São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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CRÍTICA ROMANCE

Distopia política da russa Ayn Rand é obra monumental

Autora cria em "A Revolta de Atlas" um mundo que agoniza sob a inércia do "amor social" e da estupidez

LUIZ FELIPE PONDÉ
COLUNISTA DA FOLHA

O livro "A Revolta de Atlas" de Ayn Rand (1905-1982) é urgente! Trata-se de uma distopia, à semelhança de "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley (1894-1963), e "1984", de George Orwell (1903-1950).
Distopias, ao contrário das utopias, descrevem pesadelos sociais.
Em Huxley, uma sociedade "científica" excluirá o humano e suas paixões. Em Orwell, uma sociedade "informacional" controlará a vida, a memória, o amor, através das tecnologias da informação e das terapias comportamentais a serviço do "bem comum". Ambas estão em processo hoje em dia, apenas cegos não percebem.
Russa, Rand formou-se em filosofia e história pela Universidade de Petrogrado. Já nos EUA, lançou esta obra monumental em 1957.
Ela percebeu que a sociedade socialista não é um risco apenas para as propriedades privadas materiais, mas o é antes de tudo para as propriedades privadas imateriais, a liberdade e suas virtudes diretas: a inteligência, a coragem e a criatividade.
Rand é conhecida por seu realismo objetivo em termos morais. Quer um exemplo?
Sou preguiçoso, por isso defenderei (mesmo inconscientemente) valores que me permitam ser preguiçoso, tais como "trabalhar muito é coisa de capitalista".
O resultado disso é que criarei necessariamente a minha volta um mundo sem realizações. A ideia e o temperamento de uma pessoa se tornam realidade através de seu comportamento prático.
Outro exemplo: a ridícula moral cristã que afirma "todos merecem amor", quando na realidade muita gente não presta mesmo, trará como consequência a asfixia do amor verdadeiro através de "rituais sociais" de amor a todos, rituais que são a negação do amor.

INÉRCIA
O mundo descrito por Rand agoniza sob a inércia. O fato de uma das "protagonistas" de sua distopia ser a indústria de transportes sendo destruída pelo "amor social ao próximo", materializado em preguiça administrativa, traduz esse risco de morte "em vida" do movimento da própria vida, num mundo que detesta a inteligência.
A inércia brotará da preguiça, do ressentimento, da estupidez cognitiva que encontrarão abrigo nas desculpas do "amor social".
Sua escrita direta, clara e objetiva mapeia afetos, ideias e comportamentos sob os quais a destruição das virtudes criativas humanas se torna fato cotidiano. O ônus, como sempre, cairá sobre as costas de quem trabalha sem desculpas ideológicas.
Os parasitas em nome "do bem" explorarão as virtudes daqueles que de fato carregam o peso da produção da vida. Mas a inteligência não é fácil de ser derrotada, daí o ódio dos medíocres contra os "melhores".
Leia Rand. Dê de presente neste Natal. O combate ao "regime da mediocridade" em nome do "amor social" é uma guerra sem fim.

A REVOLTA DE ATLAS

AUTORA Ayn Rand
EDITORA Sextante
TRADUÇÃO Paulo Henriques Britto
QUANTO R$ 69,90 (1.232 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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