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OUTRA FREQUÊNCIA
Indagações sobre o rádio na era Lula
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O que Lula na Presidência representará para o rádio no
Brasil? Operadores de emissoras
comunitárias tentam se prender à
história do PT e acreditar que serão prioridade no novo governo.
Donos das estações comerciais
preferem crer no partido light da
campanha, que procurou acalmar
mercados e escolheu a TV Globo
para as duas primeiras entrevistas
exclusivas do novo presidente.
São fortes esperanças/medos
dos dois lados, já que a discussão
sobre o setor esteve distante das
prioridades de Lula na elaboração
do plano de governo.
O programa de cultura do PT
trata dos meios de comunicação
de modo superficial. Propõe "estabelecer novos critérios para as
relações entre o Estado e as grandes cadeias de entretenimento".
Genérico, o texto prioriza a televisão, deixando as rádios comerciais num enésimo plano.
Também é evasivo ao tratar das
comunitárias. Afirma que pretende "reequipar as emissoras públicas com objetivo de, em diálogo
com Estados, municípios e emissoras comunitárias, consolidar
uma Rede Pública da Comunicação de alcance nacional".
O que tudo isso significará na
prática nem gregos nem troianos
têm ainda a mais remota idéia.
Há também no meio muita dúvida sobre o papel que será atribuído à Anatel (Agência Nacional
das Telecomunicações) no governo Lula. A agência poderá, cogitam setores petistas, ser fortalecida, encarregada até de distribuir
as concessões -atual função do
Ministério das Comunicações.
Mas, enquanto a política do novo governo não vem, a Anatel segue como fiscal da radiodifusão,
apreendendo rádios comunitárias Brasil afora. De janeiro a outubro deste ano, o órgão diz ter
averiguado 673 estações no país.
O resultado foi o seguinte: 130
"apreendidas" (equipamentos levados pela Polícia Federal, que
costuma acompanhar a Anatel),
183 "desativadas" (prevendo a
"visita" dos fiscais, operadores
abandonam o local, levando equipamentos), 154 "lacradas" (quando a Anatel vai sem a PF e só pode
tirar a rádio do ar, sem levar os
aparelhos), 115 "impedidas de vistoria" (sem mandado, os fiscais
são impedidos pelos operadores
de entrar), 81 não foram localizadas e sete estavam fechadas.
É o último número desse balanço, no entanto, que chama a atenção: das 673 fiscalizadas, só três
estavam amparadas judicialmente. Dá uma idéia de que há muito
o que ser feito pelo próximo governo. E ninguém está falando de
sair enlouquecidamente fechando tudo quanto é estação por aí.
Mas de repensar o rádio no Brasil,
seu conceito, suas leis.
E-mail: laura@folhasp.com.br
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