São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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Miss Kittin, a musa do novo electro, comanda a invasão do estilo no Brasil

Electrochoque

Divulgação
A DJ e cantora francesa Caroline Herve, conhecida como Miss Kittin, que se apresentará no Brasil


BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Esqueça o Rush, que se apresentará no país neste mês. O evento pop mais importante do ano acontece justamente no penúltimo dia de 2002. A ironia não poderia vir de outra pessoa senão da rainha das ironias, a francesa Caroline Herve, 29, mais conhecida como Miss Kittin.
Até o fechamento desta edição, estavam confirmadas três datas: dia 30/12 na Fundição Progresso (Rio de Janeiro); 4/1 no Ibiza Club (Santa Catarina) e 7/1 no Lov.e Club & Lounge (São Paulo).
Ainda que pese o cancelamento da vinda de bandas como o Radiohead ao país, não é exagero dizer que Miss Kittin quase "salva" o cenário brasileiro de shows por vários motivos. Primeiro, não é todo dia que artistas internacionais vêm ao Brasil no auge da popularidade. É ela também a figura mais popular do novo electro, cena que, até o momento, configura-se como primeiro "movimento" musical/comportamental relevante dos anos 2000. Trata-se da concretização em terras brasileiras do tão falado revival da música dos anos 80.
Em entrevista por e-mail à Folha, ela ironiza o título de "musa do electro": "É melhor do que ser uma ninguém". Para aqueles que a conhecem de "First Album" (2001), que a FNM acabou de lançar no Brasil, ou àqueles que reclamaram que Fatboy Slim "apenas discotecou" no último Free Jazz, as apresentações de Kittin poderão parecer incompletas.
"Não faço idéia de como serão as apresentações. Mesmo se soubesse, cada noite seria diferente. Com certeza vou tocar como DJ, talvez cantando em cima das faixas. Vocês podem esperar por músicas minhas com The Hacker mixadas com Aphex Twin, Prince e coisas dos selos B-Pitch Control e Kompakt", diz.
Em cena, Kittin é a encarnação da ebulição/perversão/sofreguidão sexual. Autora de letras irônicas e provocativas ("Transamos em limusines/ todas as noites, com meus amigos famosos"), já se apresentou vestida de enfermeira e com roupas de couro. No Brasil, não dividirá a cena com The Hacker [o também francês Michael Amato], seu parceiro musical mais constante e responsável pela maioria de suas bases musicais. "Decidimos interromper as apresentações ao vivo por um tempo, já que não fazemos pausas há quase cinco anos e não temos músicas novas", diz.
Ex-estudante de economia e arte contemporânea, Kittin fez seu primeiro mix em 1994, após um desafio lançado pelo seu então namorado, também DJ. Ninguém poderia imaginar que a garota deixaria o moço no chinelo e começaria ali uma carreira que ultrapassaria as barreiras francesas.
Mas foi antes, com The Hacker, que ela entrou para a música eletrônica. "Conheci The Hacker em 1990. Éramos como garotos "raveiros" que crescem e aprendem sobre música juntos. O processo é simples e fácil: ele faz os loops, eu escrevo as letras. Apertamos a tecla "record", temos a faixa pronta, sem samples, tudo é feito ao vivo", conta Kittin.
Ignorando a música eletrônica feita no Brasil ("Infelizmente não sei nada a respeito"), Kittin não se empolga muito quando questionada sobre a origem do hit "Frank Sinatra" ("Conhece Frank Sinatra? Ele está morto, hahaha"): "É apenas diversão. A música já tem cinco anos e é a única desse tipo que escrevi", finaliza.
Foi na Alemanha [sede do selo International Deejay Gigolo, do qual faz parte] que o novo electro tomou força. "Em Berlim, as pessoas me conhecem antes do hype." O selo, que chega ao Brasil via FNM, é a maior instituição atual do estilo. "Foi o primeiro selo que teve culhões suficientes e senso de humor para lançar nossa música estúpida. E por um longo tempo, as festas do selo eram as mais loucas e divertidas que tivemos, com artistas mais bêbados e mais "animais" de festa que os próprios clubbers", diz.
Quanto ao rótulo de irônica, diz: "Minhas letras são contra todas as bobeiras que temos nas rádios. As pessoas sempre pensam que ironia é negativa, elas levam isso muito a sério."
E prepare-se para uma verdadeira invasão do electro no Brasil já a partir desta semana. O produtor e DJ ucraniano Vitalic fará um live PA nesta sexta no Lov.e Club & Lounge (SP); no dia 20, é a vez do duo Crossover; para o ano que vem estão previstas apresentações de DJ Hell, criador do International Deejay Gigolo, David Carretta, Savas Pascalidis e Tiga.


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