São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2001

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ANÁLISE

Artista resgatou corpo humano

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Rodin é a fina flor do simbolismo. No momento em que o culto ao progresso e à ordem preparava a Europa para o mergulho nos horrores da guerra, o escultor francês resgatou o corpo humano da inexpressividade vitoriana.
Sexo e sonho moviam a arte de Rodin. Aspectos excluídos pela moralidade burguesa, tornaram-se objeto de culto para um grupo de dândis que negavam a transparência da realidade.
"A deficiência ontológica das ciências do homem está em conferir existência ao imaginário e às idéias", sintetizou Morin, prefigurando "A Interpretação dos Sonhos", de Freud.
Rodin iniciou a trajetória rumo às profundezas do inconsciente como decorador.
Após ser recusado três vezes pela Escola de Belas-Artes, em Paris, foi trabalhar na fábrica de porcelanas de Sèvres.
A viagem de formação à Itália inspirou "A Idade do Bronze", de 1877.
O feito valeu-lhe a encomenda que o perseguiria por toda a existência: "A Porta do Inferno". Destinada ao Palácio das Artes Decorativas, nunca pareceu totalmente acabada aos olhos do explosivo criador.
O gênio de Rodin valeu-lhe uma biografia cheia de excentricidades. Modelos masculinos e femininos andavam nus pelo ateliê, pois a vida surgia das mãos do artista pela síntese do movimento contínuo dos corpos.
Amou apaixonadamente tanto a atormentada Camille Claudel, quanto a poderosa duquesa de Choiseul. Já famoso, recebia o rei Eduardo 7º e tinha Rilke por secretário particular.
A paixão exprimia-se no gesto tornado forma. Longe de afetar facilidade pelo acabamento burilado das peças, o escultor manteve a norma de construir agrupamentos que similassem as forças naturais, imprimidas intempestivamente aos moldes de gesso.
"Não há nada na natureza que tenha mais caráter do que o corpo humano", sentenciou Rodin. "Em sua potência ou graça, evoca as mais variadas imagens."


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