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MÚSICA
Banda mineira fala sobre novo trabalho e comenta polêmicas com Milton Nascimento, Molejo e MTV
"Discriminado", Pato Fu lança 5º CD
Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
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John, Fernanda, Ricardo e Xandi, integrantes do Pato FU, que lança "Isopor" |
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O novo -o quinto- álbum da
banda mineira Pato Fu é de isopor. "Isopor" é o título do disco,
que dá dica da direção tomada
pelo grupo, no mais tecnológico
de seus trabalhos até agora.
"Isopor é plástico, é leve, mas é
pesado. É o som que a gente faz.
Mas a gente dá o título e depois
tem que inventar a explicação",
brinca o guitarrista e vocalista
John, 33, sem querer criando uma
definição para "pop".
Quem reaparece, nessa curva, é
o produtor Dudu Marote, o primeiro que orienta o Pato Fu por
mais de um disco -havia produzido parte de "Televisão de Cachorro" (98), o CD anterior.
A vocalista do Pato, Fernanda
Takai, 28, justifica a associação
com Marote, cacique paulistano
do sucesso mineiro de Skank, Jota
Quest e, desde os 120 mil exemplares vendidos de "Televisão de
Cachorro", também do Pato Fu.
"Desta vez, lutamos contra o
Dudu com as mesmas armas.
Agora temos nossos próprios
computadores, não é mais só ele",
brinca. "Mas nesse trabalho, também, ele tentou dar um salto para
o futuro. Agora ele está falando
mais a nossa língua."
"Em termos de sequência, "Isopor" é o mais radicalmente diferente dos nossos discos. Acho até
que retomamos um pouco o jeito
de compor lá do "Rotomusic de
Liquidificapum" (o primeiro CD,
de 93)", arremata John.
Para esclarecer, Fernanda refaz
a rota da relação com Marote, a
partir da proposição: "Apesar de
hoje o Pato Fu ser uma das principais bandas pop da BMG, temos o
compromisso de, musicalmente,
estar à frente das outras bandas".
"No começo, nem cogitávamos
trabalhar com um cara como ele.
Tudo começou quando fomos fazer uma gravação juntos, uma
versão de "Não Identificado", de
Caetano, que entraria numa trilha
de novela -a versão de outra
pessoa ficou mais bonita, acho
que era Paulo Ricardo", lembra.
"Começamos a nos falar, trocamos fitas. Aí vimos que ele gostava de coisas de que nós gostávamos, não escutava só Skank e
"dancehall". Acho que hoje ele trabalha mais para nós do que para a
gravadora", conclui Fernanda.
"TV de Cachorro", ao que parece, foi benéfico ao Pato num quesito: "Tivemos muito problema
de imagem entre 96 e 98, por causa de "Pinga" (do disco "Tem mas
Acabou", de 96). Era o auge dos
Mamonas Assassinas, e fomos
mal interpretados, acharam que
éramos só gracinha".
Fernanda admite em "Isopor" a
influência do pop japonês ("Pizzicato Five, essas coisas híbridas
mundiais"), e o define como um
disco de amor. "Principalmente, é
um disco só de músicas nossas,
com exceção de "O Filho Predileto
do Rajneesh", do Rubinho Troll,
do Sexo Explícito (banda em que
John tocou), um cara que não é
abençoado por ninguém."
A conversa toma então o rumo
das bênçãos. "Dizem que não somos amigos de ninguém, que não
gostamos disso, daquilo. A gente
é muito marginalizado no meio.
Quem é a turma do Pato Fu? Não
tem. Por outro lado, é um saco
que aqui não se possa falar mal de
ninguém, não se possa criticar,
porque não fica bem", reclama
Fernanda.
Caso 1: o Molejo: "Tivemos que
fazer, por um pedido, um dueto
com um grupo de pagode para a
MTV. Tínhamos que escolher entre Molejo, Exaltasamba e Karametade. O que é que a gente tem a
ver com eles? Absolutamente nada. Não acho que tenha arranhado nossa imagem, mas me senti
meio arranhada na minha honra
artística", diz Fernanda.
John vai em rumo parecido: "Às
vezes não sei direito qual é o nosso segmento. A grande mídia tenta de todas as formas misturar tudo. Tenho que ir aos mesmos programas que grupos de axé, sertanejo, pagode. Se fosse mais segmentada, a gente poderia ir mais a
fundo em certos conceitos".
"Foi forçado tocar com o Molejo. A MTV pode fazer a entrada
que quer dos gêneros populares
na programação sem precisar disso. Se misturo minhas notas musicais com as deles, não fica bom,
artisticamente falando. Sei que os
caras não querem tocar com a
gente também. Na hora é divertido, mas depois acho uma merda",
continua John.
Caso 2: a polêmica com Milton
Nascimento, que vetou Fernanda
Takai como apresentadora de sua
participação no "Video Music
Brasil" da MTV, porque o Pato Fu
teria afirmado que não foi influenciado pelo clube da esquina.
"Não consegui saber da boca
dele, pois ignorou solenemente os
recados deixados pelo Pato Fu.
Fui ver arquivos, não sei de nada
que eu tenha falado. A gente fala
que não é influenciado, que quando começamos ouvíamos Clash.
Não amo o Clube da Esquina, mas
não o odeio. O que ele tem contra
mim?", indaga Fernanda.
"O tempo todo parece que a
gente precisa acordar e pedir bênção para alguém", continua. "Hoje, acho que Milton é uma pessoa
rancorosa, por razões que não sei
quais são. Musicalmente, falaria
que é um dos maiores do Clube
da Esquina, um grande artista.
Como pessoa, foi uma surpresa."
John: "O máximo que conseguimos chegar foi ao Sexo Explícito.
Rubinho dizia que Clube da Esquina era antiinfluência, isso há
15 anos. Se Milton está com mágoa até hoje, é uma bela úlcera.
Para a gente, foi uma grande ofensa pessoal".
Sobre a MTV: "Ficamos chateados também, pensávamos que
fosse mais ou menos a nossa casa.
Sei que Milton é 200 vezes maior
que eu. Eu não sou nada".
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