São Paulo, quinta, 6 de novembro de 1997.




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MÚSICA
Duran Duran renega os anos 80 e quer vir ao Brasil

DENISE BOBADILHA
especial para a Folha, de Londres

Volte no tempo até 1984. Entre suas memórias da primeira metade da "década perdida", pelo menos uma canção do Duran Duran vai aparecer. Formado no final dos anos 70, o grupo inglês fundiu a new wave com um movimento chamado "new romantic" e vendeu milhões de discos no mundo.
Hoje, época do lançamento de seu 11º álbum, o Duran Duran quer que tudo isso seja esquecido e deixado para trás. "Acho que o Duran Duran será mais significativo para os anos 90 do que foi para os 80", disse o tecladista Nick Rhodes, em entrevista exclusiva à Folha. "As perspectivas são muito mais interessantes agora do que há quase duas décadas."
Rhodes diz não acreditar em um "revival" dos anos 80, com o retorno de Depeche Mode, Echo & The Bunnymen e a virada na carreira do U2. Segundo ele, há mais luz pela frente para o Duran Duran, hoje um trio formado por ele, Simon LeBon e Warren Cuccurullo, já que John Taylor deixou o grupo no início do ano.
A banda está lançando "Medazzaland", um disco, como diz o tecladista, "com a cara dos anos 90". Brinca com o "trip hop" e soa como vários outros trabalhos deste ano, com uma diferença: a voz de Simon LeBon, aquela voz às vezes feminina, é dos anos 80.
Isso não parece problema para o guitarrista Warren Cuccurullo, na banda desde 1989. "O Duran Duran consegue atravessar gerações, ganhar novo público, o que acontece também com outras bandas do passado", afirma. "Caso dos Rolling Stones, dos anos 60, de David Bowie, nos 70, e nós e o U2 nos 80", compara o "blasé" Rhodes.
Reprodução
Os integrantes do grupo inglês Duran Duran, que está lançando 'Medazzaland", 11º álbum de sua carreira


Para alavancar "Medazzaland", a banda contou com uma estratégia de marketing bem de acordo com o final do milênio: o primeiro single do álbum, "Electric Barbarella", foi vendido primeiro na Internet, depois nas lojas. Para não ficar só cyberespaço, o Duran Duran inicia nas próximas semanas uma turnê norte-americana.
Só estratégia, porém, não funciona. "Medazzaland" entrou no número 58 da parada norte-americana e caiu para 124 uma semana depois. Não alcançou melhores números na sua terra natal. Que sexo vende, como fazia a imagem de LeBon, Rhodes e os três Taylors (John, Andy e Roger) dos anos 80, todo mundo sabe. Só que hoje as adolescentes preferem colecionar fotos e comprar discos de alguém que fale e seja da sua geração.
Se nos últimos trabalhos o grupo andava numa linha bamba entre Prince e Bon Jovi, agora resolveu acrescentar uma pitada de Prodigy e Beck, duas novas influências assumidas. Talvez dê certo.
"Queremos tocar no Brasil no ano que vem", afirma Rhodes. "O público brasileiro é fantástico e tivemos excelentes recepções por lá", completa Cuccurullo, "brasileiro" por adoção: sua namorada e dois filhos moram no Rio e ele visita o país com bastante frequência. "As músicas de 'Medazzaland' têm a cara do que se ouve no Brasil, do que eu ouço na Barra (da Tijuca)", afirma Warren.
Uma das razões para agradar ao público brasileiro, de acordo com a banda, é a preocupação do grupo em se aproximar da chamada "world music". Em "Medazzaland", uma faixa conta com um músico indiano. No álbum anterior, conhecido como "The Wedding Album", era "Breath After Breath", escrita e cantada por Milton Nascimento. "Nos conhecemos desde 88. Milton é genial", elogia Cuccurullo.



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