|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Grupo Mehr se apresenta no Rio de Janeiro e mostra produção efervescente
Iraniano explora tensão em peça
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O conhecimento do brasileiro
sobre o cinema iraniano é inversamente proporcional ao que sabemos do teatro do país de Abbas
Kiarostami.
A defasagem diminui com a
passagem do grupo Mehr pelos
festivais Cena Contemporânea,
em Brasília (terça-feira e ontem) e
riocenacontemporânea, no Rio
(neste sábado e domingo).
Traz uma peça escrita e dirigida
por Amir Reza Koohestani, "Dance on Glasses", o terceiro texto da
carreira do autor de 27 anos. Ele
não pôde viajar porque está prestando serviços obrigatórios ao
Exército de seu país, assunto sobre o qual se recusa a falar.
Importa-lhe a arte do teatro, e aí
não põe freios, como na entrevista
à Folha por e-mail.
Em "Dance on Glasses" (2000),
um rapaz e uma garota ocupam
extremos de uma longa mesa que
divide a platéia em duas. Estão
sentados, imóveis, mas lá pelas
tantas, súbito, sobem à mesa. Ela
baila sobre copos revirados, equilíbrio feito de fragilidade e transparência.
A dualidade perpassa todas as
quatro peças que Koohestani escreveu desde 1997.
"A essência do drama é o duelo,
os pontos opostos. É assim no
palco, no mundo e na natureza,
como o fogo e a água. Interesso-me em mostrar o modo como as
relações são construídas, e como
este homem e esta mulher tentam
fazer valer as esperanças e ideais
humanos", diz o autor.
Para além do embate passional,
o rapaz (Ali Molini) e a garota
(Sharare Mansourabadi) também
são o professor e a aluna.
No subtexto, o conflito evoca
ainda um Irã e uma Índia em tensão, poder temporal e prática espiritual. Surge um terceiro elemento (por Mohammad Abbasi),
a desestabilizar de vez as forças
em jogo.
Koohestani confronta as faces
pública e privada de seu país, cuja
sociedade passa por transformações de valores e as manifestações
artísticas demonstram vitalidade.
"Para os visitantes, as longas filas são a primeira marca do contraste: há muitas performances de
jovens amadores que atuam no
teatro, na música e no cinema de
curta-metragem. Hoje, no Irã, a
arte cumpre uma importante função política e social. Particularmente o teatro, que encerra distintas características de sua época
e não pode tão somente espelhar a
sociedade, mas também gerar
movimentos, realçar pensamentos", diz o autor.
"A arte da representação, como
a pintura e a escultura, faz a elite
gaguejar quando vem para baixo
e mostra o que realmente está
acontecendo na sociedade contemporânea."
Koohestani não vive no deserto
e nem anda montado em camelo,
como manda a estereotipia, segundo o próprio. Mora em Shiraz,
no sul, que diz ser a capital cultural do Irã.
O autor já participou de intercâmbio no Royal Court Theatre,
em Londres, referência mundial
no fomento à dramaturgia.
Mais informações sobre o festival teatral no Rio em www.riocenacontemporanea.com.br. Já o
Cena Contemporânea, em Brasília, em www.cenacontemporanea.com.br.
Dance on Glasses
Onde: Espaço Cultural Sérgio Porto (r.
Humaitá, 163, Humaitá, RJ, tel. 0/xx/21/
2266-0896)
Quando: sáb. e dom., às 21h.
Quanto: R$ 5 a R$ 10
Texto Anterior: Prêmio: Velha-guarda sai consagrada em noite da música independente Próximo Texto: Política cultural: Prefeitura propõe reduzir ISS para teatro Índice
|