São Paulo, Quarta-feira, 06 de Outubro de 1999
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MÚSICA

Banda mineira fala sobre novo trabalho e comenta polêmicas com Milton Nascimento, Molejo e MTV

"Discriminado", Pato Fu lança 5º CD

Otavio Dias de Oliveira/Folha Imagem
John, Fernanda, Ricardo e Xandi, integrantes do Pato FU, que lança "Isopor"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local



O novo -o quinto- álbum da banda mineira Pato Fu é de isopor. "Isopor" é o título do disco, que dá dica da direção tomada pelo grupo, no mais tecnológico de seus trabalhos até agora.
"Isopor é plástico, é leve, mas é pesado. É o som que a gente faz. Mas a gente dá o título e depois tem que inventar a explicação", brinca o guitarrista e vocalista John, 33, sem querer criando uma definição para "pop".
Quem reaparece, nessa curva, é o produtor Dudu Marote, o primeiro que orienta o Pato Fu por mais de um disco -havia produzido parte de "Televisão de Cachorro" (98), o CD anterior.
A vocalista do Pato, Fernanda Takai, 28, justifica a associação com Marote, cacique paulistano do sucesso mineiro de Skank, Jota Quest e, desde os 120 mil exemplares vendidos de "Televisão de Cachorro", também do Pato Fu.
"Desta vez, lutamos contra o Dudu com as mesmas armas. Agora temos nossos próprios computadores, não é mais só ele", brinca. "Mas nesse trabalho, também, ele tentou dar um salto para o futuro. Agora ele está falando mais a nossa língua."
"Em termos de sequência, "Isopor" é o mais radicalmente diferente dos nossos discos. Acho até que retomamos um pouco o jeito de compor lá do "Rotomusic de Liquidificapum" (o primeiro CD, de 93)", arremata John.
Para esclarecer, Fernanda refaz a rota da relação com Marote, a partir da proposição: "Apesar de hoje o Pato Fu ser uma das principais bandas pop da BMG, temos o compromisso de, musicalmente, estar à frente das outras bandas".
"No começo, nem cogitávamos trabalhar com um cara como ele. Tudo começou quando fomos fazer uma gravação juntos, uma versão de "Não Identificado", de Caetano, que entraria numa trilha de novela -a versão de outra pessoa ficou mais bonita, acho que era Paulo Ricardo", lembra.
"Começamos a nos falar, trocamos fitas. Aí vimos que ele gostava de coisas de que nós gostávamos, não escutava só Skank e "dancehall". Acho que hoje ele trabalha mais para nós do que para a gravadora", conclui Fernanda.
"TV de Cachorro", ao que parece, foi benéfico ao Pato num quesito: "Tivemos muito problema de imagem entre 96 e 98, por causa de "Pinga" (do disco "Tem mas Acabou", de 96). Era o auge dos Mamonas Assassinas, e fomos mal interpretados, acharam que éramos só gracinha".
Fernanda admite em "Isopor" a influência do pop japonês ("Pizzicato Five, essas coisas híbridas mundiais"), e o define como um disco de amor. "Principalmente, é um disco só de músicas nossas, com exceção de "O Filho Predileto do Rajneesh", do Rubinho Troll, do Sexo Explícito (banda em que John tocou), um cara que não é abençoado por ninguém."
A conversa toma então o rumo das bênçãos. "Dizem que não somos amigos de ninguém, que não gostamos disso, daquilo. A gente é muito marginalizado no meio. Quem é a turma do Pato Fu? Não tem. Por outro lado, é um saco que aqui não se possa falar mal de ninguém, não se possa criticar, porque não fica bem", reclama Fernanda.
Caso 1: o Molejo: "Tivemos que fazer, por um pedido, um dueto com um grupo de pagode para a MTV. Tínhamos que escolher entre Molejo, Exaltasamba e Karametade. O que é que a gente tem a ver com eles? Absolutamente nada. Não acho que tenha arranhado nossa imagem, mas me senti meio arranhada na minha honra artística", diz Fernanda.
John vai em rumo parecido: "Às vezes não sei direito qual é o nosso segmento. A grande mídia tenta de todas as formas misturar tudo. Tenho que ir aos mesmos programas que grupos de axé, sertanejo, pagode. Se fosse mais segmentada, a gente poderia ir mais a fundo em certos conceitos".
"Foi forçado tocar com o Molejo. A MTV pode fazer a entrada que quer dos gêneros populares na programação sem precisar disso. Se misturo minhas notas musicais com as deles, não fica bom, artisticamente falando. Sei que os caras não querem tocar com a gente também. Na hora é divertido, mas depois acho uma merda", continua John.
Caso 2: a polêmica com Milton Nascimento, que vetou Fernanda Takai como apresentadora de sua participação no "Video Music Brasil" da MTV, porque o Pato Fu teria afirmado que não foi influenciado pelo clube da esquina.
"Não consegui saber da boca dele, pois ignorou solenemente os recados deixados pelo Pato Fu. Fui ver arquivos, não sei de nada que eu tenha falado. A gente fala que não é influenciado, que quando começamos ouvíamos Clash. Não amo o Clube da Esquina, mas não o odeio. O que ele tem contra mim?", indaga Fernanda.
"O tempo todo parece que a gente precisa acordar e pedir bênção para alguém", continua. "Hoje, acho que Milton é uma pessoa rancorosa, por razões que não sei quais são. Musicalmente, falaria que é um dos maiores do Clube da Esquina, um grande artista. Como pessoa, foi uma surpresa."
John: "O máximo que conseguimos chegar foi ao Sexo Explícito. Rubinho dizia que Clube da Esquina era antiinfluência, isso há 15 anos. Se Milton está com mágoa até hoje, é uma bela úlcera. Para a gente, foi uma grande ofensa pessoal".
Sobre a MTV: "Ficamos chateados também, pensávamos que fosse mais ou menos a nossa casa. Sei que Milton é 200 vezes maior que eu. Eu não sou nada".


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