São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Caio Guatelli/Folha Imagem
Laura Neiva come batatinhas no intervalo do ensaio de fotos no Auditório Ibirapuera

Descoberta no Orkut por seu jeito de Lolita, Laura Neiva, estrela do filme "À Deriva", fala sobre o lado cafona de Cannes, conta como é beijar Cauã Reymond depois de comer esfihas e reclama de closes do seu pé

Foi um parto. Encontrar Filipa, a adolescente que descobre a sexualidade e o fim do amor dos pais em um verão dos anos 80, fez a equipe de produção do filme "À Deriva", de Heitor Dhalia, suar. "A gente estava procurando uma pessoa muito específica. Tinha que ter um jeito de criança e ao mesmo tempo já ter um lado adolescente", conta Anna Luiza de Almeida, responsável pelo casting, a busca de atores com perfis adequados ao filme. "Ou a gente encontrava meninas muito infantis, que na hora de falar de beijo na boca davam risada, ou outras que não tinham essa inocência." Até que surgiu Laura Neiva.

 

"Ela tinha uma coisa muito Lolita. Meio criança, mas já com esse ar de Lolita." E como a Lolita Laura, 15 anos, 1,70m, 45 quilos, olhos e cílios grandes, encara essa história de Lolita? Sentada em um banco no auditório do parque Ibirapuera, em um frio dia de inverno, ela se encolhe, faz careta. "Hummm, ai..." Põe a mão no rosto e... nada. É difícil, né? "É difícil." "É muito natural dela", salva Anna, que virou assessora da nova estrela. "Por isso funciona."

 

Laura virou a cara do filme, seu primeiro trabalho como atriz, e recebeu muitos elogios, tanto pela performance quanto pela beleza. Diz que leu críticas ao filme. Nenhuma para ela. Gosta das que dizem que "nasceu pra isso" e que é "a luz" do longa. "O Totô [apelido que deu para o diretor Heitor] diz que entreguei meus últimos momentos de infância pro filme."

 

Na infância, mais precisamente aos dez anos, é que Laura foi descoberta -na janela de uma padaria de São Paulo, por um "booker" da agência Ford. Queria ser modelo de passarela. Não deu. "Na época, começou aquilo [do medo] da anorexia e da exigência de idade [mínima]. E eu estava totalmente fora das medidas", diz Laura, que parou de modelar para seguir a vida de adolescente estudante da Escola Waldorf.

 

Até que Anna Luiza a encontrou no site de relacionamentos Orkut. As mensagens foram muitas antes de Laura acreditar que o convite virtual para participar de um filme era real. "Tive medo de parecer "psycho'", diz Anna. Quando Laura contou para a mãe, Michele, 31, que tinha sido chamada para o teste, ouviu apenas: "Desliga esse computador agora". Mas a mãe acabou cedendo e Laura ganhou o papel.

 

Enquanto checa o celular e não para de balançar as pernas, Laura conta que amadureceu muito durante as filmagens. "Não sei em qual aspecto, mas amadureci." Além de conviver com muitos adultos, teve também que fazer cenas de adulto, como aquela em que se insinua que Filipa perde a virgindade com o personagem do galã Cauã Reymond. Cauã deu uma mãozinha. "Como era uma cena difícil, ele fez umas brincadeiras. Na hora do lanche, tinha esfihas e ele disse: "Não se preocupa se você ficar com bafo porque eu também vou estar"."

 

Além de Cauã, que é "tão bonito como aparece na TV", o elenco todo é classificado como "fofo" por Laura. Heitor é fofo, "mas a fofura não é só pra mim". Vincent Cassel, ator francês que faz seu pai no filme, é outro fofo. Débora Bloch, sua mãe no longa: mais uma fofa. "Toda hora ela vinha abraçar, saber se eu estava comendo." Foi Débora quem contou a ela que Cannes era uma "ilha da fantasia". Laura conheceu a ilha quando foi com a equipe apresentar o longa no festival francês, onde foram aplaudidos por cinco minutos, em maio.

 

"São prédios luxuosos, jantares de gala, uma roupa pra cada jantar... Mas também tem muita coisa cafona." Cafona? "Todo ano tem a "família de putas". É o nome delas. A mãe e a filha vêm com vestido de oncinha e aparecem pra ser fotografadas. E tem a outra mulher que abaixa o maiô pra aparecer o peito", conta ela, marinheira de primeira viagem ao exterior. Na mala que foi para Cannes, voltaram um All Star amarelo, chocolates e balas - "gastei mais foi no free shop".

 

Também veio da França, mais especificamente de um brechó, o vestido que Laura usa no parque Ibirapuera. Para encontrar a coluna, não trouxe bolsa a tiracolo, mas sim o namorado, Felipe, 16, que a acompanha pela primeira vez em uma entrevista. Os dois também "se conheceram" pelo Orkut e estão juntos há oito meses. Felipe diz que vem dando conta do ciúme da namorada famosa. "Meus amigos é que falam: "Tua mina pegou o Cauã Reymond!'"

 

Antes de Felipe e durante os ensaios de "À Deriva", Laura começou a namorar Daniel Passi, que fazia Artur, seu "namoradinho" no filme. "Aí, a gente terminou e no dia seguinte vieram todas as cenas de beijo!", ri a atriz. "Esqueci de tudo e falei: "vamo lá"."

 

Depois das filmagens, que ela chama de "Dias de Princesa com o Tio Totô" [em referência ao quadro "Dia de Princesa" do apresentador e vereador Netinho de Paula], a garota, que levava uma vida normal em São Paulo, queria ser arquiteta e é filha de uma decoradora e de um corretor de imóveis, diz ter certeza de que vai ser atriz. Começou a ver muitos filmes, como "O Cheiro do Ralo", de Dhalia, em que o protagonista se apaixona por uma bunda. Achou "bem maluco". Dhalia, ela conta, "quer fazer filmes comigo crescendo, várias fases da minha vida". É a mãe, Michele, que a teve aos 15 anos, quem recomenda à filha única que mantenha os pés fincados no chão. "Você sabe que quer ser atriz, mas não sabe se eles vão querer que você faça isso para sempre."

 

Apesar de sonhar alto, Laura diz que continua sendo uma "garota comum", daquelas que adoram procurar defeitos. "Quando vi o filme, eu só reparava no meu dente. É todo torto", diz ela, que colocou aparelho depois das filmagens. "Mas o pior é o meu pé! Detesto o meu pé, e o filme tem vários closes dele."

 

Além do aparelho, Laura ganhou matérias -em jornais, revistas, sites- e fãs depois do filme. Os amigos brincam que ela "pode até furar fila porque tem 200 seguidores no Twitter [na última quinta-feira tinha 498]". Depois de uma viagem sem checar o Orkut, tomou um susto ao se deparar com 89 pedidos de amizade. Apesar do assédio, diz que só foi reconhecida na rua duas vezes. "Acho estranho que as pessoas achem que ser ator, modelo, cantor é uma coisa muito "uau", como se você fosse uma outra espécie", diz a garota. "Com tanto elogio, você pode ficar achando que é demais mesmo. Você tem que saber agradecer o elogio e aceitar, porque, se a pessoa tá elogiando, é verdade..." Laura para como que se dando conta de algo. E ri. "Ou não!"

com ADRIANA KÜCHLER

"Acho estranho que as pessoas achem que ser ator é uma coisa muito "uau", como se você fosse uma outra espécie"
LAURA NEIVA

"O Totô [o diretor Heitor Dhalia] diz que entreguei meus últimos momentos de infância pro filme"
IDEM



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