrada para o universo da prosa, o livro "O Cheiro do Ralo" (editora Devir).
Com lançamento previsto para o próximo dia 12 e um debate com a presença do autor, do também quadrinista Glauco Matoso e dos escritores Valêncio Xavier e Ferréz, "O Cheiro ..." pegou de surpresa os leitores que aguardavam a conclusão da trilogia -em quatro partes!- de Enigmo, personagem de HQ mais bem sucedido de Mutarelli nos últimos tempos.
"Tive a idéia de escrever o livro no Carnaval. Tinha uns "frilas" para terminar, a HQ empacou e resolvi sentar para começar outra coisa", lembra o autor. Em cinco dias, afirma, todas as 142 páginas do romance estavam prontas.
Esclarecendo melhor o tal "triângulo amoroso", "O Cheiro do Ralo" narra a história do dono e único vendedor de uma loja de quinquilharias que só consegue conversar com quem lhe interessa, que pensa "no ritmo" de Paul Auster, de Ellroy e dos seriados do canal Sony e que, ainda por cima, tem de conviver com o cheiro insuportável do ralo entupido do banheirinho de sua loja. Entre um turno de trabalho e outro, o protagonista se dirige ao boteco da esquina, pede um sanduíche podreira e -valendo o dia- observa apaixonadamente o traseiro empinado da garçonete.
"Ele é a antítese do que eu sou. Nunca consigo comprar ou vender algo direito", revela. "Mas na minha vida toda tive um fascínio pelos ralos. Gosto de vê-los como um portal que separa o mundo dos limpos do mundo dos sujos."