São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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CINEMA

"La Tigre e la Neve", novo filme do diretor italiano, é uma comédia romântica vivida em campo de batalha

Benigni repete receita em filme sobre Iraque

Efe
Os atores Roberto Benigni e Jean Reno, em cena de seu novo filme, "La Tigre e la Neve"


PHIL STEWART
DA REUTERS, EM ROMA

Depois de procurar mostrar os campos de concentração nazistas sob uma ótica mais leve, o ator e diretor italiano Roberto Benigni saiu à procura de amor e risos no Iraque em guerra. "La Tigre e la Neve", que ele exibiu em Roma anteontem, é uma comédia romântica que, de muitas maneiras, segue o modelo oscarizado de "A Vida É Bela", de 1997.
Mais uma vez, o próprio Benigni é o protagonista, e mais uma vez ele corre atrás da mulher de seus sonhos, que, também desta vez, é sua mulher na vida real, Nicoletta Braschi. Desta vez, porém, ele a segue até Bagdá pouco depois da invasão liderada pelos Estados Unidos, em 2003. Com isso, o filme, rodado parcialmente na Tunísia, ingressa em terreno mais complexo, já que Benigni precisa se equilibrar entre o que é fato e o que é ficção numa zona de guerra.
Enquanto o filme anterior mostrava imagens triunfais das tropas americanas libertando vítimas dos campos de concentração, o filme atual de Benigni retrata os americanos como força de ocupação, freqüentemente nervosos e incapazes de se comunicar com os iraquianos apavorados.
Benigni disse que seu filme é sobretudo uma história de amor, que não procura julgar os soldados americanos. Ele chamou a atenção para os momentos de proximidade entre as tropas e o personagem principal do filme, o poeta Attilio De Giovanni.
"Os soldados são vistos como "uma presença". Não é feito nenhum julgamento, isso é certo", disse Benigni em entrevista coletiva à imprensa. "Fica claro que o sentimento contrário à guerra que vai surgindo é muito, muito forte." Mas, segundo ele, essa visão vem do personagem principal, que, sendo poeta, ama a vida.

Ficção e realidade
Em uma das cenas do filme, Attilio, o personagem, amarra suprimentos médicos a seu corpo, o que leva os soldados americanos a temer que ele fosse um terrorista suicida com explosivos. Ele grita "sou italiano", enquanto um soldado apavorado agarra sua arma, apontada para ele.
A cena suscitou comparações imediatas com a morte, em março, do agente de inteligência italiano Nicola Calipari, morto acidentalmente a tiros por forças americanas numa barreira em uma estrada perto de Bagdá. Mas Benigni disse que a cena foi escrita antes desse incidente. Para ele, "a ficção precedeu os fatos".
O diretor tentou rejeitar os receios de que, pelo fato de usar a guerra como cenário de uma comédia romântica, ele estaria tentando mostrar uma imagem abrandada da própria guerra.
"Este não é um filme ideológico", disse Benigni. "Muitos trabalhos modernos sobre a guerra -e não apenas os modernos- procuram falar à nossa mente. São obras documentárias; têm um ponto de vista poderoso. Meu filme procura falar ao coração."
"La Tigre e la Neve" será lançado na Itália em 14 de outubro, mas ainda não tem previsão para chegar ao Brasil.

Tradução de Clara Allain

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