São Paulo, Sábado, 06 de Novembro de 1999
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ERUDITO
A atriz e diretora estréia hoje no Palácio das Artes, em BH, uma montagem ambientada no século 21
Bibi dirige ópera "Carmen" com jeans

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

A atriz e diretora Bibi Ferreira, 77, estréia hoje no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, uma montagem da ópera "Carmen", de Georges Bizet (1838-1875), passada no século 21.
A diretora garante que essa será uma "Carmen" diferente. A começar pelos figurinos e cenários, que usam jeans e roupas modernas, com cores e formas de pintores espanhóis modernos.
Ela diz que não teme os puristas, que podem torcer o nariz para sua versão.
Para ela, o julgamento será dado pela platéia e pela bilheteria do espetáculo.

Criança
A ópera não é novidade para Bibi Ferreira.
"Dos 7 aos 11 anos, participei de todas as montagens de "Carmen" que foram encenadas no Rio, como uma das crianças do primeiro ato", afirmou.
Mas não há nostalgia nessa sua direção.
De "soldadinhos de papel", como em sua infância, os atores e cantores infantis do primeiro ato se transformaram em pivetes.
"Nessa versão, as crianças têm uma participação muito grande com os soldados, que tentam tirar a criançada suja e imunda da praça", conta.
A personagem principal será interpretada pela soprano Regina Elena Mesquita (mezzo-soprano) na noite de estréia que terá também Eduardo Itaborahy (tenor), no papel de Don José, e de Stephen Bronk (barítono), no papel de Escamillo.
Sylvia Klein, a "Serva Padrona" do filme homônimo da diretora Carla Camurati, revezará com Patrizia Morandini e Elizeth Gomes como Micaela, noiva de Don José.
A regência do maestro alemão Holger Kolodziej não será inovadora como se propõe a direção cênica de Bibi.
Ao contrário, deve seguir, segundo os atores convidados, as orientações do próprio compositor para sua interpretação.
Uma das novidades se dará na passagem do primeiro para o segundo ato.
A partitura se interrompe para a apresentação de um grupo de dança flamenca, sem acompanhamento musical.

Versões
Desde sua estréia em 1873, "Carmen" já foi encenada cerca de 3.000 vezes, quase sempre da forma original, ambientada em 1820.
Na ópera de Bizet, Carmen, operária de uma fábrica de cigarros de Sevilha, seduz o cabo Don José.
Por ela, abandona suas obrigações de autoridade e acaba se envolvendo com criminosos.
Carmen, no entanto, se cansa de Don José e se apaixona pelo toureiro Escamillo, o que enche o rival de ciúmes, levando à cena trágica do último ato.
Uma das versões mais ousadas foi "Carmen Jones", adaptação cinematográfica de 1954.
Contava com atores negros e partitura adaptada para ritmos jazzísticos.
A versão mais moderna da ópera é a do cineasta francês Jean-Luc Godard, que no início dos anos 80 elaborou um roteiro a partir do livro do escritor francês Prosper Merimèe (1803-1870).
O texto serviu de base para o libreto de Henri Meillhac e Ludovic Halévy.
No filme de Godard, Carmen faz parte de uma quadrilha de ladrões de banco.
Na versão de Bibi Ferreira, a heroína se mistura a uma quadrilha de traficantes de drogas, e não de contrabandistas, como no libreto original.


Ópera: Carmen Direção: Bibi Ferreira Regente: Holger Kolodziej Com: Regina Elena Mesquita, Luciana Bueno, Timothy Ritchie, Eduardo Itaborahy, Patrizia Morandini, Sylvia Klein e Stephen Bronk Quando: 6 a 16 de novembro, às 20h (domingos às 17h)
Onde: Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, Belo Horizonte; tel. 0/xx/31/237-7333)
Quanto: R$ 20 a R$ 35, dependendo do dia e do setor


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