São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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CRÍTICA REPORTAGEM

"Ensaios", de Capote, exala atmosfera do século 20

Livro reúne perfis, crônicas e relatos de viagem do escritor americano

MORRIS KACHANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dizer que "Ensaios", do norte-americano Truman Capote (1924-1984), é uma obra menos fundamental do que seu clássico "A Sangue Frio" não desmerece este lançamento. O livro reúne nada menos que 42 peças escritas entre 1946, quando o autor tinha 22 anos, até sua morte. São perfis, crônicas, notas autobiográficas e relatos de viagem, a maioria originalmente publicada em revistas como "The New Yorker" e "Esquire" e agora reunidos
pela primeira vez em livro. Como quase toda coletânea, há altos e baixos. Mas os altos compensam, e muito, para quem decide se aventurar pelas 600 páginas.
Capote é um autor de primeira grandeza. Sua obra compreende roteiros para cinema, peças, poesias, contos, novelas.
Mas é no gênero que viria a ser conhecido como jornalismo literário, no qual é considerado um dos pioneiros, que fez sua fama.
Poucos como ele souberam transformar as reportagens jornalísticas em verdadeiras obras-primas da narrativa não ficcional. Um belo e hilariante exemplo presente no livro é "Ouvindo as Musas", relato da turnê de uma companhia negra de ópera americana pela ex-União Soviética.
Pequenos dramas humanos se desenrolam em uma sucessão de desencontros, como se fosse uma comédia do melhor gênero, tendo como pano de fundo a Guerra Fria. Nada escapa à verve e ao poder de observação do escritor.
Em algum momento, a dose de realidade é tão insólita que esquecemos tratar-se de uma não ficção.
"Ensaios" é uma ótima maneira de entrar em contato com a história da segunda metade do século 20 e inspirar a atmosfera das rodas sociais mais exclusivas da época, a que Capote tinha livre acesso -artistas, políticos e milionários de forma geral.
Personalidades como o ator Marlon Brando (1924-2004) e o dramaturgo Tennessee Williams (1911-1983) são retratados em memoráveis perfis. O fascínio pelo horror e pela violência, que permeia "A Sangue Frio", ressurge em "Caixões Feitos a Mão".
E há também o "Autorretrato", em que Capote entrevista a si mesmo, desvendando seu modo singular e por vezes afetado de pensar o mundo. "Vamos colocar assim: eu preferiria ser meu amigo que meu inimigo", confessa, às tantas.
É uma pena que a tradução, embora correta, não seja tão fluente. E que alguns dos textos aqui compilados mais pareçam anotações de um diário do que propriamente ensaios, como o título do livro sugere.
Ainda assim, para os fãs da boa escrita do jornalismo literário, "Ensaios" é uma obra necessária.

ENSAIOS

AUTOR Truman Capote
TRADUÇÃO Debora Isidoro
EDITORA Leya
QUANTO R$ 49,90 (608 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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