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CRÍTICA
Com "Isopor", Patinho faz disco macio
da Reportagem Local
"Isopor" estabelece uma síntese na discografia do Pato
Fu. Talvez nem
seja seu CD
mais irretocável -"Gol de
Quem?" (95) ainda é imbatível-,
mas é o mais maduro e compacto
no uso combinado de pop, de
rock, de eletrônica, de influência,
de humor, de lirismo, de poesia.
É uma banda de personalidade,
ainda que tenha oscilado um pouco além da conta até aqui -mas é
na média ponderada entre "Gol
de Quem?" e "Isopor" que parece
estar guardada a senha do Pato.
Aí se interpõe o embate criativo
com o produtor Dudu Marote, até
aqui mergulhado no comercialismo excessivo, às vezes mesmo no
oportunismo explícito.
Pato Fu é hoje, parece, cobaia de
laboratório para Marote testar
seu poder de contemporaneidade. Na química simpática do
"cientista" meio bocó com a "cobaia" espertinha, "Isopor" é um
disco de banda pop e de produtor
pop empatados no conflito de
consciência com o comercialismo
do pop.
É por isso que, todos juntos,
perseguem a contemporaneidade
rodando em torno de alguns clichês -o que, no caso, nem é demérito, porque o resultado criativo, à parte decalques descarados
de Björk (em "Um Ponto Oito" e
"Saudade"), é muito positivo para... o pop tupinambá.
A referência constante é do pop
mundial de olhos puxados, de
Björk aos japoneses Pizzicato Five
(citado muito diretamente na
pândega "Made in Japan", que
inicia o CD, em japonês), Cornelius, Cibo Matto.
O Pato usa tais referenciais tanto na sonoridade quanto na constância de falar de comidinhas e
bebidinhas, bem à japonesa.
Na delicada "Isopor", comem
"pastel de vento/ sanduíche de
isopor/ bolo de esquecimento";
em "Depois", mais fofa ainda,
"tomo um café e um guaraná pra
me animar"; no clímax, há "O
Prato do Dia": "Tô me sentindo
meio janta hoje/ tô me sentindo
meio arroz com feijão", achado
de nonsense com senso, mostra
de como John é afiado letrista.
Nos bons momentos -e são
abundantes-, o casamento entre
pequeninos achados poéticos e a
musicalidade de veludo extraída
dos clichês faz de "Isopor" um
disco macio, colorido.
São colantes e carismáticas, nesse sentido, "Isopor", "Depois",
"Imperfeito", "Morto", a muito
madura "Perdendo Dentes".
"Morto", muito brava, é exceção,
mas igualmente bem-sucedida.
Mais longe vai "O Filho Predileto do Rajneesh", do Sexo Explícito, manifesto feminino escrito
por um homem -e muito provocativo: "Você sabe que a mulher/
tem um apetite sexual/ dez vezes
maior que o seu/ amigo meu?".
Quem brilha, lado a lado com o
tratamento pop incisivo, é a minúscula voz de Fernanda Takai
-que deveria ser um dos pontos
de ataque do Pato no futuro.
Seu canto é curto, leva a uma
comparação para o bem com a da
jovem Rita Lee, dos tempos Mutantes. Mas Fernanda precisa
aprimorá-lo, encorpá-lo, torná-lo
de verdade (é o que sempre tem
faltado no pop nacional, e não deve faltar, e é questão de afinco).
Ligando os pontinhos, o pop de
isopor do Patinho vai bem, obrigado. Estão indo, subindo a montanha, e é de cantar junto.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Isopor
Banda: Pato Fu
Lançamento: Plug/BMG
Quanto: R$ 18, em média
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