São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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Nova temporada de "Inside the Actors Studio" terá Sarah Jessica Parker, Ben Affleck e até Simpsons

Desconstruindo estrelas

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Ele é baixinho, atarracado, não tem um fio fora do lugar da careca proeminente e deve aparar a barbicha duas vezes por dia. Faz perguntas num tom irritantemente monocórdico, sempre lendo-as num papel azul daqueles de fichário que retira de uma pilha.
Mesmo assim, James Lipton e seu "Inside The Actors Studio" compõem o melhor e mais completo programa de entrevistas da TV dos EUA. Pois o canal de TV paga Multishow estreou nesta semana no Brasil sua nova temporada. A entrevista com Tom Hanks foi ao ar no último domingo e, no próximo, às 22h45, é a vez de Sarah Jessica Parker.
A marca registrada de Lipton é terminar a conversa, que na verdade dura mais de quatro horas, das quais só 60 minutos vão ao ar, com o "questionário Bernard Pivot", um conjunto de perguntas que o crítico literário francês fazia em seu programa que foi ao ar por 25 anos na TV francesa.
A Folha conversou com Lipton, que também é produtor de cinema e de TV e reitor do curso do legendário Actors Studio, que formou de Marlon Brando a Robert De Niro. Como todo bom entrevistador, ele se recusou a dizer quem tinha sido seu melhor e seu pior convidado e a responder ao "questionário Pivot".
Mas falou de todo o resto.

Folha - De onde nasceu a idéia do programa?
James Lipton -
Quando levamos o Actors Studio para a Universidade New School, em 1994, passamos um ano e meio preparando o novo curso. Juntamos um grupo incrível de professores. Alguns podiam dar cursos de 30 semanas, outros só tinham seis semanas, e havia ainda um grupo de pessoas que eu não queria perder, que eram as que podiam dar apenas um dia da vida para a escola.
Eram membros da escola e colegas nossos. Então mandei cartas perguntando se eles se interessavam em dar apenas uma aula para os nossos alunos e nós transmitiríamos estas aulas, que seriam antecedidas por uma entrevista. Os primeiros que responderam foram os primeiros convidados: Paul Newman, Sally Field, Dennis Hopper, Arthur Penn. Logo virou um programa de televisão...

Folha - O sr. entrevistou mais de 120 pessoas. Qual delas...
Lipton -
Nunca respondo a essas perguntas. Não quero escolher apenas um.

Folha - É verdade que o sr. passa duas semanas se preparando para a entrevista?
Lipton -
Sim, vou tão a fundo que a própria Sally Field desconfiou que eu tinha entrevistado seu psicólogo. Pesquiso por duas semanas, com um auxiliar, que faz a pesquisa inicial. Ele é um desses ratos de internet, mas não usa apenas a rede e, sim, todos os tipos de fonte, como revistas, jornais, e me prepara um material enorme. Então, parto para a segunda fase. Tento assistir a todos os filmes que a pessoa fez, mas tem vezes que recebo atores com 150 filmes. É humanamente impossível. Só então imprimo tudo o que vou perguntar nas tais fichas.

Folha - O que acha da gozação que fazem do programa em "Saturday Night Live"?
Lipton -
Adoro. Também adorei minha participação nos "Simpsons", só fiquei um pouco chateado porque eles me mataram no final. Aliás, vou entrevistar os Simpsons neste ano.

Folha - Queria terminar fazendo as questões de Pivot...
Lipton -
Nunca respondo ao questionário. Respondi uma única vez, mas foi em francês, durante uma turnê que fizemos. Vai ao ar no nosso centésimo episódio. O próprio Bernard Pivot me convidou para ir ao último programa dele, e ambos respondemos ao questionário pela primeira vez.

Folha - O sr. acha que estas perguntas são reveladoras?
Lipton -
É um teste de Rorschash. Colocadas lado a lado, as respostas revelam muito do que a pessoa é. É um teste psicológico muito poderoso, que foi inventado por Proust, mas com uma lista de perguntas muito maior do que a nossa. Faço desde o primeiro programa, porque admiro muito o trabalho de Bernard Pivot.
Meu sonho era que, se eu fizesse isso e o meu programa ficasse popular, talvez alguém decidisse exibir nos EUA o programa de Bernard com legendas em inglês. Não deu certo, infelizmente.

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