São Paulo, Sábado, 06 de Novembro de 1999
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LITERATURA
Novo James Bond chega primeiro às livrarias

AMIR LABAKI
em Los Angeles


A nova aventura de James Bond, "The World Is Not Enough" ("007 - O Mundo Não É o Bastante"), acaba de desembarcar nas livrarias americanas, ainda antes de sua estréia nos cinemas, em 19 de novembro próximo. O filme tem lançamento previsto para o Brasil em 25 de dezembro. O livro chega simultaneamente em edição da L&PM, com tradução de Betina Becker.
O atual sucessor literário de Ian Fleming, Raymond Benson, assina a adaptação para romance do roteiro de Neil Purvis e Robert Wade. Não precisa exercitar maiores talentos para alimentar a praga contemporânea da "novelização" de filmes.
Enquanto o ponto de partida da série eram os originais de Benson, ainda havia algum pudor. Depois que a fonte secou, a franquia não deixou passar a oportunidade de lançar mais um produto com o selo 007.
Benson cumpre a tarefa com eficiência, caprichando nas descrições geográficas e explicações históricas. Algumas repetições, por exemplo a do seu supletivo sobre Baku, apontam para alguma pressa na empreitada.
Mesmo sendo assumida literatura de entretenimento, seus romances são contudo muito menos esquemáticos. "Novelizações" situam-se alguns degraus abaixo.
As aventuras de Bond criadas por Benson, como o recente "High Time to Kill", ainda inéditas em português, têm por modelo os elegantes e variados romances de Fleming.
Já os roteiros recentes, e suas consequentes versões em livro, inspiram-se explicitamente nas turbinadas missões turísticas do 007 de Roger Moore ("O Espião Que Me Amava", "Somente Para Seus Olhos").
"O Mundo Não É o Bastante" repete a fórmula, mas reserva-nos algumas piruetas dramáticas. É a trama com mais reviravoltas recentes e maior diversidade de locações.
007 acaba enfrentando não um, mas dois supervilões. O primeiro deles é Renard, um terrorista mercenário ligado à máfia russa. Renard tem dimensões trágicas: carregando no cérebro uma bala, não sente dor e sabe ter os dias contados.
Seu maior aliado revela-se apenas no terço final da trama. O plano é dominar o mundo a partir do controle do comércio de petróleo. Um passo atrás na história do capitalismo, se lembrarmos da fixação nos conglomerados de mídia do filme anterior, "007 - O Amanhã Nunca Morre".
Para compensar a duplicação de adversários, Bond dobra também os interesses amorosos. A principal amante é Elektra, a jovem e determinada herdeira de um magnata britânico do petróleo. Camile Paglia poderia escrever páginas memoráveis sobre ela.
As atenções de 007 são ainda disputadas pela dra. Christmas Jones, especialista em energia nuclear. Christmas retoma a ambiguidade sexual de Octopussy. Mas, resistir a Bond, quem a de?
No filme dirigido por Michael Apted ("Na Montanha dos Gorilas"), Pierce Brosnan pela terceira vez é Bond e Robert Carlyle ("Ou Tudo ou Nada") faz Renard. Sophie Marceau promete uma inesquecível Elektra, enquanto Denise Richards defende o papel da dra. Christmas.
A M da neo-oscarizada Judy Dench ("Elizabeth") amplia significativamente sua participação. Já o Q de Desmond Llewellyn ganha mesmo um ajudante, vivido pelo ex-Monty Python John Cleese, mas sua aposentadoria não parece definida. O último elo com o Bond clássico, assim, se mantém. Menos mal.


Avaliação:   

Livro: The World Is Not Enough Autor: Raymond Benson, a partir do roteiro de Neil Purvis e Robert Wade Editora: Berkley Boulevard Books Quanto: US$ 6.99 (247 págs.) Onde: www.amazon.com

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