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Com dois anos de atraso, estréia hoje em SP o longa mais pessoal dos anos 90 do cineasta
"Celebridades" conta os bastidores de Hollywood; "Poucas e Boas" deve estrear no final de dezembro
O dia em que Woody Allen abriu as portas aos paparazzi
Divulgação
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A atriz Charlize Theron interpreta uma supermodelo com uma doença que faz todas as partes de seu corpo virarem zonas erógenas nesta produção de 1998, sobre a busca desesperada pelo sucesso e para se tornar famoso, dirigida pelo cineasta norte-americano Woody Allen |
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"Help". É assim, com "socorro" escrito em fumaça
por um avião no céu, ao som da
"Quinta" de Beethoven, que começa o filme de Woody Allen
mais pessoal dos anos 90, "Celebridades" ("Celebrity", 1998), que
estréia hoje nas telas de São Paulo.
Kenneth Branagh, que interpreta o melhor alter ego do diretor
desde que John Cusack fez "Tiros
na Broadway", é o jornalista Lee
Simon, entrevistador de celebridades angustiado pela futilidade
de sua existência, mas que não liga de tirar suas casquinhas do
mundo a seu redor.
Simon tenta terminar um romance que nunca escreve e que
daria algum sentido à sua vida.
Enquanto isso, ele:
1. Divorcia-se da mulher, a ótima Judy Davis (em seu quarto filme com o diretor, ela vem se especializando na típica mulher neurótica alleniana), que, desesperada, tenta se encontrar num retiro
católico, pensa em fazer plástica e
se envolve com Joe Mantegna;
2. Tem um casinho com Melanie Griffith (em seu primeiro papel sem voz de retardada, uma vitória do diretor?), atriz de quem
está escrevendo um perfil;
3. Envolve-se com Charlize Theron, uma supermodelo, um dos
personagens mais engraçados;
4. Tenta vender um script para
Leonardo DiCaprio;
5. Vai morar com a fútil Famke
Janssen;
6. Apaixona-se por Winona
Ryder e se dá mal;
7. Termina como começou.
Alguém falou em "A Doce Vida", de Fellini? É óbvio. Allen homenageia a obra-prima de um de
seus diretores preferidos, a começar pelo preto-e-branco (cujo uso
ele faz questão de ironizar).
Mas é também uma tentativa ferina e inteligente de mostrar o
mecanismo pelo qual as celebridades atuais são criadas e mantidas, com a imprensa tendo um
papel capital na história.
Poderia virar uma discussão
chata e sem graça de curso de semiótica (como ele fez com o pesadíssimo "Interiores"), mas os diálogos e as ironias que pontuam
cada cena cuidam de não deixar
isso acontecer.
"Quem é mais pop, o papa ou
Elvis Presley?", discute um padre
Marcelo local. "Por favor, não pegue pesado na bulimia", pede o
divulgador da estrela. "Desculpe-me pelas piadas de cunho ateu",
agradece a Deus o jornalista antes
de transar com a modelo.
"Eu sempre vejo seus tapes de
exercício", diz a fã à apresentadora. "Eu também", completa o marido dela. "É, mas eu uso para me
exercitar", cutuca a mulher.
"Aquele é um jovem talento que
está filmando a sequência de um
remake", diz o insider.
"Não pergunte por quem os sinos dobram, mas sim por quem a
privada dá a descarga", filosofa o
alpinista social. O filme é todo
bom. A começar pelo cartaz, que
imita a capa da revista "People" (a
"Caras" norte-americana).
É também um pedido de ajuda
de Woody Allen. O diretor nunca
se envergonhou de usar sua obra
como veículo para recados de sua
vida pessoal dirigidos à audiência
e a quem mais possa interessar.
Quando estava apaixonado pela
atriz Lousie Lasser, a colocou em
seus quatro primeiros longas para
cinema. No auge da relação com
Diane Keaton, fez "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa".
Veja de novo "Hannah e Suas
Irmãs" e "Maridos e Esposas" à
luz de toda a polêmica com Mia
Farrow: está tudo lá. Já este "Celebridades" foi rodado no meio das
acusações de abuso sexual da filha
feitas por Mia. Nunca antes Allen
foi tão assunto de tablóides.
Pense nisso quando enxergar
aquele "help" escrito no céu.
Celebridades
Celebrity
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 1998
Com: Kenneth Branagh, Judy Davis, Joe
Mantegna, Winona Ryder, Leonardo
DiCaprio, Charlize Theron
Quando: a partir de hoje nos cines
Lumière, Espaço Unibanco e circuito
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