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ARTES
Catálogo do IEB mostra o interesse do escritor pelo folclóre por meio de 236 itens recolhidos em diferentes pontos do país
Mário de Andrade busca o Brasil em objetos
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
A busca de Mário de Andrade
pelas características brasileiras foi
incessante. As pistas encontradas
não se perderam. Escritor, registrou muitas delas na literatura.
Colecionador compulsivo, guardou outras tantas, que hoje estão
no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da USP, que desde 1968
detém o Acervo Mário de Andrade -declarado patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), em 1995.
A tentativa de decifrar tais pistas
(livros, cartas, ensaios, fotos, objetos, obras de arte), mantendo a
linha de pensamento/pesquisa do escritor, tem resultado em publicações recentes, caso de "A Música
Popular Brasileira na Vitrola de
Mário de Andrade" e do catálogo realizado a
partir do acervo de objetos, "Coleção Mário de Andrade - Religião e
Magia/ Música e Dança/ Cotidiano", organizado pela arquiteta e
pesquisadora Marta Rossetti Batista, lançado hoje, às 11h, no IEB.
O catálogo reúne 236 objetos
como imagens católicas e de cultos afro-brasileiros, instrumentos
musicais e indumentária indígena, colhidos entre 1919 e 1945, que
foram analisados um a um e reproduzidos em fotografias.
Diferentemente do catálogo,
"Coleção Mário de Andrade - Artes Plásticas" (1985), sobre as
obras de arte pertencentes ao escritor, esse outro foi elaborado a partir do cruzamento de pistas e hipóteses. "Era muito mais fácil saber o que Mário achava das obras.
Crítico de arte, ele escreveu sobre
elas", explica Batista. "Já o segundo abarca objetos sobre os quais
não há anotações e que são muito
variados. Colhidos em lugares diferentes e de várias maneiras. Como todos sabiam que Mário colecionava estes objetos, era comum
ele receber peças achadas por
amigos por todo o país", destaca a
pesquisadora.
Ao enviar o arquiteto Luiz Saia
ao Nordeste como chefe da Missão de Pesquisas Folclóricas, em
1938, Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura de São
Paulo, teria feito também sua encomenda particular. "Pediu para
que Saia trouxesse imagens de
santos", diz a pesquisadora.
Na viagem, além dos tradicionais ex-votos em forma de pequenos quadros, Saia teria encontrado ex-votos feitos de madeira.
"Minha hipótese era de que Saia
queria dividir com o amigo a descoberta dessa nova forma de arte,
que parecia autenticamente brasileira". Hipótese retirada de comentário encontrado em carta de
Saia a Mário: "o santo é a cara do
caboclo nordestino".
Uma das fontes dos objetos
afro-brasileiros da coleção teria
sido a polícia. "Durante o governo
Vargas, os policiais fechavam terreiros e apreendiam as peças.
Muitos só foram parar nas mãos
de Mário porque um delegado
ouviu falar da missão e enviou os
objetos ao escritor", conta Marta.
Com relação aos objetos indígenas, Marta trabalha com duas hipóteses: "elas seriam uma mostra
concreta das pesquisas do alemão
Koch-Grünberg, das quais Mário
colhe o mito para elaboração de
"Macunaíma" ou reminiscências
do mundo desse personagem".
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