São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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PERFIL

Quem é essa garota com atitude blasé?

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A voz dela sobressai; impossível não prestar atenção àquele jeito estranho, meio robótico, metalizado, mais falado do que cantado -nada cantado, aliás. É sexy, sim, isso dá para perceber, mas com um novo tom. Sem conseguirmos definir direito, continuamos ouvindo, tentando pescar as palavras. A atitude é blasé, segura e metida. Quem é essa garota?
Assim Miss Kittin apareceu para o mundo, ouvida em coletâneas de uma nova sonoridade que começava a surgir, ainda em 2001: o electro. Ou new-electro, já que o electro já havia sido "inventado" nos anos 80.
As músicas são absurdas e hoje já fazem parte da história -e não só do eletrônico, mas do pop. "Sabe o Frank Sinatra? Ele morreu", debochava, antes mesmo de ele morrer, em "Frank Sinatra", do "First". Ou os versos de "Madame Hollywood", que viraram hino do electro, nas mãos de Felix Da Housecat, o DJ americano que caiu de joelhos pela voz fetiche de Kittin, batizando seu disco "Kittenz and Thee Glitz". "Um dia eu me tornarei uma grande estrela", decreta, sincera e cínica. Glitz = glamour, na língua do electro, que fala tudo com z.
O glamour vem emprestado dos 80, como os timbres e sintetizadores, e de Andy Warhol vem o culto à celebridade, ainda que forjado. Tendo como base o selo alemão International Gigolos, do DJ Hell, gigolettes viraram stars, como preconizou a música. As festas da gravadora ganharam fama global, enquanto seus artistas adquiriram status instantâneo. Do outro lado do Atlântico, o visionário produtor e DJ Larry Tee criava a primeira edição de seu festival "Electroclash" em Nova York, do underground clube Luxx, no Brooklyn, consolidando um outro braço da história (em outubro foi a segunda edição).
Entram em cena o canadense Tiga (pronuncia-se Tee-gah), e entram em evidência The Hacker e Golden Boy, não por acaso parceiros de sangue de Kittin -diva pós-moderna suprema, com sua franjinha besta, roupas num tamanho menor e o já lendário wireless microphone (microfone sem fio), que todos utilizam. Se o electro é um mero modismo? Não. É uma febre. Pior: um vício.


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