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CRÍTICA ROMANCE
Distopia política da russa Ayn Rand é obra monumental
Autora cria em "A Revolta de Atlas" um mundo que
agoniza sob a inércia do "amor social" e da estupidez
LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA
O livro "A Revolta de
Atlas" de Ayn Rand (1905-1982) é urgente! Trata-se de
uma distopia, à semelhança
de "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley (1894-1963), e "1984", de George
Orwell (1903-1950).
Distopias, ao contrário das
utopias, descrevem pesadelos sociais.
Em Huxley, uma sociedade "científica" excluirá o humano e suas paixões. Em Orwell, uma sociedade "informacional" controlará a vida,
a memória, o amor, através
das tecnologias da informação e das terapias comportamentais a serviço do "bem
comum". Ambas estão em
processo hoje em dia, apenas
cegos não percebem.
Russa, Rand formou-se em
filosofia e história pela Universidade de Petrogrado. Já
nos EUA, lançou esta obra
monumental em 1957.
Ela percebeu que a sociedade socialista não é um risco apenas para as propriedades privadas materiais, mas
o é antes de tudo para as propriedades privadas imateriais, a liberdade e suas virtudes diretas: a inteligência, a
coragem e a criatividade.
Rand é conhecida por seu
realismo objetivo em termos
morais. Quer um exemplo?
Sou preguiçoso, por isso defenderei (mesmo inconscientemente) valores que me permitam ser preguiçoso, tais
como "trabalhar muito é coisa de capitalista".
O resultado disso é que
criarei necessariamente a minha volta um mundo sem
realizações. A ideia e o temperamento de uma pessoa se
tornam realidade através de
seu comportamento prático.
Outro exemplo: a ridícula
moral cristã que afirma "todos merecem amor", quando
na realidade muita gente não
presta mesmo, trará como
consequência a asfixia do
amor verdadeiro através de
"rituais sociais" de amor a todos, rituais que são a negação do amor.
INÉRCIA
O mundo descrito por
Rand agoniza sob a inércia. O
fato de uma das "protagonistas" de sua distopia ser a indústria de transportes sendo
destruída pelo "amor social
ao próximo", materializado
em preguiça administrativa,
traduz esse risco de morte
"em vida" do movimento da
própria vida, num mundo
que detesta a inteligência.
A inércia brotará da preguiça, do ressentimento, da
estupidez cognitiva que encontrarão abrigo nas desculpas do "amor social".
Sua escrita direta, clara e
objetiva mapeia afetos,
ideias e comportamentos sob
os quais a destruição das virtudes criativas humanas se
torna fato cotidiano. O ônus,
como sempre, cairá sobre as
costas de quem trabalha sem
desculpas ideológicas.
Os parasitas em nome "do
bem" explorarão as virtudes
daqueles que de fato carregam o peso da produção da
vida. Mas a inteligência não é
fácil de ser derrotada, daí o
ódio dos medíocres contra os
"melhores".
Leia Rand. Dê de presente
neste Natal. O combate ao
"regime da mediocridade"
em nome do "amor social" é
uma guerra sem fim.
A REVOLTA DE ATLAS
AUTORA Ayn Rand
EDITORA Sextante
TRADUÇÃO Paulo Henriques Britto
QUANTO R$ 69,90 (1.232 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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