São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2001 |
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ARTES PLÁSTICAS Bem-vindo ao inferno
FABIO CYPRIANO DA REPORTAGEM LOCAL É como observar o caderno de rascunhos de um grande artista. "A Porta do Inferno", escultura em gesso de Auguste Rodin (1840-1917), presente na mostra que é inaugurada na Pinacoteca (hoje para convidados e amanhã para o público), é a matriz para outras obras, ícones da história das esculturas. "O Pensador", "O Beijo" e "Adão" são algumas das obras-primas de Rodin que -literalmente- saíram da porta. "Ela é o resumo da vida de Rodin, apresenta sua admiração pela arquitetura gótica e a Renascença italiana e sobretudo a demonstração do poder do qual o artista dotou o corpo humano", diz a conservadora chefe do Museu Rodin, Antoinette Le Normand-Romain, no catálogo da mostra. Pela primeira vez, a "Porta" será exibida na América Latina. "É um presente para São Paulo, que mostrou-se tão receptiva à obra de Rodin", diz à Folha o curador da mostra, Jacques Vilain. Não é a "Porta" em bronze, que tem sete exemplares em museus da Europa, EUA e Ásia. Tampouco o gesso original, que pertence ao Museu d'Orsay (Paris). Mas o gesso de fundição, isto é, que serviu de modelo para as portas expostas na Ásia. Ela é uma réplica exata da peça do Museu d'Orsay e pertence ao acervo do Museu Rodin, no qual Vilain é diretor. A obra foi uma encomenda da Academia de Belas-Artes, de Paris, em 1880. Seria a porta de um museu de artes decorativas, a ser criado na capital francesa. Mas o tal museu nunca abriu as portas... O tema, segundo estudiosos, foi uma sugestão do próprio Rodin: a obra de Dante Alighieri, "Divina Comédia". Da obra, Rodin inspirou-se apenas em sua parte mais sombria, o inferno. Entre os personagens identificáveis estão Paolo e Francesca, Ugolino e seus filhos, as sombras e o próprio Dante, que é "O Pensador". Na Pinacoteca estão expostas também as esculturas criadas a partir da porta. Uma das mais famosas, "O Beijo", surgiu de Paolo e Francesca. Rodin passou 20 anos trabalhando na porta. Em 1885, um primeiro modelo já estava pronto, mas modificações a transformaram ao longo do tempo. A primeira mostra pública da obra aconteceu somente em 1900, na Exposição Universal de Paris. Rodin nunca chegou a ver sua obra em bronze. A porta que é apresentada em São Paulo é, segundo Vilain, "exatamente como o artista a apresentou em 1900". Além da porta, a Pinacoteca apresenta ainda 43 esculturas em bronze, 25 desenhos e dez fotografias. Todas as obras são relacionadas ao tema da mostra. A PORTA DO INFERNO - mostra com 43 esculturas e desenhos de Auguste Rodin. Destaque para o gesso "A Porta do Inferno". Curadoria: Jacques Vilain. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, São Paulo, tel. 0/xx/11/229-9844). Quando: abertura hoje, às 20h (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 9/12. Quanto: R$ 2. Patrocinadores: Banco Safra, Telefônica e Tozzini Freire Teixeira e Silva Advogados. Texto Anterior: Da rua - Fernando Bonassi: Os americanos Próximo Texto: Análise: Artista resgatou corpo humano Índice |
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