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Cao Guimarães mostra trabalho sensorial no Festival do Rio
Filme "Ex Isto" é inspirado em livro do poeta Paulo Leminski
DA ENVIADA AO RIO
O mineiro Cao Guimarães
poderia estar na Bienal de
São Paulo. Mas está no Festival do Rio.
Se, desta vez, para surpresa dele próprio, não foi convidado a expor no reduto
paulistano das artes, foi convidado a apresentar seu novo
filme, "Ex Isto", na Cinelândia, onde acontecem as sessões da Première Brasil.
Guimarães, 45, nome de
ponta da videoarte brasileira, que teve trabalhos exibidos na Tate Modern (Londres), e no Museu de Arte Moderna de Nova York, transpôs, para a tela, o livro "Catatau", do poeta Paulo Leminski (1944-1989).
Ídolo de toda uma geração
que o sucedeu nos experimentos sensoriais, Guimarães retoma sua linguagem
de fronteiras embaçadas.
"Ex Isto" começa com o
rosto do ator João Miguel iluminado por uma lamparina e
a voz em off a filosofar.
João Miguel é o personagem imaginado por Leminski
em pergunta: "E se René Descartes tivesse vindo ao Brasil
com Maurício de Nassau?".
"O filme mostra a razão
perdendo a nitidez", define o
cineasta. "O gelo que derrete,
no fim, é a metáfora do filme.
A mente cartesiana não resiste aos trópicos."
NÃO ENTENDI
Guimarães deu os braços a
Leminski a convite do Itaú
Cultural, dentro do projeto
"Iconoclássicos".
Ao receber o convite, o cineasta, que de Leminski só tinha lido a poesia, foi tatear
"Catatau". "Gostei de não
conseguir entender direito
aquilo. Lia quatro páginas
por dia, em voz alta, e senti
que tinha ali um enredo."
Não entendeu o que leu.
Mas, assim, partiu rumo a
Amapá, Pernambuco, Alagoas e Brasília. "Saímos meio
às cegas. O texto do Leminski
era o nexo das coisas", diz.
O ator João Miguel, de início, sentiu-se inseguro de fazer um filme sem roteiro. Guimarães explicou: "Fique
pensando, que eu vou filmar
seu pensamento."
Ao fim da sessão, na noite
de anteontem, ao perguntar
a um amigo se havia gostado
do filme, Guimarães ouviu:
"É... Vamos conversar... Mas
as imagens de Brasília são as
melhores que já vi na vida."
Um curitibano aproxima-se para dizer que se trata de
uma obra de arte e outro conhecido relembra: "Já bebi
muito com o Leminski". Guimarães responde com uma
frase do filme: "Bêbado,
quem me compreenderá?".
MARGINAL
Se compreendem ou não o
que faz, Guimarães não sabe.
Sabe apenas que alguns de
seus trabalhos, como "Andarilho", mantêm-se na internet ou circuitos alternativos.
"Sempre quis ser cineasta,
e não artista plástico. Mas as
artes visuais são mais abertas", diz o brasileiro que procura os mesmos atalhos pelos quais caminham Chantal
Akerman e Apichatpong
Weerasethakul, cineastas
que tiram das artes plásticas
seu sustento.
(ANA PAULA SOUSA)
A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a
convite do Festival do Rio
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