São Paulo, Segunda-feira, 06 de Dezembro de 1999


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TELEVISÃO

Paulo Lopes podia ser Sílvio Santos

TELMO MARTINO
Colunista da Folha



Cariocas um tanto antigos, que gostavam de ouvir Paulo Lopes na rádio Tupi, não acham nada estranho vê-lo, diariamente, na Band, durante 90 minutos longuíssimos de muitas tardes. Em compensação, cariocas mais recentes e bem mais ocupados mal sabem que ele existe. E perguntam que tal é essa quase celebridade. Vestido de paletó sem gravata, ele podia ser um Sílvio Santos com diploma, mas sem baú.
Como seu programa é longo, tenta ser versátil. Começa muito compungido, atendendo um pedido de "nosso maior ídolo", Roberto Carlos, para que rezássemos por sua Maria Rita tão doente. "Vamos rezar!", exclama condoído o apresentador. "Você merece isso do povo brasileiro." Paulo Lopes é muito emotivo. Será uma naturalidade do rádio ou a intimidade da televisão? Tanto faz. Oremos. "Vamos rezar, sim, nosso rei!"
Já que estamos emocionados, sejamos caridosos. Mas com humor. Paulo Lopes deu para um casal o carrinho tão desejado para vender cachorro-quente. Tanta caridade deixou todos de bom humor.
Lá vem pedrada? Vem. Paulo Lopes está horrorizado com a mania de chacina que tomou conta de São Paulo. Oito mortos na favela de Parapuy (?). "Cenas fortes essas, não?" Mr. Tarantino não achou. Sr. Lopes não gostou e frisou que, só este ano, 271 pessoas foram mortas em chacinas em São Paulo.
As coisas andam tão tensas e tristes que apareceu uma loura que acaba com depressão na massagem, com exercícios respiratórios e energia. Não existe vulto, por mais estranho que seja, que apareça sem a autorização do Paulo Lopes. Ele é o poderoso. Não cansa de avisar que ainda se falará na legalização do jogo. Será para prender a audiência da turma da roleta?
Numa boa idéia, surgiu o Peninha, cantor e compositor que agora faz sucesso popular. Mostra o último disco e elogia a foto do Fernando Lousa. Um gaúcho repentista elogia o Peninha com versos totalmente desajeitados.
É importante dizer que o programa do Paulo Lopes também ajuda os aflitos. Uma mãe com o filho desaparecido mostra a foto dele e pede notícias. Outra senhora vive problema semelhante. "Foram sequestrados?" Ninguém diz nada.
Finalmente o grande momento. Jorge Yunes, Marcos Calazans, Luiz Antônio Medeiros, o metalúrgico, e Bolan, o padre sem batina, se reúnem em volta da mesa para decidir se o jogo deve ser legalizado. Calazans, o publicitário, quer o fim da hipocrisia e a abertura do jogo em lugares como o Nordeste.
O jogo (sempre o argumento mais forte) traz empregos. Só o padre é contra. Empobrece os pobres. Cria jogadores compulsivos. "Ninguém está ferindo a moral católica", exclama Jorge Yunes. Umas duas pessoas citam o deserto que era Las Vegas. Empregos, empregos, empregos. "Lavagem de dinheiro." "O governo disse que ia proibir o jogo de bingo." Por que discutem? Nada resolvem. "Israel irrigou o deserto", lembrou o padre sem batina.
Paulo Lopes achou melhor rezar uma Ave Maria. Teve um coro aliviado.



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