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CRÍTICA ANTOLOGIA
Antonio Prata leva humor rebelde à crônica
Lançamento de "Meio Intelectual, Meio de Esquerda" firma o escritor como o principal cronista de sua geração
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
"Meio Intelectual, Meio de
Esquerda" é o primeiro livro
de crônicas "adultas" do escritor Antonio Prata. Traz 78
textos deliciosos escritos nos
últimos seis anos, a maioria
para "O Estado de S.Paulo".
A Editora 34 incluiu o livro
numa respeitável série dedicada à prosa e à poesia brasileiras, sugerindo que as crônicas sejam apreciadas literariamente e não como mero
entretenimento jornalístico
(o que também são).
Há bons motivos para isso.
Embora tenha se dedicado ao
conto e esteja preparando
um romance, nos últimos
anos Prata concentrou-se na
atividade de cronista com intensidade e interesse.
Desenvolveu uma dicção
muito singular, que busca ao
mesmo tempo ser fiel à longa
tradição da crônica brasileira
e inserir novidades e rupturas num gênero de escrita
que tende a se acomodar às
suas normas e manias.
A principal novidade, parece-me, é o modo como o escritor reflete sobre a sua própria atividade de cronista:
como se fosse uma luta para
desentranhar da realidade
adversa um momento de graça, de sabedoria e de poesia.
O Brasil já não é tão propício assim à crônica. Não porque seja brutal e injusto (ele
continua sendo), mas porque
a realidade ela mesma se
transformou num amontoado de clichês dos quais é cada vez mais difícil escapulir
quando se vai falar das amenidades do dia a dia.
Passarinhos remetem a
desenhos animados, a moça
na praia evoca publicidades
e as nossas próprias atitudes
parecem extraídas da TV ou
de um manual de marketing.
É preciso se esforçar bastante para descobrir o encantamento das coisas em meio
à geleia geral de clichês, à
vulgaridade do país novo-rico, à malandragem transformada em método e ao "amesquinhamento do mundo".
A fim de conseguir falar do
Brasil e do mundo, Antonio
Prata desenvolveu um narrador muito particular, que se
insere diretamente na realidade e assume na própria pele e na própria linguagem as
suas desavenças com ela.
O cronista já não é mais o
"poeta" cordial e iluminado,
capaz de encontrar epifanias
tropicais nos meandros da
banalidade, mas um sujeito
enfezado e intranquilo, que
utiliza o nonsense, a ironia e
até o protesto como armas.
É também um sujeito incompleto, pela metade,
"meio intelectual, meio de
esquerda", posto que não há
como ser "inteiro" numa realidade malformada e sempre
mal-acabada.
Um dos prazeres deste livro, aliás, é acompanhar a
franqueza e a autoironia com
que o narrador expõe seu estado vacilante: meio alegre,
meio trágico; meio pobre,
meio rico: meio s-olteiro,
meio casado; meio pop, meio
erudito; meio adolescente,
meio adulto.
Com esses textos feitos de
observação arguta, reflexão
imprevisível, humor rebelde
e escrita sempre imaginativa,
Antonio Prata, 33, se impõe
como o principal cronista de
sua geração.
MEIO INTELECTUAL, MEIO
DE ESQUERDA
AUTORA Antonio Prata
EDITORA Editora 34
QUANTO R$ 30 (176 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
LANÇAMENTO terça, dia 9, às
22h30, no Centro Cultural Rio
Verde (r. Belmiro Braga, 181, tel.
0/xx/11/3459-5321)
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