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Teorias freudianas são recebidas no Brasil desde os anos 10
ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de ser um país da periferia do capitalismo, a psicanálise
chegou cedo ao Brasil. Médicos
brasileiros foram receptivos às
idéias de Freud já na década de
1910, enquanto na Europa elas
eram alvo de forte resistência. No
campo da cultura, os modernistas
começaram a usar os conceitos
psicanalíticos antes mesmo que o
manifesto surrealista, de 1924, os
colocasse em circulação entre os
artistas europeus.
O simpósio "Psicanálise e Modernismo", que começa hoje no
Masp, e o módulo brasileiro da
mostra "Freud: Conflito e Cultura", que abre na segunda-feira,
também no Masp, vão resgatar o
aventuroso desembarque das teorias freudianas no Brasil.
Na mostra, será possível acompanhar a história da recepção
aqui das teses nascidas em Viena.
Lá estarão a conferência que Juliano Moreira, catedrático de psiquiatria da Faculdade Nacional de
Medicina, no Rio de Janeiro, pronunciou, em 1914, sobre a "A Psicanálise de Freud". Também poderá ser visto o livro "Psicologia
Mórbida na Obra de Machado de
Assis", que o médico mineiro
Luiz Ribeiro do Valle, publicou
em 1916, inspirado em Freud.
Entre a elite de São Paulo, então
preocupada em se modernizar, as
sementes freudianas caíram em
solo fértil. Um grupo de paulistas,
resolve fundar, em 1927, a Sociedade Brasileira de Psicanálise, a
primeira instituição psicanalítica
da América Latina (só reconhecida oficialmente, no entanto, em
1951).
A iniciativa coube a Durval
Marcondes, discípulo de Franco
da Rocha, catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina de
São Paulo. Mas na ata de fundação há vários não-médicos, entre
eles juristas e escritores. "É peculiar ao Brasil o fato de a primeira
sociedade psicanalítica ter sido
fundada como um movimento de
intelectuais", diz o psicanalista
Elias Rocha Barros, editor para
América Latina do "International
Journal of Psychoanalysis".
O fato de ter entrado pela mão
de intelectuais, e não exclusivamente de médicos, como na
maior parte da Europa e nos EUA,
fez a psicanálise de São Paulo ser
"socialmente mais engajada", na
opinião da psicanalista Anna Veronica Mautner (veja, nesta página, entrevista de Mautner com
Virgínia Bicudo, uma das fundadoras da psicanálise no Brasil, que
conta a trajetória da socióloga).
Já no Rio de Janeiro, a história
foi outra. A psicanalista Helena
Besserman Vianna afirma no livro "Não Conte a Ninguém", que
o homem que a Associação Psicanalítica Internacional enviou para
implantar a psicanálise na cidade
havia trabalhado, durante a guerra, no Instituto Göring, de Berlim.
O Instituto Göring foi criado
por um sobrinho do Marechal
Göring, um dos principais líderes
do regime nazista e reunia psicanalistas não-judeus que aceitaram
trabalhar sob a ideologia nacional-socialista.
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