|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TELEVISÃO
Paulo Lopes podia ser Sílvio Santos
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Cariocas um tanto antigos, que
gostavam de ouvir Paulo Lopes
na rádio Tupi, não acham nada
estranho vê-lo, diariamente, na
Band, durante 90 minutos longuíssimos de muitas tardes. Em
compensação, cariocas mais recentes e bem mais ocupados mal
sabem que ele existe. E perguntam que tal é essa quase celebridade. Vestido de paletó sem gravata,
ele podia ser um Sílvio Santos
com diploma, mas sem baú.
Como seu programa é longo,
tenta ser versátil. Começa muito
compungido, atendendo um pedido de "nosso maior ídolo", Roberto Carlos, para que rezássemos por sua Maria Rita tão doente. "Vamos rezar!", exclama condoído o apresentador. "Você merece isso do povo brasileiro." Paulo Lopes é muito emotivo. Será
uma naturalidade do rádio ou a
intimidade da televisão? Tanto
faz. Oremos. "Vamos rezar, sim,
nosso rei!"
Já que estamos emocionados,
sejamos caridosos. Mas com humor. Paulo Lopes deu para um
casal o carrinho tão desejado para
vender cachorro-quente. Tanta
caridade deixou todos de bom
humor.
Lá vem pedrada? Vem. Paulo
Lopes está horrorizado com a
mania de chacina que tomou conta de São Paulo. Oito mortos na
favela de Parapuy (?). "Cenas fortes essas, não?" Mr. Tarantino não
achou. Sr. Lopes não gostou e frisou que, só este ano, 271 pessoas
foram mortas em chacinas em
São Paulo.
As coisas andam tão tensas e
tristes que apareceu uma loura
que acaba com depressão na massagem, com exercícios respiratórios e energia. Não existe vulto,
por mais estranho que seja, que
apareça sem a autorização do
Paulo Lopes. Ele é o poderoso.
Não cansa de avisar que ainda se
falará na legalização do jogo. Será
para prender a audiência da turma da roleta?
Numa boa idéia, surgiu o Peninha, cantor e compositor que
agora faz sucesso popular. Mostra
o último disco e elogia a foto do
Fernando Lousa. Um gaúcho repentista elogia o Peninha com
versos totalmente desajeitados.
É importante dizer que o programa do Paulo Lopes também
ajuda os aflitos. Uma mãe com o
filho desaparecido mostra a foto
dele e pede notícias. Outra senhora vive problema semelhante.
"Foram sequestrados?" Ninguém
diz nada.
Finalmente o grande momento.
Jorge Yunes, Marcos Calazans,
Luiz Antônio Medeiros, o metalúrgico, e Bolan, o padre sem batina, se reúnem em volta da mesa
para decidir se o jogo deve ser legalizado. Calazans, o publicitário,
quer o fim da hipocrisia e a abertura do jogo em lugares como o
Nordeste.
O jogo (sempre o argumento
mais forte) traz empregos. Só o
padre é contra. Empobrece os pobres. Cria jogadores compulsivos.
"Ninguém está ferindo a moral
católica", exclama Jorge Yunes.
Umas duas pessoas citam o deserto que era Las Vegas. Empregos,
empregos, empregos. "Lavagem
de dinheiro." "O governo disse
que ia proibir o jogo de bingo."
Por que discutem? Nada resolvem. "Israel irrigou o deserto",
lembrou o padre sem batina.
Paulo Lopes achou melhor rezar uma Ave Maria. Teve um coro
aliviado.
Texto Anterior: Televisão: Minissérie traça painel dos anos 60 Próximo Texto: Memória rock and roll: Stones mataram o sonho hippie há 30 anos Índice
|