São Paulo, Quarta-feira, 06 de Outubro de 1999
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CRÍTICA

Com "Isopor", Patinho faz disco macio

da Reportagem Local

"Isopor" estabelece uma síntese na discografia do Pato Fu. Talvez nem seja seu CD mais irretocável -"Gol de Quem?" (95) ainda é imbatível-, mas é o mais maduro e compacto no uso combinado de pop, de rock, de eletrônica, de influência, de humor, de lirismo, de poesia.
É uma banda de personalidade, ainda que tenha oscilado um pouco além da conta até aqui -mas é na média ponderada entre "Gol de Quem?" e "Isopor" que parece estar guardada a senha do Pato.
Aí se interpõe o embate criativo com o produtor Dudu Marote, até aqui mergulhado no comercialismo excessivo, às vezes mesmo no oportunismo explícito.
Pato Fu é hoje, parece, cobaia de laboratório para Marote testar seu poder de contemporaneidade. Na química simpática do "cientista" meio bocó com a "cobaia" espertinha, "Isopor" é um disco de banda pop e de produtor pop empatados no conflito de consciência com o comercialismo do pop.
É por isso que, todos juntos, perseguem a contemporaneidade rodando em torno de alguns clichês -o que, no caso, nem é demérito, porque o resultado criativo, à parte decalques descarados de Björk (em "Um Ponto Oito" e "Saudade"), é muito positivo para... o pop tupinambá.
A referência constante é do pop mundial de olhos puxados, de Björk aos japoneses Pizzicato Five (citado muito diretamente na pândega "Made in Japan", que inicia o CD, em japonês), Cornelius, Cibo Matto.
O Pato usa tais referenciais tanto na sonoridade quanto na constância de falar de comidinhas e bebidinhas, bem à japonesa.
Na delicada "Isopor", comem "pastel de vento/ sanduíche de isopor/ bolo de esquecimento"; em "Depois", mais fofa ainda, "tomo um café e um guaraná pra me animar"; no clímax, há "O Prato do Dia": "Tô me sentindo meio janta hoje/ tô me sentindo meio arroz com feijão", achado de nonsense com senso, mostra de como John é afiado letrista.
Nos bons momentos -e são abundantes-, o casamento entre pequeninos achados poéticos e a musicalidade de veludo extraída dos clichês faz de "Isopor" um disco macio, colorido.
São colantes e carismáticas, nesse sentido, "Isopor", "Depois", "Imperfeito", "Morto", a muito madura "Perdendo Dentes". "Morto", muito brava, é exceção, mas igualmente bem-sucedida.
Mais longe vai "O Filho Predileto do Rajneesh", do Sexo Explícito, manifesto feminino escrito por um homem -e muito provocativo: "Você sabe que a mulher/ tem um apetite sexual/ dez vezes maior que o seu/ amigo meu?".
Quem brilha, lado a lado com o tratamento pop incisivo, é a minúscula voz de Fernanda Takai -que deveria ser um dos pontos de ataque do Pato no futuro.
Seu canto é curto, leva a uma comparação para o bem com a da jovem Rita Lee, dos tempos Mutantes. Mas Fernanda precisa aprimorá-lo, encorpá-lo, torná-lo de verdade (é o que sempre tem faltado no pop nacional, e não deve faltar, e é questão de afinco).
Ligando os pontinhos, o pop de isopor do Patinho vai bem, obrigado. Estão indo, subindo a montanha, e é de cantar junto. (PAS)


Avaliação:    


Disco: Isopor
Banda: Pato Fu
Lançamento: Plug/BMG
Quanto: R$ 18, em média


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