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Preso a fórmula, Greenaway só faz auto-reverência
do enviado a Veneza
O apito já havia soado em Cannes-99 quando "Oito e Meia Mulheres" fracassou estrondosamente.
Peter Greenaway virou fórmula,
aquilo que Ingmar Bergman decretou como a morte do artista.
"Death of a Composer" ("Morte
de Um Compositor"), exibido no
fim-de-semana, fora de competição, confirma os piores temores.
Trata-se da versão em vídeo para a segunda montagem na Holanda da ópera "Rosa, A Horse
Drama" ("Rosa, Um Drama
Equestre"). A primeira, marcando a estréia de Greenaway no gênero, fora em 1994; a remontagem
data do ano passado.
O enredo enfoca o músico Juan
Manuel de Rosa, morto misteriosamente aos 32 anos no Uruguai.
Casado com Esmeralda, herdeira
da aristocracia local, preferia cavalos a ela.
Não é difícil imaginar como
Greenaway apropria-se dessa história. Primeiro, anuncia Rosa como o primeiro de dez músicos assassinados de maneira similar entre 1945 e 1980, de Anton Webern
a John Lennon. Mais uma série,
portanto.
Sua montagem torna Rosa um
mero coadjuvante. Esmeralda
(Marie Angel) e a Investigatrix
(Miranda van Kralingen) dominam a cena. A primeira despe-se e
deixa-se humilhar visando a reconquista do marido. A segunda
narra histrionicamente os acontecimentos.
Tudo se passa num dos matadouros da família de Esmeralda.
Numa tela, composta de quatro
lençóis sujos por três meses de
noites de sexo, projetam-se frases
do libreto e imagens sobretudo de
faroestes. Um piano repousa num
canto, um cavalo preso noutro.
Entre enumerações e auto-referências, segue-se o drama de Rosa. Este deixa de ser apenas um
vulto no meio do espetáculo, interpretado por Lyndon Terracini,
não muito antes de seus dois futuros algozes. Resulta menos enigmático do que desimportante.
A trilha minimalista, como
sempre, dessa vez de Louis Andriessen, é agressiva e fatigante.
Assim, tudo em "Rosa", e em
"Death", aponta para um esgotamento do barroquismo greenawayano.
Sua obra parece girar em falso.
A auto-referência virou auto-reverência. Ninguém ganha com isso.
(AL)
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