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SHOW
Autor da segunda geração da bossa faz shows em SP com cantora, compõe com Chico e negocia CD com Dori Caymmi
Edu Lobo volta nos braços de Gal Costa
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
São Paulo abriga, hoje e amanhã, um encontro histórico para a
sagrada MPB. Pela primeira vez,
se encontram num só show um
dos mais importantes músicos da
segunda geração da bossa nova,
Edu Lobo, 57, e a principal cantora tropicalista, Gal Costa, 55.
A promessa é que, juntos, dividam canções da bossa engajada
de Edu, como "Pra Dizer Adeus"
(66), "Canto Triste" (67) e "Candeias" (67), entre outras.
Respeitadas as convenções de
cada subgrupo, Gal tem estado
bem mais presente a olhos e ouvidos públicos. A Folha foi até a casa do carioca Edu, para ouvir o lado menos falante. Lá, o co-autor
de "Upa, Neguinho" (65), "Arrastão" (65) e "Ponteio" (67) falou
sobre sua história e sobre projetos
de retomada da parceria musical/teatral com Chico Buarque e
de um CD com Dori Caymmi.
Folha - Seu pai, Fernando Lobo,
foi compositor de dor-de-cotovelo,
desses que a bossa nova dizia negar. Você também o negou?
Edu - Não estava consciente disso. João Gilberto foi um susto, todo mundo se lembra exatamente
da primeira vez que ouviu. Mas
também tentei escapulir do formato bossa nova, indo procurar
outras fontes, da minha própria
história, do pai pernambucano.
Fiz frevo, baião, mas a partir do
aprendizado da bossa. Buscávamos uma identidade. Esse nome
canção de protesto é tão ruim, essa história de Bob Dylan brasileiro. Sou músico, nem fazia letra. O
protesto de Dylan e Joan Baez privilegiava a letra, não a música.
Ouvi muito compositor de protesto chatérrimo de doer, de letra
importante e música muito ruim.
Folha - Qual foi a importância dos
festivais para sua história?
Edu - Esse ambiente já existia em
São Paulo, havia uma ligação com
as canções políticas, a participação estudantil, um nível cultural
bastante diferente do de hoje. Festival era a festa de final de ano de
uma TV que estava investindo em
música para valer. É quase inacreditável, mas todos éramos contratados pela Record, assalariados.
Éramos tipo atores da novela, não
dava muito para sair na rua.
Folha - Você era um pop star?
Edu - Não fui um pop star. Não
cheguei a isso. Não tive vendagens
fantásticas, não fiz carreira de
cantor. Pop star foi Roberto Carlos. Em 69, fui para Los Angeles
porque queria estudar orquestração. Me incomodava não saber a
gramática musical, não ler partitura. É mais fácil ler música do
que ler texto. Aumenta o prazer, a
sensibilidade para a música.
Folha - A tropicália ajudou a fechar as partituras?
Edu - Às vezes sou colocado como o grande opositor da tropicália, mas não é verdade. Apenas
não concordava com todas as coisas. Achava interessantes os novos arranjos, mas o que mais me
incomodou foi um gosto que tinha de ser obrigatoriamente variado, a "geléia geral". Estava sinceramente bem mais interessado
no grupo mineiro. Fomos colocados como a turma careta, que usava smoking, não digo de direita,
mas conservadora.
Folha - Você é conservador?
Edu - Acho que em nenhum momento fui um músico conservador. Essa coisa se confunde muito
mais com atitude do que com o
que se faz em música, que é o que
importa. Não consigo gostar de
tudo, tenho minhas escolhas. Escolhas de atitude provocam rebuliço. Você só vai me ouvir dizer
que acho Julio Iglesias o cara ideal
para cantar minhas músicas se eu
estiver surtando ou querendo dar
uma declaração bombástica.
Folha - Apesar da afinidade com
Chico, vocês demoraram a se tornar parceiros. Por quê?
Edu - Fiz os arranjos de "Calabar" (73), e a partir daí a gente foi
convivendo, virando amigo.
Quando começaram as idéias de
fazer trilha para balé pensei nele,
porque acompanhava seu trabalho em teatro. Isso vem até hoje,
estamos retomando com uma
idéia que partiu de um grupo que
queria que fizéssemos um musical sobre os 500 anos do Brasil.
Nosso interesse nisso era zero. Aí
falaram que podia ser o que quiséssemos. Foi surgindo o projeto
"Sonhos", que não pegou fogo
ainda. Estamos fazendo, há quatro canções prontas até agora.
Folha - Querer ser compositor o
afastou dos palcos?
Edu - Não sou um artista de palco. Hoje tenho uma tranquilidade
no palco que nunca tive, mas queria priorizar a coisa do compositor mesmo, não gostava de ser
chamado de "o cantor Edu Lobo".
O show com Gal é uma exceção,
quase uma maluquice. Surgiu totalmente por acaso. Era para ser
um show de Gal com Baden Powell, mas ele estava doente (Powell morreu em setembro).
Folha - Você está negociando gravar pela Trama?
Edu - É, estou. Negociamos relançar aqueles balés todos com
Chico, e também há um projeto
meu com Dori Caymmi. Pensamos em misturar canções minhas
e dele e músicas que tenham a ver
com nossa vida e formação, que
são parecidas e muito próximas.
Folha - O projeto de mundo da
sua geração não deu certo?
Edu - O sonho não deu certo. Se
dissessem em 64 que hoje as rádios iam estar deste jeito, com padre que não sabe cantar direito
vendendo milhões, nenhum de
nós acreditaria. A revolução de 64
e o AI-5 desarrumaram uma geração, e depois o mercado tomou
conta. Começou a era pragmática,
as coisas são feitas para funcionar.
Acho arte pragmática um absurdo, uma frase que não se forma.
Folha - Vocês, artistas, se acomodaram a esse cenário adverso, não?
Edu - Porque não funciona. De
certa forma... Não. Esse musical
está sendo feito na raça, no risco.
Não estamos acomodados, não.
Show: Gal Costa e Edu Lobo
Onde: Credicard Hall (av. das Nações
Unidas, 17.955, tel. 0/xx/11/5643-2500)
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Quanto: R$ 25 a R$ 70
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