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PERFIL
Quem é essa garota com atitude blasé?
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
A voz dela sobressai; impossível não prestar
atenção àquele jeito estranho, meio robótico, metalizado, mais falado do que
cantado -nada cantado,
aliás. É sexy, sim, isso dá para perceber, mas com um
novo tom. Sem conseguirmos definir direito, continuamos ouvindo, tentando
pescar as palavras. A atitude
é blasé, segura e metida.
Quem é essa garota?
Assim Miss Kittin apareceu para o mundo, ouvida
em coletâneas de uma nova
sonoridade que começava a
surgir, ainda em 2001: o electro. Ou new-electro, já que o
electro já havia sido "inventado" nos anos 80.
As músicas são absurdas e
hoje já fazem parte da história -e não só do eletrônico,
mas do pop. "Sabe o Frank
Sinatra? Ele morreu", debochava, antes mesmo de ele
morrer, em "Frank Sinatra",
do "First". Ou os versos de
"Madame Hollywood", que
viraram hino do electro, nas
mãos de Felix Da Housecat,
o DJ americano que caiu de
joelhos pela voz fetiche de
Kittin, batizando seu disco
"Kittenz and Thee Glitz".
"Um dia eu me tornarei uma
grande estrela", decreta, sincera e cínica. Glitz = glamour, na língua do electro,
que fala tudo com z.
O glamour vem emprestado dos 80, como os timbres e
sintetizadores, e de Andy
Warhol vem o culto à celebridade, ainda que forjado.
Tendo como base o selo alemão International Gigolos,
do DJ Hell, gigolettes viraram stars, como preconizou
a música. As festas da gravadora ganharam fama global,
enquanto seus artistas adquiriram status instantâneo.
Do outro lado do Atlântico,
o visionário produtor e DJ
Larry Tee criava a primeira
edição de seu festival "Electroclash" em Nova York, do
underground clube Luxx, no
Brooklyn, consolidando um
outro braço da história (em
outubro foi a segunda edição).
Entram em cena o canadense Tiga (pronuncia-se
Tee-gah), e entram em evidência The Hacker e Golden
Boy, não por acaso parceiros
de sangue de Kittin -diva
pós-moderna suprema, com
sua franjinha besta, roupas
num tamanho menor e o já
lendário wireless microphone (microfone sem fio), que
todos utilizam. Se o electro é
um mero modismo? Não. É
uma febre. Pior: um vício.
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