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Nova temporada de "Inside the Actors Studio" terá Sarah Jessica Parker, Ben Affleck e até Simpsons
Desconstruindo estrelas
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Ele é baixinho, atarracado, não
tem um fio fora do lugar da careca
proeminente e deve aparar a barbicha duas vezes por dia. Faz perguntas num tom irritantemente
monocórdico, sempre lendo-as
num papel azul daqueles de fichário que retira de uma pilha.
Mesmo assim, James Lipton e
seu "Inside The Actors Studio"
compõem o melhor e mais completo programa de entrevistas da
TV dos EUA. Pois o canal de TV
paga Multishow estreou nesta semana no Brasil sua nova temporada. A entrevista com Tom
Hanks foi ao ar no último domingo e, no próximo, às 22h45, é a vez
de Sarah Jessica Parker.
A marca registrada de Lipton é
terminar a conversa, que na verdade dura mais de quatro horas,
das quais só 60 minutos vão ao ar,
com o "questionário Bernard Pivot", um conjunto de perguntas
que o crítico literário francês fazia
em seu programa que foi ao ar por
25 anos na TV francesa.
A Folha conversou com Lipton,
que também é produtor de cinema e de TV e reitor do curso do legendário Actors Studio, que formou de Marlon Brando a Robert
De Niro. Como todo bom entrevistador, ele se recusou a dizer
quem tinha sido seu melhor e seu
pior convidado e a responder ao
"questionário Pivot".
Mas falou de todo o resto.
Folha - De onde nasceu a idéia do
programa?
James Lipton - Quando levamos
o Actors Studio para a Universidade New School, em 1994, passamos um ano e meio preparando o
novo curso. Juntamos um grupo
incrível de professores. Alguns
podiam dar cursos de 30 semanas, outros só tinham seis semanas, e havia ainda um grupo de
pessoas que eu não queria perder,
que eram as que podiam dar apenas um dia da vida para a escola.
Eram membros da escola e colegas nossos. Então mandei cartas
perguntando se eles se interessavam em dar apenas uma aula para
os nossos alunos e nós transmitiríamos estas aulas, que seriam antecedidas por uma entrevista. Os
primeiros que responderam foram os primeiros convidados:
Paul Newman, Sally Field, Dennis
Hopper, Arthur Penn. Logo virou
um programa de televisão...
Folha - O sr. entrevistou mais de
120 pessoas. Qual delas...
Lipton - Nunca respondo a essas
perguntas. Não quero escolher
apenas um.
Folha - É verdade que o sr. passa
duas semanas se preparando para
a entrevista?
Lipton - Sim, vou tão a fundo
que a própria Sally Field desconfiou que eu tinha entrevistado seu
psicólogo. Pesquiso por duas semanas, com um auxiliar, que faz a
pesquisa inicial. Ele é um desses
ratos de internet, mas não usa
apenas a rede e, sim, todos os tipos de fonte, como revistas, jornais, e me prepara um material
enorme. Então, parto para a segunda fase. Tento assistir a todos
os filmes que a pessoa fez, mas
tem vezes que recebo atores com
150 filmes. É humanamente impossível. Só então imprimo tudo o
que vou perguntar nas tais fichas.
Folha - O que acha da gozação
que fazem do programa em "Saturday Night Live"?
Lipton - Adoro. Também adorei
minha participação nos "Simpsons", só fiquei um pouco chateado porque eles me mataram no final. Aliás, vou entrevistar os
Simpsons neste ano.
Folha - Queria terminar fazendo
as questões de Pivot...
Lipton - Nunca respondo ao
questionário. Respondi uma única vez, mas foi em francês, durante uma turnê que fizemos. Vai ao
ar no nosso centésimo episódio.
O próprio Bernard Pivot me convidou para ir ao último programa
dele, e ambos respondemos ao
questionário pela primeira vez.
Folha - O sr. acha que estas perguntas são reveladoras?
Lipton - É um teste de Rorschash. Colocadas lado a lado, as
respostas revelam muito do que a
pessoa é. É um teste psicológico
muito poderoso, que foi inventado por Proust, mas com uma lista
de perguntas muito maior do que
a nossa. Faço desde o primeiro
programa, porque admiro muito
o trabalho de Bernard Pivot.
Meu sonho era que, se eu fizesse
isso e o meu programa ficasse popular, talvez alguém decidisse exibir nos EUA o programa de Bernard com legendas em inglês. Não
deu certo, infelizmente.
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