São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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CRÍTICA ANTOLOGIA

Antonio Prata leva humor rebelde à crônica

Lançamento de "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" firma o escritor como o principal cronista de sua geração

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

"Meio Intelectual, Meio de Esquerda" é o primeiro livro de crônicas "adultas" do escritor Antonio Prata. Traz 78 textos deliciosos escritos nos últimos seis anos, a maioria para "O Estado de S.Paulo".
A Editora 34 incluiu o livro numa respeitável série dedicada à prosa e à poesia brasileiras, sugerindo que as crônicas sejam apreciadas literariamente e não como mero entretenimento jornalístico (o que também são). Há bons motivos para isso.
Embora tenha se dedicado ao conto e esteja preparando um romance, nos últimos anos Prata concentrou-se na atividade de cronista com intensidade e interesse.
Desenvolveu uma dicção muito singular, que busca ao mesmo tempo ser fiel à longa tradição da crônica brasileira e inserir novidades e rupturas num gênero de escrita que tende a se acomodar às suas normas e manias.
A principal novidade, parece-me, é o modo como o escritor reflete sobre a sua própria atividade de cronista: como se fosse uma luta para desentranhar da realidade adversa um momento de graça, de sabedoria e de poesia.
O Brasil já não é tão propício assim à crônica. Não porque seja brutal e injusto (ele continua sendo), mas porque a realidade ela mesma se transformou num amontoado de clichês dos quais é cada vez mais difícil escapulir quando se vai falar das amenidades do dia a dia.
Passarinhos remetem a desenhos animados, a moça na praia evoca publicidades e as nossas próprias atitudes parecem extraídas da TV ou de um manual de marketing.
É preciso se esforçar bastante para descobrir o encantamento das coisas em meio à geleia geral de clichês, à vulgaridade do país novo-rico, à malandragem transformada em método e ao "amesquinhamento do mundo". A fim de conseguir falar do Brasil e do mundo, Antonio Prata desenvolveu um narrador muito particular, que se insere diretamente na realidade e assume na própria pele e na própria linguagem as suas desavenças com ela.
O cronista já não é mais o "poeta" cordial e iluminado, capaz de encontrar epifanias tropicais nos meandros da banalidade, mas um sujeito enfezado e intranquilo, que utiliza o nonsense, a ironia e até o protesto como armas.
É também um sujeito incompleto, pela metade, "meio intelectual, meio de esquerda", posto que não há como ser "inteiro" numa realidade malformada e sempre mal-acabada.
Um dos prazeres deste livro, aliás, é acompanhar a franqueza e a autoironia com que o narrador expõe seu estado vacilante: meio alegre, meio trágico; meio pobre, meio rico: meio s-olteiro, meio casado; meio pop, meio erudito; meio adolescente, meio adulto.
Com esses textos feitos de observação arguta, reflexão imprevisível, humor rebelde e escrita sempre imaginativa, Antonio Prata, 33, se impõe como o principal cronista de sua geração.

MEIO INTELECTUAL, MEIO DE ESQUERDA

AUTORA Antonio Prata
EDITORA Editora 34
QUANTO R$ 30 (176 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
LANÇAMENTO terça, dia 9, às 22h30, no Centro Cultural Rio Verde (r. Belmiro Braga, 181, tel. 0/xx/11/3459-5321)


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