São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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CRÍTICA

Kittin e a amarga ironia do eterno déjà vu

DA REDAÇÃO

O cheiro de naftalina não fica apenas na música produzida por Miss Kittin e The Hacker. Nunca é demais lembrar que o electro, estilo musical mais falado do momento e onipresente em casas noturnas, completou 20.
"First Album", o disco da dupla que sai agora no Brasil, é composto por faixas produzidas entre 1997 e 2001. E aí, não vale a velha acusação de atraso cultural do Brasil: o hype chegou atrasado também em Nova York e Londres. Na Alemanha, sede do selo International Deejay Gigolo, o novo electro já era mania há, no mínimo, cinco anos.
Ouvir "First Album" é, portanto, quase como assistir a um documentário sobre cultura musical da virada dos anos 70 para os 80 e a nascente cena dos anos 2000.
A tão falada ironia de Miss Kittin permeia, sim, cada faixa do disco. E, nisso, é um breve retrato da geração deslumbrada pelo hiperconsumismo, o culto e o sonho de escalada social para o circuito das pseudocelebridades, enfim, a década do "eu".
Mas, afinal, estamos falando de anos 80 ou 2000? Kittin confunde os ouvintes, não fornece respostas, apenas ri da nossa cara. A dúvida é saber se de nossa seriedade -na tentativa de encontrar significados- ou de nosso suposto atraso cultural. Como é que camisas verde-limão e penteados new wave, sinônimos de cafonice até ontem, tornam-se relevantes para a entrada no mundo cool?
Em todo caso, citar Soft Cell e tecnopop não esclarecem a totalidade da música e a simbologia de Kittin. Sua chamada "música eletrônica com alma" retoma, quase imperceptivelmente, um outro lado da década. Faixas como "Life on MTV" e "1982" remetem à faceta sombria do período, tempos amargos em que Peter Murphy, da banda Bauhaus, grunhia o hino gótico-punk "Bela Lugosi Is Dead" na abertura do filme "Fome de Viver" (1983). Está tudo lá: os inferninhos esfumaçados, as criaturas noturnas, o sexo sem rosto. Como se fosse em 2002. (BYS)

First Album


    
Lançamento: FNM
Quanto: R$ 26, em média




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