São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

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Cao Guimarães mostra trabalho sensorial no Festival do Rio

Filme "Ex Isto" é inspirado em livro do poeta Paulo Leminski

DA ENVIADA AO RIO

O mineiro Cao Guimarães poderia estar na Bienal de São Paulo. Mas está no Festival do Rio.
Se, desta vez, para surpresa dele próprio, não foi convidado a expor no reduto paulistano das artes, foi convidado a apresentar seu novo filme, "Ex Isto", na Cinelândia, onde acontecem as sessões da Première Brasil.
Guimarães, 45, nome de ponta da videoarte brasileira, que teve trabalhos exibidos na Tate Modern (Londres), e no Museu de Arte Moderna de Nova York, transpôs, para a tela, o livro "Catatau", do poeta Paulo Leminski (1944-1989).
Ídolo de toda uma geração que o sucedeu nos experimentos sensoriais, Guimarães retoma sua linguagem de fronteiras embaçadas.
"Ex Isto" começa com o rosto do ator João Miguel iluminado por uma lamparina e a voz em off a filosofar.
João Miguel é o personagem imaginado por Leminski em pergunta: "E se René Descartes tivesse vindo ao Brasil com Maurício de Nassau?".
"O filme mostra a razão perdendo a nitidez", define o cineasta. "O gelo que derrete, no fim, é a metáfora do filme.
A mente cartesiana não resiste aos trópicos."

NÃO ENTENDI
Guimarães deu os braços a Leminski a convite do Itaú Cultural, dentro do projeto "Iconoclássicos".
Ao receber o convite, o cineasta, que de Leminski só tinha lido a poesia, foi tatear "Catatau". "Gostei de não conseguir entender direito aquilo. Lia quatro páginas por dia, em voz alta, e senti que tinha ali um enredo."
Não entendeu o que leu. Mas, assim, partiu rumo a Amapá, Pernambuco, Alagoas e Brasília. "Saímos meio às cegas. O texto do Leminski era o nexo das coisas", diz.
O ator João Miguel, de início, sentiu-se inseguro de fazer um filme sem roteiro. Guimarães explicou: "Fique pensando, que eu vou filmar seu pensamento."
Ao fim da sessão, na noite de anteontem, ao perguntar a um amigo se havia gostado do filme, Guimarães ouviu: "É... Vamos conversar... Mas as imagens de Brasília são as melhores que já vi na vida."
Um curitibano aproxima-se para dizer que se trata de uma obra de arte e outro conhecido relembra: "Já bebi muito com o Leminski". Guimarães responde com uma frase do filme: "Bêbado, quem me compreenderá?".

MARGINAL
Se compreendem ou não o que faz, Guimarães não sabe. Sabe apenas que alguns de seus trabalhos, como "Andarilho", mantêm-se na internet ou circuitos alternativos.
"Sempre quis ser cineasta, e não artista plástico. Mas as artes visuais são mais abertas", diz o brasileiro que procura os mesmos atalhos pelos quais caminham Chantal Akerman e Apichatpong Weerasethakul, cineastas que tiram das artes plásticas seu sustento.
(ANA PAULA SOUSA)


A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do Festival do Rio


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