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CINEMA
"Holy Smoke", novo filme da diretora Jane Campion, foi o maior anticlímax da 56ª edição do festival
Reuters
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Da esq. para a dir., os atores Harvey Keitel e Kate Winslet e a diretora Jane Campion, de "Holy Smoke", em sessão de fotos em Veneza |
Competição esfria festival de Veneza
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
"Nenhum Escândalo" ("Pas de
Scandale"), título de um dos concorrentes do último final de semana, resume a reversão de expectativas quanto à temperatura
da 56ª edição do festival de cinema de Veneza, na Itália.
O maior anticlímax foi protagonizado pela diretora neozelandesa Jane Campion (de "O Piano").
Recém-saída do fiasco de sua
anódina versão para "Retrato de
uma Senhora", de Henry James,
ei-la reafirmando a má fase com
"Holy Smoke" ("Fumaça Santa",
que não tem nada a ver com o ensaio de Cabrera Infante sobre charutos).
O motor dramático é sempre o
mesmo: uma mulher aparentemente frágil se impõe frente ao
inóspito mundo dominado pelos
homens.
A moça em questão, agora, é
Ruth (Kate Winslet, de "Titanic"),
uma jovem australiana que abandona tudo em favor de uma seita
ao viajar à Índia.
Resgatada provisoriamente pela
mãe, a jovem é confrontada por
um pretenso mestre norte-americano em salvar almas ocidentais
de exóticos misticismos. P.J. Waters é seu nome, e Harvey Keitel
(de "Pulp Fiction"), seu óbvio intérprete.
Em 15 minutos de filme, estabelecido esse quadro, Campion parece ter reconquistado o domínio
dramático exibido em "O Piano".
Doce ilusão. "Holy Smoke" logo
desperdiça seu forte casal central.
A relação potencialmente romântica passa a receber um tratamento pretensamente cômico de
resultados não menos que grotescos. Ruth e P.J. transam, claro, o
que parece o bastante para Campion decretar que todos são iguais
perante o sexo e desestruturar a
seu bel prazer a composição dos
personagens.
Tudo se torna inconvincente e
esquemático. P.J. perde o eixo.
Ruth o manipula. Sua família entra e sai de cena como egressa de
um desenho animado. Uma imagem simboliza o descontrole do
filme: Winslet calçando livros é
perseguida por um Keitel vestido
de mulher, enquanto se desgoverna um carro que ostenta chifres. É
patético, sim, mas não exatamente como Campion planejara.
Cinema francês
Duplamente representado,
tampouco o cinema francês cumpriu as expectativas. Um segredo
central mantém-se irrevelado ao
fim de seus dois concorrentes,
"Une Liaison Pornographique" e
"Pas de Scandale".
No primeiro, o mistério oculta a
heterodoxa prática sexual que
une um par de amantes anônimos. A pornografia resume-se ao
título. Sexo é discutido, mas jamais mostrado.
Dirigido por Fréderic Fonteyne,
"Une Liaison Pornographique"
parece uma mistura diluída de "O
Último Tango em Paris" e "Um
Homem, uma Mulher".
Não chega muito longe, mas
deixa-se ver sobretudo pelo desempenho do par central, vivido
por Nathalie Baye ("Detetive") e
Sergi Lopez ("Western").
Por sua vez, em "Pas de Scandale" o segredo repousa no motivo
da breve prisão de um empresário
(Fabrice Luchini), pesquisando as
dificuldades de sua reinserção
após a soltura.
Isabelle Huppert faz sua madura esposa e Vincent Lyndon interpreta o perturbado irmão dele.
Benoit Jacquot dirige com a fluência e a superficialidade de sempre.
Nada de novo, portanto.
O crítico Amir Labaki viajou a convite da direção do festival.
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