São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2000

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Teorias freudianas são recebidas no Brasil desde os anos 10

ANDRÉ SINGER
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de ser um país da periferia do capitalismo, a psicanálise chegou cedo ao Brasil. Médicos brasileiros foram receptivos às idéias de Freud já na década de 1910, enquanto na Europa elas eram alvo de forte resistência. No campo da cultura, os modernistas começaram a usar os conceitos psicanalíticos antes mesmo que o manifesto surrealista, de 1924, os colocasse em circulação entre os artistas europeus.
O simpósio "Psicanálise e Modernismo", que começa hoje no Masp, e o módulo brasileiro da mostra "Freud: Conflito e Cultura", que abre na segunda-feira, também no Masp, vão resgatar o aventuroso desembarque das teorias freudianas no Brasil.
Na mostra, será possível acompanhar a história da recepção aqui das teses nascidas em Viena. Lá estarão a conferência que Juliano Moreira, catedrático de psiquiatria da Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, pronunciou, em 1914, sobre a "A Psicanálise de Freud". Também poderá ser visto o livro "Psicologia Mórbida na Obra de Machado de Assis", que o médico mineiro Luiz Ribeiro do Valle, publicou em 1916, inspirado em Freud.
Entre a elite de São Paulo, então preocupada em se modernizar, as sementes freudianas caíram em solo fértil. Um grupo de paulistas, resolve fundar, em 1927, a Sociedade Brasileira de Psicanálise, a primeira instituição psicanalítica da América Latina (só reconhecida oficialmente, no entanto, em 1951).
A iniciativa coube a Durval Marcondes, discípulo de Franco da Rocha, catedrático de psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo. Mas na ata de fundação há vários não-médicos, entre eles juristas e escritores. "É peculiar ao Brasil o fato de a primeira sociedade psicanalítica ter sido fundada como um movimento de intelectuais", diz o psicanalista Elias Rocha Barros, editor para América Latina do "International Journal of Psychoanalysis".
O fato de ter entrado pela mão de intelectuais, e não exclusivamente de médicos, como na maior parte da Europa e nos EUA, fez a psicanálise de São Paulo ser "socialmente mais engajada", na opinião da psicanalista Anna Veronica Mautner (veja, nesta página, entrevista de Mautner com Virgínia Bicudo, uma das fundadoras da psicanálise no Brasil, que conta a trajetória da socióloga).
Já no Rio de Janeiro, a história foi outra. A psicanalista Helena Besserman Vianna afirma no livro "Não Conte a Ninguém", que o homem que a Associação Psicanalítica Internacional enviou para implantar a psicanálise na cidade havia trabalhado, durante a guerra, no Instituto Göring, de Berlim.
O Instituto Göring foi criado por um sobrinho do Marechal Göring, um dos principais líderes do regime nazista e reunia psicanalistas não-judeus que aceitaram trabalhar sob a ideologia nacional-socialista.


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