São Paulo, Segunda-feira, 06 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rio ressuscita para as artes



Mostras em cerca de 50 instituições recolocam cidade no eixo artístico
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Foram necessários bem mais do que três dias, mas depois de um primeiro semestre morto, a cidade do Rio de Janeiro ressuscitou e voltou a respirar artes plásticas.
E respirou fundo, recolocando em funcionamento praticamente todos os seus órgãos culturais. Apenas o evento Rio Gravura, iniciado no último dia 1º, vai ocupar, até o mês de novembro, 45 museus, institutos, galerias e centros culturais.
Os números do evento impressionam. Serão cerca de 70 exposições que exibirão mais de 5.000 obras. A perspectiva é que o evento atraia cerca de 600 mil pessoas (100 mil em atividades didáticas, como oficinas, palestras e mesas-redondas).
O trabalho hercúleo de concepção e organização das exposições em 45 espaços públicos e privados da cidade ficou por conta do também gravurista Rubem Grilo, que no ano passado foi um dos destaques da Bienal de São Paulo.
Praticamente toda a história da gravura ocidental foi contemplada, mas mesmo a oriental tem destaque no evento, como na mostra "Gravura Japonesa do Século 17 ao 19", no Museu da Chácara do Céu, em Santa Teresa, que apresenta 18 xilogravuras de Hiroshige (1793-1858) e Hokusai (1760-1849).
No mundo ocidental, a Espanha é um dos países com mais forte tradição em gravura, desenvolvida principalmente a partir de Francisco Goya (1746-1828). Sua primeira grande série de gravuras, "Los Caprichos" (1799), já anuncia toda a liberdade de tratamento formal e temático que marcaria sua produção pictórica, principalmente suas "pinturas negras", feitas a partir de 1820.
Goya, que realizou ainda outras três grandes séries de gravuras ("Os Desastres da Guerra", "Tauromaquia" e "Os Provérbios"), é destaque na mostra "Mestres Espanhóis e a Gravura", no Centro Cultural Banco do Brasil. A mostra traz ainda obras de Miró, Tápies, Dalí, Barceló, Chilida e, é claro, Pablo Picasso, que protagoniza ainda a mostra que deu novo brilho ao MAM-RJ.
Em cartaz até amanhã e avaliada em US$ 120 milhões, "Picasso -Anos de Guerra, 1937-1945" apresenta cerca de 150 obras produzidas no período entre a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Foi justamente em 1937 que Picasso realizou sua mais importante obra: "Guernica", hoje no Reina Sofia, em Madri. A mostra chega a São Paulo, ao Masp, no final deste mês.
O Rio de Janeiro também olha para o Brasil, para a produção de duas personalidades vanguardistas: Flávio de Carvalho e Abraham Palatnik.
Arquiteto, artista e agitador cultural, Flávio de Carvalho (1899-1973) marcou a cultura brasileira contemporânea com atitudes ousadas e visionárias, como em 1933, quando concebeu o "Bailado do Deus Morto", primeiro exemplo nacional de teatro-dança. O espetáculo, fechado pela polícia na ocasião, terá remontagem em São Paulo, em outubro, quando a mostra chega à Faap.
Palatnik, 71, também foi vanguarda, em 1949, ao criar seu "Aparelho Cinecromático", escultura mecânica que prenunciou a arte cinética, importante movimento artístico nos anos 60.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Galerias de arte contemporânea perdem espaço
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.