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ANÁLISE
Artista resgatou corpo humano
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Rodin é a fina flor do simbolismo. No momento em que
o culto ao progresso e à ordem
preparava a Europa para o mergulho nos horrores da guerra, o
escultor francês resgatou o corpo
humano da inexpressividade vitoriana.
Sexo e sonho moviam a arte de
Rodin. Aspectos excluídos pela
moralidade burguesa, tornaram-se objeto de culto para um grupo
de dândis que negavam a transparência da realidade.
"A deficiência ontológica das
ciências do homem está em conferir existência ao imaginário e às
idéias", sintetizou Morin, prefigurando "A Interpretação dos Sonhos", de Freud.
Rodin iniciou a trajetória rumo
às profundezas do inconsciente
como decorador.
Após ser recusado três vezes pela Escola de Belas-Artes, em Paris,
foi trabalhar na fábrica de porcelanas de Sèvres.
A viagem de formação à Itália
inspirou "A Idade do Bronze", de
1877.
O feito valeu-lhe a encomenda
que o perseguiria por toda a existência: "A Porta do Inferno". Destinada ao Palácio das Artes Decorativas, nunca pareceu totalmente
acabada aos olhos do explosivo
criador.
O gênio de Rodin valeu-lhe uma
biografia cheia de excentricidades. Modelos masculinos e femininos andavam nus pelo ateliê,
pois a vida surgia das mãos do artista pela síntese do movimento
contínuo dos corpos.
Amou apaixonadamente tanto
a atormentada Camille Claudel,
quanto a poderosa duquesa de
Choiseul. Já famoso, recebia o rei
Eduardo 7º e tinha Rilke por secretário particular.
A paixão exprimia-se no gesto
tornado forma. Longe de afetar
facilidade pelo acabamento burilado das peças, o escultor manteve a norma de construir agrupamentos que similassem as forças
naturais, imprimidas intempestivamente aos moldes de gesso.
"Não há nada na natureza que
tenha mais caráter do que o corpo
humano", sentenciou Rodin.
"Em sua potência ou graça, evoca
as mais variadas imagens."
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